Setor agropecuário do país é um dos pilares para a recuperação da economia brasileira e tem a missão de fornecer alimentos para o mundo
Mylene Abud
A produção e a exportação de proteínas será um dos principais pilares para a recuperação da economia brasileira. A opinião é do renomado pesquisador Sérgio De Zen, atual diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para quem o setor agro será o primeiro a crescer no pós-pandemia.
Engenheiro-agrônomo formado pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado em Economia Aplicada, De Zen foi professor da tradicional Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), diretor-presidente da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ) e, antes de chegar à Conab, atuou como assessor especial no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Criador do índice de preços do Boi Gordo do Cepea (ESALQ/USP), Sérgio De Zen fala, em entrevista ao Noticiário, sobre os atuais desafios do setor frente à pandemia e destaca o papel-chave do Brasil em produzir e fornecer alimentos para o mundo.
Noticiário – Neste ano, o sr. passou a integrar os quadros do Ministério da Agricultura, assessorando a ministra Tereza Cristina. Depois, foi para a Conab. Quais os principais desafios no novo cargo?
Sergio De Zen – Assumi, primeiro, o cargo de assessor especial. Agora, assumi a Diretoria de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab. A experiência de viver todos estas situações é muito rica, especialmente estar contribuindo com a ministra, uma excelente gestora, uma pessoa de grande responsabilidade e dedicação ao serviço público.
Noticiário – Esses desafios se acentuaram com a pandemia de Covid-19?
Sergio De Zen – A pandemia trouxe uma situação totalmente nova e desconhecida. Todos estão de olho na saúde, mas a produção e a distribuição de alimentos é o grande desafio. Viver isso, acompanhar a gestão do sistema todo está sendo uma experiência única. Lembrando que nosso sistema já foi testado ao extremo, cito, como exemplo, o que ocorreu com o leite longa vida. No primeiro final de semana da crise, as vendas foram oito vezes superiores às vendas normais. Mesmo assim, não ocorreu desabastecimento.
Noticiário – Fale um pouco sobre os trabalhos do Comitê de Crise (CC Agro-Covid 19), criado no fim de março pelo ministério, com o objetivo de minimizar os impactos da pandemia na produção agrícola e no abastecimento de alimentos à população.
Sergio De Zen – Isso significa estar vivenciando um “stress “ contínuo. Como se, a cada minuto, houvesse um novo desafio a ser vencido. A ministra criou um grupo de trabalho e dividiu o problema em três fases: imediato, médio prazo e longo prazo. E todas são igualmente importantes. Se não vencermos o hoje, não teremos o amanhã; se não vencermos o amanhã, não chegaremos ao futuro.
A gestão envolveu, acima de tudo, garantir a confiança. O gestor foi o secretário Eduardo Sampaio, que mostrou extrema capacidade para conhecer o Estado brasileiro. A ministra sabe escalar o time, criar metas e cobrar resultados. Ela sempre ressaltou o valor do produtor, daqueles que estão na frente da produção, do trabalhador que não pode parar. A ministra sempre deixou claro para todos que a vida está acima de tudo, e isso envolve oferecer alimentos.
Noticiário – Ano passado, as exportações brasileiras de carne bovina quebraram recordes, registrando o valor de US$ 7,59 bilhões e volume exportado de 1,8 milhão de toneladas. Quais as expectativas para 2020 diante do novo cenário?
Sergio De Zen – O Brasil tem sido o grande responsável pela segurança alimentar do mundo. O País conseguiu abrir muitos mercados e colhe os frutos disso. As exportações estão caminhando muito bem. Acredito que a produção e a exportação de proteínas será um dos pilares da recuperação da economia brasileira.
Noticiário – Apesar da retração prevista para o PIB, segundo o Banco Central, a agropecuária brasileira deve crescer 2,9% em 2020. Na visão do BC e de alguns especialistas, a economia brasileira sofrerá um “recuo acentuado” no segundo trimestre, seguido de um “retorno relevante” na segunda metade do ano. O sr. concorda com essa avaliação?
Sergio De Zen – A agricultura não parou e não pode parar pelo risco que isso representa para a segurança alimentar. Nesse contexto, fica fácil explicar que a agricultura será o único setor que não vai deixar o PIB encolher mais e será o primeiro a ter crescimento no pós-pandemia.
Noticiário – A rápida recuperação da China pode ajudar nesse processo?
Sergio De Zen – A China se recuperar não significa que ela terá crescimento enquanto não tiver a recuperação da Europa e dos EUA, que são os grandes compradores de seus produtos. O Brasil é o grande provedor de alimentos ao mundo e, como a China precisa comprar alimentos, vai buscar o nosso fornecimento.
Noticiário – O sr. acompanhou a ministra Tereza Cristina em viagens ao exterior. Como está o processo de consolidação de parcerias e a prospecção de novos mercados?
Sergio De Zen – A ministra tem feito o possível para criar mercado para os produtos brasileiros, mostrando a face confiável e segura do Brasil como provedor de alimentos – tanto na quantidade como na qualidade. Ela traçou uma estratégia de sucesso.
Noticiário – Como estão as negociações para o retorno das importações de carne in natura brasileira pelos EUA?
Sergio De Zen – Estavam caminhando, mas foram atropeladas pela pandemia. Como a indústria da carne nos EUA foi mais afetada que a brasileira, temos boas chances de sucesso no futuro.
Noticiário – Para a pecuária moderna e para intensificar a produção no cenário atual, qual a importância da nutrição animal e das tecnologias aplicadas?
Sergio De Zen – A nutrição é um investimento essencial para a sustentabilidade da competitividade do Brasil frente a outros produtores.
Noticiário – Que mensagem o sr. gostaria de deixar para os pecuaristas brasileiros nesse momento?
Sergio De Zen – Acreditar, acreditar e …acreditar. A pandemia é transitória. Tomar as medidas preventivas, ter calma e muita responsabilidade. Vamos voltar a crescer, e todos voltarão à vida normal.