Uso de adsorventes nas rações de bovinos confinados

Alexandre Perdigão
Analista de Inovação e Ciência Aplicada da DSM

Com a intensificação do sistema de produção de bovinos, alguns problemas relacionados à deterioração dos alimentos fornecidos na ração podem prejudicar a saúde dos animais. E esses  problemas podem causar distúrbios e impactar o sistema imunológico, o desempenho e, consequentemente, aumentar os custos da produção.

Estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO (2015) sugerem que cerca de 25% da produção agrícola mundial apresenta algum grau de contaminação por micotoxinas. Levantamentos realizados por Custódio et al. (2019) e Horn et al. (2014) encontraram uma alta incidência de contaminação por micotoxinas em amostras de milho, silagens de milho, subprodutos de amendoim e rações destinadas ao consumo animal.

Os fungos e as micotoxinas podem estar presentes nos alimentos e esta questão se torna importante em relação às dietas de confinamento. Se as perdas relacionadas às micotoxinas em rações animais fossem dimensionadas, a gama de perdas econômicas seria enorme no Brasil (Jobim et al., 2001).

As micotoxinas são substâncias produzidas naturalmente por fungos e, geralmente, são uma forma de defesa dos microrganismos (Jouany, 2001). A maioria dos alimentos naturais é suscetível a essa contaminação. O crescimento do fungo costuma ser estimulado por fatores ambientais, como alta temperatura e umidade, tanto pré quanto pós-colheita (Binder et al., 2007). No entanto, a produção de toxinas depende de fatores como competição microbiana, disponibilidade de nutrientes e estrutura do substrato, atividade de água, pH, temperatura, umidade relativa do ar, presença de insetos e aplicação de fungicidas e pesticidas (Anfossi et al., 2016).

Todavia, a ocorrência de crescimento de fungos no alimento não indica a presença de micotoxinas (Cheeke e Shull, 1985). A colheita tardia pode agravar a produção de micotoxinas na lavoura porque, quanto mais tempo o grão permanece no campo, mais suscetível a fatores de estresse ele se torna (Duncan et al., 1994). Além disso, o armazenamento inadequado de grãos ou forragens também pode permitir o crescimento de fungos e micotoxinas (Motta et al., 2015). De acordo com Santos e Fink-Gremmels (2014), o problema de micotoxinas pode estar relacionado à pré-colheita na infestação em cereais e grãos por espécies toxinogênicas de Fusarium, bem como contaminação pós-colheita de materiais armazenados / ensilados por Penicillium (P. roqueforti e P. carnosum a.o.) e espécies de Aspergillus. Assim, a contaminação pode ser evitada por meio de boas práticas de armazenamento, mas é difícil garantir que todo o material proveniente do campo
esteja livre de contaminação.

Os efeitos gerados pelas micotoxinas em animais dependem de quantidade, tempo de exposição e ação sinérgica (Smith e Korosteleva, 2010). Esses efeitos podem ser distúrbios reprodutivos, imunológicos e de desempenho (Mallmann et al., 2009). A maioria dos estudos de micotoxinas avaliou seus efeitos em animais monogástricos, uma vez que esses animais são mais suscetíveis aos efeitos tóxicos das micotoxinas em comparação com ruminantes. Em ruminantes, o prejudicial efeito da micotoxina pode ser menos agressivo, porque os microrganismos ruminais podem inativar alguns desses compostos (Upadhaya et al., 2010).

No entanto, não são todas as micotoxinas que são inativadas no rúmen e, além disso, podem afetar os microrganismos ruminais devido ao seu efeito antibiótico (Fink-Gremmels, 2008), e outros podem ser transformados em produtos mais perigosos que a micotoxina. De acordo com Marczuk et al. (2012), algumas micotoxinas têm propriedades antibacterianas, elas modificam a microflora ruminal e minimizam os efeitos desintoxicantes da digesta ruminal.

Uma consequência séria das micotoxinas pode estar relacionada a produtos de origem animal, como carne, leite e ovos, que podem conter resíduos desses compostos e prejudicar a saúde humana (Bruerton, 2001). Assim, é importante estudar os aspectos higiênicos e a qualidade sanitária dos alimentos usados na dieta do gado, e como estes impactam a saúde, o desempenho e a qualidade do produto final.

Em um levantamento com 30 confinamentos (Custódio et al., 2019, Figura 1), verificou-se que 34,5% dos confinamentos apresentaram presença de micotoxinas nas rações, sendo os ingredientes mais frequentemente contaminados silagem de milho, milho e subprodutos. A principais micotoxinas encontradas na TMR foram as fumonisinas (mais frequentemente), tricotecenos A,  ricotecenos B, ácido fusárico, aflatoxinas e ergot (Figura 2).

Dessa forma, a melhor maneira de evitar a contaminação seria através do manejo adequado da cultura, de forragens ou subprodutos, e seu armazenamento. No entanto, como isso nem sempre é possível, existem outras estratégias que podem ser adotadas quando a ração já está contaminada, como o uso de adsorventes nas dietas. O uso de adsorventes em rações é uma estratégia que pode reduzir a absorção de micotoxinas pelos animais, uma vez que esses compostos contêm substâncias e complexos com toxinas, evitando que sejam absorvidas no trato gastrointestinal, formando um complexo adsorvente-micotoxina que é eliminado nas fezes (Yiannikouris e Jouany, 2002).

