Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador do CEPEA / Esalq – USP
Garantia de oferta no segundo semestre, melhor acabamento de carcaça, sistema que “libera” espaço na fazenda para outras categorias animais, reforço à segurança alimentar e instrumento de gestão das escalas da indústria são alguns benefícios proporcionados pelos confinamentos. É um sistema de produção incorporado à pecuária brasileira e que tem sido gerido, predominantemente, com estratégia econômica bem afinada – nem sempre ao alcance de produtores que mantêm o rebanho a pasto.
Dados do Censo dsm-firmenich de Confinamento mostram que o volume confinado nos últimos anos cresceu a taxas bem menores que o rebanho a pasto. No ano passado, por exemplo, ficou claro que o encarecimento do boi magro e dos grãos em 2022 e em parte de 2023 conteve o ânimo da expansão dos lotes confinados.
O aumento do rebanho (planejado) nos confinamentos de 2021 para 2022 foi de 3%; já em 2023, de apenas 1%, sendo estimado em cerca de sete milhões de cabeças. No mesmo período, o volume de gado a pasto abatido avançou com mais força. Considerando-se dados do IBGE sobre o abate total e descontando-se a parcela confinada, o rebanho a pasto abatido aumentou quase 7% de 2021 para 2022, e 21,3% no ano passado.
Com esses ritmos distintos, a participação dos confinados no total abatido diminuiu. Em 2021, atingiu a representatividade máxima de 24,5%, baixou para 23,8% em 2022 e se limitou a 20,6% no ano passado, a menor taxa dos últimos quatro anos.
É preciso destacar que o patamar recente, por volta de sete milhões de cabeças confinadas, é significativamente maior que o de alguns anos atrás. A intensificação da demanda da China a partir de 2018 fez o volume confinado quase dobrar – aumento de 83%.
A habilitação recente de mais 24 frigoríficos – somando 65, de bovinos, habilitados a exportar para a China – deve ser observada com cautela pelos produtores. Cálculos da nossa equipe Cepea, considerando diferentes cenários de crescimento da produção de carne chinesa, apontam percentual bem modesto de aumento das importações de carne bovina daquele país em 2024 e 2025 – assunto a ser detalhado em outra ocasião.
Animais confinados no Brasil e percentual no total de abates de 2018 a 2023.
Movimentações Regionais
Goiás foi o estado onde os animas de confinamento tiveram maior representatividade no abate total do ano passado: 36,8%. É, também, o estado onde houve menor diminuição do volume confinado entre 2021 (ápice dos preços do boi) e 2023.
Mato Grosso, que concentra o maior rebanho do país e, ainda, a maior produção de grãos, lidera também em cabeças confinadas. O Censo dsm-firmenich aponta que foram 1,47 milhão de cabeças em 2023. Neste estado, um em cada quatro animais abatidos saiu de confinamento (24,8%). Em 2021 e 2022, foram 30%.
Animais confinados, abatidos e participação de confinados nos abates estaduais
São Paulo, que se mantém como referência de formação de preço no País, concentrou o segundo maior rebanho confinado, com 1,19 milhão de cabeças. No abate total do estado, a oferta de confinamentos correspondeu a 31,8%. Em 2021, chegou a representar 40%.
Com a maior quantidade de frigoríficos habilitados a exportar para a China, São Paulo se destacou nos últimos anos como grande fornecedor de animais para aquele mercado, o que inclusive estimulou a indústria a buscar animais mais jovens e prontos em outras regiões para abate nas plantas paulistas.
Evolução da participação de animais confinados no abate nos cinco principais estados confinadores, de 2018 a 2023.
Produtividade do Rebanho
Os confinamentos têm puxado para cima o peso médio dos animais abatidos, sejam eles machos ou fêmeas. Em São Paulo, o avanço do novilho foi significativo, de 20% nos últimos seis anos, com a média saindo de 250 para 300 quilos, segundo dados do IBGE.
Importante salientar que, em 2022, essa produtividade de novilho chegou a 310,15 quilos, sendo superior à do boi gordo (307,64 kg) naquele ano.
A novilha também chama a atenção. No estado de Goiás, por exemplo, atingiu a produtividade de 224,68 kg/animal, maior índice entre os cinco estados que mais confinam, aumento de 8,52% frente a 2018.
Produtividade média (kg/animal) de novilho e novilha nos anos de 2018 e 2023.
Neste ano, com os preços da arroba em queda e sem sinalização de recuperação consistente no mercado futuro, confinadores poderiam repetir o comportamento de cautela. Porém, cálculos do Cepea considerando o boi magro e o milho nos patamares atuais e a venda do animal terminado em outubro (B3) sinalizam que a rentabilidade no período aproximado de 100 dias beiraria os 9%. Esse rendimento, combinado ao custo fixo das estruturas já implantadas, por fim, esboçam um cenário mais otimista quanto ao volume confinado em 2024.