Teka Vendramini: O olhar aguçado feminino tem muito a contribuir com o agro.

Uma das referências do setor no país, a atual presidente da SRB e da Farm/Mercosul dá voz aos produtores rurais, incentiva a participação dos jovens e destaca a importância da agricultura familiar e do cooperativismo

Mylene Abud

Presente na primeira lista das “100 Mulheres Poderosas do Agro”, divulgada no segundo semestre pela Revista Forbes, a pecuarista Teresa Vendramini, a Teka, faz parte da terceira geração de uma família que há 80 anos atua no agro brasileiro. E, em 2020, ela se tornou a primeira mulher a assumir a presidência da Sociedade Rural Brasileira, entidade centenária fundada por barões do café.

Formada em Sociologia, a paulista, natural de Adamantina, acabou atendendo ao chamado do campo e entrou naturalmente no agro, assumindo o legado da família. “Quando entrei no negócio, comecei a me aprofundar, a estudar, a visitar outras propriedades, a participar de seminários, buscando informação consistente para uma boa gestão da fazenda”, conta ela, que também gerencia propriedades rurais em Flórida Paulista (SP) e em Mato Grosso do Sul, com foco em melhoramento genético, qualidade de pastagem, sanidade, preservação ambiental e bem-estar animal.

Essa vontade de se informar e de conhecer a fundo o setor a levou a dirigir o Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), primeira associação de mulheres do Agro Brasil, fundado em 2010. A ficar à frente de projetos, como o programa Agroinspiradoras, no Canal Rural. Até chegar à SRB, primeiro como diretora de Pecuária e, na sequência, como presidente.

Nesse tempo, promoveu debates, palestras e workshops para capacitação de pecuaristas em todas as regiões do País e levou a debate temas como o papel do produtor para o avanço do setor, novas tecnologias, gestão, negócios e sustentabilidade. “Trabalho para os produtores rurais e existem pautas muito relevantes que precisam ser debatidas, como regularização fundiária, conectividade, infraestrutura e logística, gestão, sustentabilidade e agricultura familiar. Faço o papel de mediar esse diálogo e de unir todos os elos, porque acredito em uma ação conjunta: governo, entidade e setor privado”, afirma.

Em outra iniciativa inédita, Teka Vendramini também foi eleita a primeira mulher presidente da Federação das Associações Rurais do Mercosul (FARM). “É um grande desafio representar o Brasil nesta pauta ainda tão complexa, mas tenho como objetivo sempre levantar o agronegócio brasileiro dentro de uma agenda positiva entre os nossos parceiros comerciais”, conta ela. Afinal, o olhar aguçado feminino tem muito a contribuir.

Noticiário Tortuga – Recentemente, a revista Forbes publicou a lista “100 Mulheres Poderosas do Agro”, com nomes que estão transformando diversos segmentos do setor. Como é estar neste rol e qual a importância da lista para dar visibilidade à liderança feminina no agro?
Teka Vendramini – É sempre bom o reconhecimento, mas gosto de dizer que estamos construindo um agronegócio mais tecnificado e sustentável juntos, homens e mulheres. Claro que ainda precisamos de mais mulheres nestas rodas de conversa, com poder de decisão, mas estamos avançando. O olhar aguçado do público feminino tem muito a contribuir.

Noticiário Tortuga – Na sua opinião, quais as principais características femininas em termos de liderança e gestão?
Teka Vendramini – Liderança, resiliência, comunicação de maneira positiva e muita responsabilidade.

Noticiário Tortuga – A sra. é formada em Sociologia e empreendeu no setor têxtil antes de se dedicar ao campo. Como foi trilhar esse caminho de volta às origens? E o que trouxe de sua área de formação para o agronegócio?
Teka Vendramini – Minha família é de produtores rurais há mais de 80 anos. Então, para mim é natural essa posição. Apesar da minha formação, chegou um momento em que foi preciso assumir o legado da minha família. Na hora em que entrei de fato no negócio, comecei a me aprofundar, a estudar, a visitar outras propriedades, a participar de seminários, buscando informação consistente para uma boa gestão da fazenda. Foi quando recebi o convite do Marcelo Vieira – presidente da SRB de 2017 a 2020 – para integrar a diretoria da entidade. Aceitei o desafio de montar um departamento de pecuária dentro da entidade. E o trabalho que desenvolvi neste período abriu caminho para a posição atual.