Custódio et al. (2020), avaliando o desempenho de bovinos Nelore confinados, comparando ração naturalmente contaminada com menor carga de micotoxinas, e uma ração contaminada de forma exógena com maior carga de micotoxinas, encontraram reduções no ganho de peso e eficiência alimentar, corroborando que o efeito das micotoxinas também está associado ao grau de contaminação do alimento ingerido.

O uso de adsorventes é a chave para manter a saúde e o desempenho animal em condições em que a TMR está contaminada e apoiar o rúmen na função de barreira intestinal, além de assegurar uma boa função hepática. Os produtores deveriam considerar o uso de aditivos para rações que suportem a função de barreira intestinal, neutralizem as endotoxinas no intestino, melhorem a digestibilidade e promovam o consumo de alimento. Encontrar a solução correta pode exigir uma combinação personalizada de aditivos em função das necessidades específicas do produtor.

Recentemente, a DSM adquiriu a Biomin, empresa especializada em nutrição e saúde animal do Grupo Erber, que é especializada principalmente em gestão de risco de micotoxinas e gestão de desempenho de saúde intestinal. Identificar o adsorvente de toxinas ou desativador de micotoxinas correto requer uma compreensão de sua operação, da contaminação da ração, da condição dos animais e de seus objetivos. Procure um de nossos representantes e escolha a opção que oferece a melhor relação custo-benefício e gera um verdadeiro retorno sobre o investimento (ROI).

REFERÊNCIAS
ANFOSSI, L.; GIOVANNOLI, C. & BAGGIANI, C. 2016. Mycotoxin detection. Current Opinion Biotechnology, 37:120–126.

BINDER, E. M. et al. 2007. Worldwide occurrence of mycotoxins in commodities, feeds and feed ingredients. Animal Feed Science and Technology, 137:265-282.

BRUERTON, K. 2001. Finding practical solutions to mycotoxins in commercial production: a nutritionist’s perspective. In: Proceedings of the Alltech’s 17th Annual Symposium, Queensland, Australia, 161:8.

CHEEKE, P. R. & SHULL, L. R. 1995. Natural Toxicants in Feeds and Poisonous Plants. Westport: AVI Publishing, 492 p.

CUSTÓDIO, L. et al. Mycotoxin contamination of diets for beef cattle finishing in feedlot. Revista Brasileira de Zootecnia, [s. l.], 2019.

CUSTODIO, L. et al. Mycotoxin-contaminated diets and an adsorbent affect the performance of Nellore bulls finished in feedlots. Animal, [s. l.], 2020.

DUNCAN, H. E. et al. 1994. Lack of fungicidal control of Aspergillus flavus in field corn. In.: L. W. Whitlow and W. M. Hagler Jr. Mycotoxins in feeds (Eds.) Weekly newspaper in Agribusiness, p.28.

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations.

FAO Cereal Supply and Demand Brief. 2015.

FINK-GREMMELS, J. 2008. Mycotoxins in cattle feeds and carryover to dairy milk: A review. Food Additives & Contaminants, 25:172-180.

HORN, M.B. et al. Qualidade de silagens de milho para gado leiteiro produzidas na Região Sul do Brasil quanto às micotoxinas. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 2, Ed. 251, Art. 1664, Janeiro, 2014.

JOBIM, C. C.; GONÇALVES, G. D. & SANTOS, G. T. 2001. Qualidade sanitária de grãos e de forragens conservadas ―versus‖ desempenho animal e qualidade de seus produtos. IN: Simpósio Sobre Produção e Utilização de Forragens Conservadas. Anais… Maringa: p. 242-261.

JOUANY, J. P. The impact of mycotoxins on performance and health of dairy cattle. In: Alltech’s 17th Annual Symposium. Proceeding, 191–222, 2001.

MALLMANN, C.A. et al. 2009. Mycotoxin: impacts and control strategies. In: International Symposium on Forage Quality and Conservation. Proceedings… São Pedro: p. 269-280.

MARCZUK, J. K. et al. 2012. Zearalenone and deoxynivalenol mycotoxicosis in dairy cattle herds. Polish Journal of Veterinary Sciences 15:365-372 MOTTA, T. et al. 2015. Estudo sobre a  ocorrência de fungos e aflatoxina B1 na dieta de bovinos leiteiros em São Paulo. Pesquisa Veterinária Brasileira, 35:23-28.

SANTOS, R. R., & J. FINK-GREMMELS, J. 2014. Mycotoxin syndrome in dairy cattle: characterisation and intervention results. World Mycotoxin J. 7: 357-366.

SMITH, T. K. & KOROSTELEVA, S. N. 2010. The significance of feedborne mycotoxins in ruminant nutrition. In: Goncalez E, Felicio JD, Aquino S. (Eds.). Mycotoxicoses. In: Animals  conomically
Important, Hauppauge: Nova Science Publishers, p. 35-66.

UPADHAYA, S. D.; PARK, M. A. & HA, J. K. 2010. Mycotoxins and their biotransformation in the rumen: a review. Asian-Australasian Journal of Animal Sciences, 23:1250-1260.

YIANNIKOURIS, A. & JOUANY, J. P. 2002. Mycotoxins in feeds and their fate in animals: a Review. Animal Research, 51:81-99.

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