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Pietro Baruselli: Tecnologias em reprodução e nutrição para produzir mais e melhor - Noticiário Tortuga

Pietro Baruselli: Tecnologias em reprodução e nutrição para produzir mais e melhor

Estação de monta bem definida é chave para tornar a cria mais eficiente no país

 Mylene Abud

Na pecuária de corte, a cria é a base para um rebanho de qualidade. E uma Estação de Monta bem definida, aliada à nutrição adequada e ao uso de tecnologias reprodutivas, é essencial para tornar essa atividade mais eficaz. “A importância da cria se dá tanto em termos de eficiência genética quanto reprodutiva. Este é o momento para introduzir a genética de qualidade nos rebanhos e aumentar o número de bezerros produzidos por matriz”, afirma o pesquisador e professor Pietro Sampaio Baruselli, do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).

Em entrevista ao Noticiário, ele fala sobre os gargalos da atividade e defende o uso da Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF) para elevar a atual produção média de 0,6 bezerros por matriz por ano para níveis internacionais. “Mas, além de quantidade, é preciso que os bezerros nasçam com qualidade genética. E isso é obtido com o uso de tecnologia. Há 18 anos, inseminava-se só 5% do rebanho. Hoje, chegamos a 16%, um crescimento de cerca de 300%. Mas precisamos melhorar ainda mais esses números”, adverte Baruselli que, além de médico-veterinário, é mestre e doutor em Reprodução Animal pela USP.

Noticiário – A cria é a porta de entrada da pecuária. Qual a importância dessa atividade para o melhoramento genético do rebanho?
Pietro Baruselli – Para você ter uma ideia, há 170 milhões de hectares de pastagens no Brasil e, destes, 120 milhões de hectares (70%) são ocupados pela atividade de cria. A agricultura do País, por exemplo, ocupa 70 milhões de hectares, praticamente metade do que é utilizado pelo gado de cria. A importância da cria se dá tanto em termos de eficiência genética quanto reprodutiva. Este é o momento para introduzir a genética de qualidade nos rebanhos e aumentar os bezerros por matriz, principalmente por Inseminação Artificial (IA). No Brasil, atualmente, apenas 16% dos acasalamentos são feitos por IA. Em 84%, as fêmeas são cobertas por touros e, deste percentual, cerca de 90% dos reprodutores não têm avaliação genética.

A boa notícia é que estamos melhorando esses índices a cada ano. Mas, além de aumentar a produção de bezerros em quantidade, é preciso que eles nasçam com qualidade genética. E isso é obtido com o uso de tecnologia. Há 18 anos, inseminava-se só 5%. Hoje, chegamos a 16%, um crescimento de cerca de 300%. Mas precisamos melhorar ainda mais esses números.

Noticiário Tortuga – Como deixar a cria mais eficiente no País?
Pietro Baruselli – A questão é multifatorial e depende da interação de vários processos, em que a nutrição é muito importante, incluindo a oferta de forragem de qualidade e uma boa mineralização. Estudos realizados em conjunto entre a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP e a DSM, demonstraram os efeitos positivos da mineralização de qualidade (orgânica ou quelatados) com a suplementação de vitaminas, como betacaroteno e biotina, para otimizar a eficiência reprodutiva. Ao lado da nutrição, a sanidade (para evitar perdas reprodutivas, abortos etc.), a vacinação do rebanho e a utilização de programas de reprodução assistida, via sincronização, permitem que as fêmeas emprenhem mais cedo com o auxílio da tecnologia.

No Brasil, a grande maioria dos processos de IA são feitos via IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo). Essa tecnologia é sinônimo de eficiência reprodutiva, pois permite que as fêmeas emprenhem mais cedo e proporciona a introdução facilitada de genética no rebanho. Cerca de 50% das vacas inseminadas com esta técnica emprenham já no primeiro dia da Estação de Monta com sêmen de touros que possuem alto valor genético. O resultado desses acasalamentos são bezerros em quantidade e, principalmente, com qualidade, frutos do melhoramento genético.

Noticiário Tortuga – Estamos nos aproximando do período das águas e do início da Estação de Monta. Por que a EM é fundamental para a pecuária moderna?
Pietro Baruselli – Em primeiro lugar, pela oferta de forragens com o início das águas. A melhor nutrição das vacas melhora a capacidade reprodutiva. Em segundo lugar, porque organiza o trabalho de reprodução nas propriedades. Um período curto de EM otimiza o processo. Os lotes parindo juntos permitem comparar os números para que o pecuarista possa selecionar os animais por produtividade. Consequentemente, a comercialização também ocorre de forma concentrada e pré-estabelecida. E a Estação de Monta definida ainda otimiza a mão de obra e colabora para a seleção de animais dos grupos contemporâneos.

