Queda no preço do bezerro atinge 36% em menos de 2,5 anos

Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador da Equipe de Pecuária do Cepea

Os preços do bezerro estão em movimento de queda desde meados de 2021. A pressão sobre os valores vem sobretudo da maior oferta, resultado de avanços no uso de tecnologias para produção (como genética e inseminação, especialmente de 2020 a 2022) e, consequentemente, do aumento da produtividade. Neste caso, produtores, estimulados pelos elevados patamares de negociação da arroba bovina e pela aquecida demanda internacional pela carne brasileira, elevaram os investimentos no setor.

Além disso, foi verificada uma maior retenção de matrizes entre 2020 e 2021 (vacas adultas e novilhas), justamente no intuito de se recuperar a produção.

Tomando-se como base a série histórica deflacionada do Indicador do Bezerro ESALQ/BM&FBovespa (animal nelore, de oito a 12 meses, Mato Grosso do Sul), iniciada em 2001, é possível observar quatro grandes períodos de pico e de vale dos preços dos animais de reposição. E o momento atual é o que vem apresentando a queda mais intensa no preço em um menor período de tempo.

O primeiro período de pico no preço do bezerro foi registrado em março de 2002, quando o Indicador atingiu R$ 1.812,40/cabeça. Posteriormente, houve uma forte queda no valor de negociação do animal, que chegou a 38,1% até o mês de janeiro de 2006, quando foi registrada a menor média real de preço, considerando-se toda a série histórica do Cepea. Esse primeiro período de pico e vale teve, portanto, três anos e dez meses.

O segundo período foi observado entre julho de 2008 e agosto de 2012 – quatro anos e um mês –, quando o Indicador do Bezerro atingiu R$ 2.090,8/cabeça e caiu para R$ 1.551,28, respectivamente, ou seja, baixa de 25,8%. Já de maio de 2015 a setembro de 2018, a série de dados do Cepea deflacionada mostra retração de 34,9% no preço do bezerro – em um período de três anos e quatro meses, com o animal jovem saindo de R$ 2.785,69 e caindo para R$ 1.814,86.

Neste período atual, podendo ser caracterizado pelo quarto momento de pico e vale (este ressalta-se, ainda não definido), que vai de abril/21, o bezerro apresenta expressiva desvalorização de 36%, quando, inclusive, o Cepea registrou o maior preço da série histórica – R$ 3.330,03 –, ao atual de R$ 2.128,21, que é a média da parcial de agosto (até o dia 18).

Além da maior oferta de animais, como já citado, esse atual cenário de desvalorização do bezerro se deve também ao consumo ainda tímido do mercado doméstico e aos preços externos da carne mais pressionados. Um fator sazonal, como a chegada do período de desmama, quando há maior volume de bezerros disponíveis, principalmente entre os meses de abril e junho, também reforça o movimento de queda no preço.

Nesse cenário, colaboradores do Cepea relatam em determinadas regiões do País a dificuldade de se repassar lotes completos de bezerros a preços maiores, seja em leilões, seja em vendas diretas entre pecuaristas.

Parte dos agentes de mercado acredita que os valores do animal de reposição sigam enfraquecidos até o encerramento do próximo ano, fundamentados nos fortes investimentos do setor, principalmente no mercado de genética e inseminação de matrizes – em 2022, foram inseminadas 23,5% do rebanho de matrizes de corte, contra 26% em 2021, de acordo com o Index Asbia/Cepea. Mesmo com essa queda, o percentual de inseminação está elevado e evidencia que ainda haverá volume maior de animais no próximo ano.

O que pode frear o atual ritmo de queda nos preços do bezerro é um possível reaquecimento das exportações brasileiras de carne (vale lembrar que o volume escoado em julho pelo país foi o menor para o mês em quatro anos), assim como uma melhora no consumo interno ao longo de 2023 e, também, em 2024.

Fonte: Cepea-Esalq/USP | Elaboração: Cepea-Esalq/USP

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