Noticiário Tortuga – A sra. foi presidente do NFA, comandou o projeto Agroinspiradoras no Canal Rural e é a primeira mulher a assumir a centenária SRB. Quais os principais desafios e diferenciais da sua administração?
Teka Vendramini – Trabalho para os produtores rurais. Viajo muito, ando muito por esse Brasil, gosto de ouvir os produtores e aprendo muito com eles. Existem pautas muito relevantes que precisam ser debatidas, como regularização fundiária, conectividade, infraestrutura e logística, gestão, sustentabilidade e agricultura familiar. Faço o papel de mediar esse diálogo e de unir todos os elos, porque acredito em uma ação conjunta: governo, entidade e setor privado. Não acredito em ações isoladas, sem envolver todas as partes.

Noticiário Tortuga – Fale um pouco sobre o seu trabalho na associação no âmbito da inclusão e diversidade, com o objetivo de dar voz não apenas às mulheres, mas também à juventude.
Teka Vendramini – Dentro da SRB, temos o departamento Rural Jovem. Muito bom ver a juventude frequentando as reuniões de uma entidade tradicional como a SRB. É a inovação, o pensar fora da caixa, um olhar necessário para o agronegócio. É somar, é incentivar, é levar o jovem para o campo e promover a sucessão familiar – algo tão desafiador para muitos produtores.

Noticiário Tortuga – Como integrar os pequenos produtores, que representam aproximadamente 80% do contingente de empreendimentos rurais do País, em um setor que demanda cada vez mais tecnologias de ponta e aumento de produtividade?
Teka Vendramini – A agricultura familiar desempenha um papel fundamental. Além da geração de emprego e renda para centenas de famílias, são esses produtores os responsáveis pela cesta básica do brasileiro. Segundo o IBGE, no censo de 2017, 80% do feijão, 34% do arroz, 87% da mandioca e 60% do leite produzidos no Brasil vêm do pequeno produtor. Para atender às novas demandas do consumidor e de uma agricultura mais sustentável, precisamos levar capacitação e tecnologia para esses produtores. Por isso, é preciso de incentivo à extensão rural e ao cooperativismo, que tem um importante papel no Brasil no desenvolvimento da agricultura familiar.

Noticiário Tortuga – Em mais uma iniciativa inédita, a sra. também é a primeira mulher à frente da Federação das Associações Rurais do Mercosul (FARM). Como está sendo este novo desafio?
Teka Vendramini – Sim, sou a primeira mulher a ocupar esse cargo em 26 anos de entidade. Um grande desafio representar o Brasil nesta pauta ainda tão complexa, mas tenho como objetivo sempre levantar o agronegócio brasileiro dentro de uma agenda positiva entre os nossos parceiros comerciais.

Noticiário Tortuga – Como avalia o atual momento da pecuária brasileira e a busca pela sustentabilidade?
Teka Vendramini – A pecuária brasileira é sustentável. Avançamos muito. A nossa produtividade cresceu 159% nos últimos 30 anos. Para ter ideia, em 1990, produzimos 1,6 arrobas por hectare e, em 2020, passamos a produzir 4,2 arrobas por hectare. Em algumas propriedades, esse número é ainda maior. Isso tudo graças à adoção de novas tecnologias de produção e reprodução. A área de pastagem reduziu 13% nas últimas três décadas. Claro, temos muito a avançar, especialmente na recuperação de áreas degradadas, mas estamos caminhando para isso.

Noticiário Tortuga – Para finalizar, qual a importância da nutrição animal e das tecnologias na pecuária moderna para intensificar a produção em qualidade e quantidade e ajudar na preservação do meio ambiente?
Teka Vendramini – Nossa pecuária é a pasto, uma característica que por si só já é bastante sustentável. Isso traz bem-estar animal e fixação de carbono no solo. O desafio é o produtor aprender a manejar bem o pasto e evitar a degradação. Temos ainda o Código Florestal, o mais rigoroso do mundo, que vai recuperar mais de 34 milhões de hectares de reserva legal em propriedades rurais. Dois aspectos que nenhum país possui. Agora, podemos avançar mais: a pecuária 4.0, a gestão do rebanho, as boas práticas de manejo e as tecnologias de reprodução vão ajudar a produzir mais usando cada vez menos área, tirando, assim, a pressão por abrir novas áreas.

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