Infelizmente, esse ainda é um dos gargalos da atividade, porque menos de 50% das propriedades fazem a Estação de Monta. Todas as fazendas modernas e tecnificadas têm uma EM bem definida, no período das águas, mas há uma grande parte de pequenos produtores que precisa de ajuda, de associações, cooperativas ou de entidades governamentais, para se inserirem nesse processo. Quem tem escala, anda sozinho. Quem não tem, precisa de apoio porque, sem investimentos em tecnologia, a atividade pode não se sustentar.

Noticiário Tortuga – Como calcular a lotação para manter o rebanho saudável não apenas na EM, mas durante todo o ano?
Pietro Baruselli – Esse é outro gargalo: ajustar a quantidade de animais pela oferta de pastagem da propriedade. Se errar nessa equação da lotação de animais por hectare, as vacas ficam com menor oferta de alimentos, o que compromete a nutrição e a condição corporal. O animal emagrece, o que é péssimo para a eficiência reprodutiva. A média nacional é de um animal (450 kg) por hectare. Mas há variações de 0,5 a cinco animais/ha. Para decidir, cada pecuarista deve levar em conta as particularidades de cada região, como qualidade do solo e capacidade de produção de forragem, para esse ajuste. Mas não pode passar do ponto.

Noticiário Tortuga – O que os pecuaristas devem considerar para decidir entre a monta natural e a Inseminação Artificial?
Pietro Baruselli – São vários os aspectos. Primeiro, é preciso verificar se a propriedade tem estrutura para trabalhar os animais: capacidade para a divisão das pastagens, formando lotes específicos para serem inseminados, centro de manejo com tronco coberto para a contenção dos animais etc. Depois, garantir uma boa nutrição e mineralização. E, ainda, ter capacidade gerencial e administrativa, porque o investimento de hoje só será colhido daqui a 18 meses. A boa notícia é que vários estudos demonstram que cada R$ 1 investido em IATF possibilita um ganho de R$ 4,50 em relação à monta natural. Então, desde que o pecuarista tenha as condições mínimas necessárias para investir nessa tecnologia, ele terá muito retorno e valor agregado para a propriedade.

Noticiário Tortuga – O sr. continua vendo a IATF como um caminho sem volta para a otimização da pecuária? 
Pietro Baruselli – Com certeza! E cada vez mais! O Index da Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) do 1º semestre de 2020 mostra que, mesmo durante a pandemia, houve um crescimento de 31% do mercado de IA em bovinos no País. Desses procedimentos, a grande maioria é de IATF. A cada 100 doses de sêmen comercializadas, 87% estão associadas a protocolos de Inseminação Artificial em Tempo Fixo. Para se ter uma ideia, no ano passado, foram realizados 16,4 milhões de procedimentos de sincronização, que movimentaram o mercado de trabalho com a participação de cerca de 4.500 especialistas que prestam serviços ao produtor em todo o Brasil. Ou seja, a IATF, além de otimizar a reprodução e inserir o melhoramento genético no rebanho, ainda gera valor e proporciona a inclusão tecnológica dos produtores.

Noticiário Tortuga – Quais as novas tendências de trabalho e pesquisas na área da reprodução?
Pietro Baruselli – Com mais de 20 anos de estudos, a IATF continua evoluindo e avançando, com cálculos econômicos e eficiência muito bem estabelecidos. Também estão sendo pesquisados novos produtos relacionados à sincronização, para otimizar os processos com produtos cada vez mais seguros no âmbito da biossegurança. Há, ainda, pesquisas referentes à qualidade genética do sêmen para a maior fertilidade e à interação de todos esses processos com sanidade, nutrição e bem-estar animal no momento dos procedimentos reprodutivos.

Noticiário Tortuga – Para terminar, o que ainda precisa ser feito para melhorar a organização da reprodução no Brasil?
Pietro Baruselli – Levar mais informações ao produtor para ajudá-lo na tomada de decisão. Os resultados das pesquisas e dos estudos têm que chegar aos produtores que desconhecem a existência de todo esse pacote tecnológico. Serviços de extensão rural, a exemplo do que faz o próprio Noticiário Tortuga e a DSM, cumprem esse papel de informar adequadamente o produtor. Também é importante incentivar a capacitação técnica dos especialistas em reprodução para garantir a eficiência de todo o processo na fazenda, avaliando corretamente o manejo do rebanho, a nutrição adequada, a seleção das fêmeas que emprenharam etc. A atividade de cria vem melhorando no Brasil, mas ainda precisa ser aperfeiçoada. Os Estados Unidos, responsáveis pela maior produção mundial de carne, registram uma média de 85 bezerros produzidos por 100 matrizes em reprodução, enquanto no Brasil essa média é de 60 bezerros por 100 matrizes, em um rebanho que tem, atualmente, cerca de 90 milhões de fêmeas, entre vacas e novilhas em crescimento. Mas a boa notícia é que os nossos pecuaristas que usam tecnologia já estão atingindo níveis internacionais de alta eficiência.

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