Visão de médio e curto prazo na fazenda de cria: foco no escore de condição corporal e na próxima estação de monta

Juan Fernando Morales Gómez
Consultor Técnico Comercial dsm-firmenich

O objetivo de toda fazenda de cria é garantir que cada matriz produza um bezerro desmamado e pesado por ano. O zootecnista Antônio Chaker, do Instituto Inttegra, destaca que o principal indicador da pecuária de cria é o peso em kg de bezerro desmamado por matriz exposta na estação de monta. Este índice é o resultado da soma de outros indicadores produtivos importantes, como as taxas de prenhez, natalidade, mortalidade e desmama, além da perda pré-parto e do peso ao desmame (Figura 1). Esse principal índice da pecuária de cria está diretamente relacionado ao sucesso produtivo e financeiro da fazenda. Na safra passada, a média das fazendas avaliadas no Programa de Gestão da DSM foi de 149,0 kg de bezerros desmamados por matriz exposta na estação de monta, enquanto nas fazendas TOP rentáveis essa média foi de 154,5 kg (Benchmarking Tortuga Programa de Gestão – Safra 2023/2024).

Para melhorar esse indicador, o primeiro passo é aumentar a taxa de prenhez das matrizes. Seja em fazendas que utilizam a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) ou aquelas que optam pela monta natural (touro), o foco deve ser elevar a taxa de prenhez na primeira inseminação ou durante o começo da estação de monta, respectivamente. Isso é especialmente importante para reduzir o intervalo entre partos e concentrar os nascimentos no início da estação de parição, garantindo o chamado “bezerro do cedo”, que geralmente é mais saudável e apresenta maior peso ao desmame.

O principal indicador relacionado ao sucesso da estação de monta é o Escore de Condição Corporal (ECC) das matrizes. O ECC pode ser avaliado em uma escala de 1 a 5 ou de 1 a 9, que está diretamente ligada ao status nutricional da matriz. As menores notas na escala são atribuídas a animais com ossatura visível e pouca musculatura, indicando uma possível restrição alimentar que está resultando em perda de peso ou ganho limitado. Por outro lado, as maiores notas correspondem a animais com boa musculatura e, principalmente, elevada deposição de gordura em várias áreas anatômicas (como ponta da cauda, peito e costela). Ambos os extremos, tanto a condição inadequada quanto a excessiva, geram perdas produtivas e financeiras, além de reduzir a eficiência reprodutiva das matrizes.

A relação entre o ECC e a taxa de prenhez está bem documentada na literatura científica e confirmada na prática. Matrizes com ECC entre 2,75 e 3,50 costumam apresentar melhores resultados em comparação com aquelas nos extremos da escala. No entanto, não é apenas o ECC no momento da inseminação que importa, mas também se a matriz está em balanço energético positivo, ganhando peso e melhorando esse escore. Em geral, matrizes que entram na estação de monta ganhando peso, mesmo com um ECC baixo, mostram melhores resultados de taxa de prenhez em comparação com aquelas que mantêm ou perdem ECC (Vasconcelos et al., 2017). Portanto, é fundamental avaliar e monitorar esse índice das matrizes em diferentes épocas do ano, especialmente durante manejos rotineiros, como a desmama, ou em transições climáticas, como o início da estação das chuvas ou da seca. Isso permite ajustar as estratégias nutricionais e de manejo para alcançar os melhores resultados produtivos e reprodutivos.

Para realizar um planejamento nutricional e operacional assertivo de curto e médio prazo, a dsm-firmenich trabalha com o conceito de “Agenda Pecuária” (figura 2), implementado pelo gerente de Serviços, Marcelo Guimarães. O foco principal é compreender a agenda das matrizes em conjunto com as condições climáticas de cada época do ano, que afetam principalmente a oferta e a qualidade do pasto. Com base nessa análise, são delineadas as melhores estratégias nutricionais e de manejo para otimizar os resultados das fazendas.

O pasto é a base da nutrição para as matrizes de corte, e a escolha da estratégia nutricional deve suprir suas deficiências de qualidade e disponibilidade para atender aos requisitos nutricionais das matrizes. Além da avaliação do ECC, para entender o status nutricional, é importante também avaliar o escore de fezes. Na prática, as fezes dos animais refletem o funcionamento e a saúde do rúmen, fatores diretamente relacionados à saúde geral do animal e ao seu desempenho produtivo.

O escore de fezes é uma avaliação visual da aparência, textura e tamanho do bolo fecal dos animais, e é diretamente influenciado pelo manejo e pela nutrição. Alterações na composição da dieta, especialmente em relação à fibra, proteína, carboidratos, gordura e aditivos, afetam o escore de fezes. A avaliação do escore de fezes é feita em uma escala de 1 a 5, onde a nota “1” corresponde a fezes muito líquidas (diarreia), a nota “5” a fezes muito secas, e a nota “3” a fezes semissólidas e pastosas. Para mais detalhes sobre o escore de fezes, recomendo a leitura da edição anterior do noticiário Tortuga, intitulada “A Importância da Correta Suplementação na Transição Águas-Seca”, escrita pelo consultor técnico Jhonata Fernandes.

