Quando você se comunica bem, as oportunidades aparecem

Quando você se comunica bem, as oportunidades aparecem

“Mulheres que se comunicam bem se tornam mais autoconfiantes. E mulheres autoconfiantes conseguem se posicionar no mundo de forma muito mais forte e autêntica.” A fala é da treinadora comportamental Clara Niquini que, antes de se dedicar à comunicação, trabalhou no agro no setor sucroalcooleiro. 

Engenheira-agrônoma e mãe da Maria e da Lívia, Clara percebeu a importância da comunicação clara, segura e autêntica ao migrar, na empresa que trabalhava, para a área de planejamento estratégico dos fornecedores de cana. “Meu trabalho exigia diálogo com grandes fornecedores e, ao mesmo tempo, apresentações estratégicas para a diretoria. Eu precisava ser não apenas persuasiva, mas também empática, equilibrando os interesses de todos os lados”, conta ela, que, começou, aos poucos, a fazer uma transição de carreira que transformou a sua trajetória. “Percebi que minha missão era maior do que o agro: era ajudar pessoas a destravarem seu potencial através da comunicação.” 

Acompanhe a seguir a entrevista de Clara Niquini dirigida especialmente às mulheres do agro.

Pecuária Delas – Você é engenheira-agrônoma, teve uma carreira importante no mundo agro e, agora, dedica-se à comunicação. Conte um pouco da sua história.

Clara Niquini – Eu me formei em Engenharia Agronômica e iniciei minha carreira no interior de São Paulo, atuando em uma grande indústria do setor sucroenergético. Fui responsável pela área de tratos culturais, liderando um time de aproximadamente 60 operadores em três turnos. Na época, a presença feminina nesse setor era mínima—eu tinha apenas três ou quatro mulheres na equipe (e, curiosamente, elas eram as mais caprichosas). Entre os meus 12 colegas de cargo, éramos apenas duas mulheres. Esse cenário me levou a escolher como tema da minha pós-graduação em Gestão Estratégica do Negócio a pesquisa sobre “A situação atual da mulher no mercado de trabalho no setor sucroenergético”.

Ainda dentro da empresa, migrei para a área de planejamento estratégico dos fornecedores de cana. Foi nesse momento que percebi o impacto da comunicação na minha trajetória. Meu trabalho exigia diálogo com grandes fornecedores e, ao mesmo tempo, apresentações estratégicas para a diretoria. Eu precisava ser não apenas persuasiva, mas também empática, equilibrando os interesses de todos os lados. Isso me levou a estudar a fundo a comunicação. Fiz diversos cursos, mergulhei no autoconhecimento, me aprofundei em ferramentas de análise de personalidade e me tornei Master Practitioner em PNL (Programação Neurolinguística). 

Vi profissionais extremamente competentes perderem espaço por não conseguirem se expressar com clareza e impacto. E, também, vi profissionais não tão bons subirem de cargo por se comunicarem bem. A verdade é que, quando você se comunica bem, as oportunidades aparecem, é inevitável. Foi então que comecei a compartilhar esse conhecimento. Dei treinamentos internos para minha equipe e outras áreas da empresa. Os resultados foram notáveis: o clima organizacional melhorou, a performance das pessoas evoluiu e, consequentemente, a empresa colheu melhores resultados. O que começou como um interesse pessoal, tornou-se uma paixão. Percebi que minha missão era maior do que o agro: era ajudar pessoas a destravarem seu potencial através da comunicação. Com isso, tomei a decisão de me desligar da empresa para me dedicar integralmente a treinamentos corporativos e ao desenvolvimento de profissionais que querem se destacar por meio da comunicação.

Pecuária Delas – Quais foram os principais desafios que você enfrentou como mulher no agro?

Clara Niquini – O maior desafio foi o preconceito. Mas ele não vinha de forma escancarada—era sutil, disfarçado em pequenas atitudes do dia a dia. Um operador que fazia perguntas apenas para testar meus conhecimentos, um colega que ignorava minhas ideias, um gestor mais receptivo às sugestões dos meus pares do que às minhas. Nada explícito, mas presente.

No entanto, nunca encarei isso como um impedimento. Pelo contrário, usei como combustível para fazer a diferença. Estamos falando de 10 anos atrás e, felizmente, o cenário tem evoluído. Hoje, há mais mulheres no agro e muitas empresas já reconhecem o valor da diversidade, priorizando a contratação de mulheres. Isso é um grande avanço.

O que não podemos fazer é nos acomodar ou nos colocar no papel de vítima. Sempre tive um forte senso de autorresponsabilidade e, diante de qualquer obstáculo, me pergunto: “O que EU posso fazer apesar disso?” O preconceito existe? Sim. Mas o que está ao meu alcance para seguir em frente? Foi com essa mentalidade—assumindo as rédeas do que eu posso controlar—que consegui crescer na carreira, primeiro no agro e, hoje, como treinadora comportamental.

Pecuária Delas – Como lidou com esses desafios? Contou com a ajuda de algo ou de alguém?

Clara Niquini – Tive boas pessoas ao meu lado nessa jornada. Trabalhei com excelentes gestores e em empresas que me deram espaço para migrar de área e, sem saber, “treinar” os meus treinamentos. Também encontrei amigos que me apoiaram, especialmente na transição de carreira, que foi o momento de maior medo e incerteza.Mas, acima de tudo, agi com muita autorresponsabilidade. Nunca esperei as oportunidades surgirem—eu as criava. Os treinamentos que ofereci na empresa, por exemplo, não foram iniciativa de ninguém além de mim. Eu ia atrás, conversava com os gestores, “vendia meu peixe” e mostrava a importância da comunicação. E, claro, à medida que os resultados apareciam, um gestor indicava para outro, o que facilitou muito esse caminho. No fim das contas, contar com boas pessoas fez diferença, mas assumir o controle do que estava ao meu alcance foi o que realmente transformou minha trajetória.

Pecuária Delas – Por que você decidiu trabalhar com comunicação e os temas de bem-estar e saúde mental? 

Clara Niquini – Decidi trabalhar com comunicação porque acredito que ela é um caminho para um mundo melhor. Se as pessoas soubessem se comunicar de forma clara e respeitosa, os conflitos—sejam grandes, como guerras, ou pequenos, como desentendimentos no trabalho e na família — seriam muito menos frequentes. Grande parte dos problemas que enfrentamos vêm de uma comunicação falha, agressiva ou excessivamente passiva.

Além disso, percebo como o mundo está adoecendo. As pessoas vivem ansiosas, preocupadas com a opinião alheia, com medo de julgamentos. E a comunicação é uma ferramenta essencial para se libertar desses males. Primeiro, aprendemos a nos comunicar internamente — nos entendendo, nos respeitando — e, a partir disso, conseguimos nos expressar com naturalidade em qualquer situação. Seja dentro de casa, para dizer um “não” com firmeza, seja no trabalho, para vender uma ideia, um produto ou até para se posicionar melhor e conquistar oportunidades, como uma promoção. Enxerguei essa necessidade no mundo e uni isso ao meu conhecimento, ajudando pessoas a se comunicarem melhor e, consequentemente, a viverem de forma mais leve, confiante e realizada.

Pecuária Delas – A comunicação clara, segura e autêntica está ligada à autoconfiança feminina?

Clara Niquini – Com certeza! A comunicação clara, segura e autêntica está diretamente ligada à autoconfiança feminina. Para se expressar com clareza e segurança, sem medo de julgamentos, é essencial ter confiança em si mesma. Por isso, antes mesmo de focar na assertividade, eu trabalho a autoconfiança das pessoas. Se você não acredita no que está dizendo ou tem receio da reação dos outros, sua comunicação será hesitante, confusa ou até passiva.

E o mais interessante é que esse processo funciona como um ciclo: à medida que você fortalece sua autoconfiança, sua comunicação melhora. E conforme você se comunica melhor, se sente ainda mais confiante. É um efeito multiplicador. Mulheres que se comunicam bem se tornam mais autoconfiantes. E mulheres autoconfiantes conseguem se posicionar no mundo de forma muito mais forte e autêntica.

Pecuária Delas – Que conselho você daria para as mulheres que trabalham com o agro e têm o desafio de equilibrar as diferentes demandas da rotina pessoal e profissional?

Clara Niquini – Meu conselho se resume a três pilares essenciais: clareza, diálogo e decisões.

Clareza: antes de qualquer coisa, tenha clareza sobre o que você quer para a sua vida e quais são suas prioridades. Sem isso, você pode acabar dizendo “sim” para tudo e se sobrecarregando. Quando você tem clareza, fica mais fácil tomar decisões alinhadas com o que realmente importa, dizer “não” sem culpa e criar oportunidades que te aproximem dos seus objetivos.

Diálogo: nada é óbvio. E mesmo quando parece óbvio, precisa ser dito. Quantas vezes já houve retrabalho ou frustrações porque alguém não comunicou algo claramente? Isso vale para a empresa e para a vida pessoal. Se algo te incomoda, se precisa de apoio, se quer que algo mude, diga. O diálogo é essencial para estabelecer limites, esclarecer expectativas e construir relações mais equilibradas.

3. Decisões: essa é a parte mais difícil porque exige coragem. Se você sente que está em um lugar que não te valoriza, tome uma decisão. Mas atenção: isso não significa sair buscando uma empresa que atenda a todas as suas vontades. Significa ser madura o suficiente para avaliar o que faz sentido para você, fazer sua parte (e talvez um pouco além), e então agir. A responsabilidade pela sua vida é sua. Se algo não está bom, o que você pode fazer a respeito?

Pecuária Delas – Que mulher é uma inspiração para você, profissional ou pessoalmente?

Clara Niquini – Eu tive o privilégio de encontrar grandes inspirações dentro da minha própria família. Minha mãe, uma mulher visionária, sempre me mostrou a importância de enxergar além do óbvio e construir caminhos para aquilo que desejamos. Minha avó materna, inteligentíssima e extremamente dedicada, me ensinou o valor do conhecimento e da persistência. E minha avó paterna é um verdadeiro exemplo de determinação—ela se formou com 83 anos! Isso é a prova de que nunca é tarde para aprender e evoluir.

Além delas, admiro profundamente mulheres que alcançaram grandes feitos sem abrir mão da autenticidade e dos seus valores. Um nome que me vem à mente é Cristina Junqueira, que construiu um império e, ao mesmo tempo, se mantém sensata, bem-humorada e acessível. Admiro mulheres que não apenas conquistam espaço, mas fazem isso sendo quem realmente são. Luiza Helena Trajano, pelo olhar humano e pela forma como revolucionou o varejo no Brasil sem perder sua essência, também é uma grande referência. E, claro, todas as mulheres do agro, agricultoras que souberam transformar desafios em oportunidades e abriram caminhos para outras mulheres no setor.

Acredito que a verdadeira inspiração vem de diferentes fontes das mulheres que vieram antes de nós, das que estão ao nosso lado e das que moldam o futuro.

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