Durante a transição da estação das águas para a seca e ao longo de todo o período seco, é comum observar que as fezes das matrizes se tornam mais secas, firmes e com formato de bolacha ou aneladas. Isso está principalmente relacionado ao aumento da fibra do pasto (especialmente lignina) e à diminuição do seu nível de proteína. Essa alteração na qualidade nutricional do pasto reduz a taxa de passagem do alimento, resultando em fezes com nota 5 e, frequentemente, em perda de peso e de ECC. Por esta razão, as estratégias nutricionais para as matrizes durante essa época devem focar em fornecer fibra de qualidade, um aporte mineral adequado e um nível de proteína apropriado para maximizar o aproveitamento do capim seco. Esse aporte proteico pode ser feito por meio de suplemento mineral ureado ou de suplementos minerais proteicos.

A escolha da estratégia nutricional deve considerar não apenas a época do ano, a qualidade e a disponibilidade do pasto e o Escore de Condição Corporal (ECC), mas também a categoria da matriz. Nas fazendas de cria, podemos encontrar diferentes categorias de matrizes: vacas multíparas (com mais de dois partos),  secundíparas (com dois partos), primíparas (com um parto), novilhas nulíparas (entre 18 e 24 meses de idade) e “superprecoces” (de 12 a 16 meses de idade). Cada uma dessas categorias possui requerimentos nutricionais distintos. Para otimizar o desempenho produtivo e reprodutivo, é ideal elaborar um planejamento nutricional específico para cada categoria sempre que possível.

Geralmente, vacas multíparas e, em alguns casos, vacas secundíparas (dependendo da idade e se não foram desafiadas como novilhas superprecoces) têm menores requerimentos nutricionais em comparação com outras categorias de matrizes. Em contraste, as novilhas e as vacas primíparas apresentam maiores requerimentos nutricionais, já que ainda estão em fase de crescimento e desenvolvimento, especialmente em termos de minerais e proteínas.

A suplementação mineral é essencial para a saúde do animal e desempenha um papel crucial no desempenho produtivo e reprodutivo de todas as categorias de matrizes. Minerais como fósforo, cálcio, selênio, cromo e zinco, entre outros, estão associados a melhorias no desempenho reprodutivo. É importante optar por minerais que ofereçam alta biodisponibilidade e melhor absorção pelo animal. Além disso, ao considerar a suplementação proteica, podemos utilizar fontes de proteína verdadeira como farelo de soja, farelo de amendoim e DDGS. Também é possível incluir fontes de nitrogênio não proteico, como a ureia pecuária, para explorar o potencial do rúmen do animal na produção de proteína microbiana. Para matrizes secundíparas e multíparas com acesso adequado a capim durante a época seca, a suplementação com mineral ureado pode ser eficaz para manter ou melhorar o ECC. No entanto, para categorias com maior exigência nutricional, é necessário fornecer um aporte adicional de proteína verdadeira para garantir o crescimento e o desenvolvimento. Assim, a suplementação mineral proteica se torna essencial durante a seca para atender às necessidades dessas categorias.

Algumas estratégias nutricionais mais intensivas têm sido aplicadas na pecuária de cria, entre as quais se destaca o “sequestro de vacas”. Esta abordagem visa a concentrar as vacas em uma área limitada, onde são oferecidos volumosos à vontade, como feno, silagem ou pré-secado, juntamente com suplementação mineral proteica. O objetivo é atender a todos os requisitos nutricionais dessas matrizes durante o pré-parto e/ou pós-parto. Além dos benefícios diretos para a manutenção ou melhoria do ECC das matrizes, essa estratégia também oferece benefícios indiretos. Ela pode influenciar positivamente a programação fetal do bezerro, que está no último terço da gestação, e o desenvolvimento do bezerro após o parto. Adicionalmente, o manejo do pasto é otimizado, reduzindo a lotação durante períodos de seca ou transição de seca para as chuvas. Isso ajuda a preservar o capim e a promover uma boa rebrota no início da estação chuvosa.

Como consideração final, a palavra que os pecuaristas precisam adotar com mais frequência na pecuária de corte é “planejamento”. Estabelecer um planejamento estratégico para os próximos anos é essencial para direcionar a atividade e aproveitar as oportunidades do mercado, especialmente para aqueles que desejam manter uma pecuária eficiente e lucrativa. No entanto, o planejamento estratégico deve ser mais do que uma ideia no papel; é fundamental que seja complementado por um planejamento tático e operacional detalhado. Isso inclui a definição clara da estratégia nutricional para cada categoria animal e em cada época do ano, junto com avaliações de ECC, escore de fezes e indicadores produtivos.

Na pecuária de cria, para alcançar sucesso e melhorar os índices produtivos e financeiros, o foco deve ser a manutenção da saúde e do ECC das matrizes ao longo do ano, com atenção especial durante o período seco e a estação de monta. Embora os desafios climáticos da época seca sejam bem conhecidos, poucos pecuaristas se preparam adequadamente para minimizar seus impactos na produção.

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