Produção animal e o desafio da sustentabilidade

Rodrigo Costa
Gerente Técnico Dairy Latam DSM

A produção animal se tornou muito eficiente nos últimos anos. Tal fator tem levado à produção de alimentos saudáveis, com custos cada vez mais acessíveis para a maioria da população. O  consumo per capita de proteína animal tem crescido nos últimos anos em todo o mundo. Não obstante, há que se considerar que ainda existem bolsões de miséria.

Há um claro aumento no poder de compra de alimentos pela população em geral. E o aumento no poder aquisitivo tem originado novos tipos de consumidor. Existe aquele que não quer o uso de químicos e transgênicos na produção do seu alimento, o que quer saber qual o nível de conforto e bemestar dos animais e o que tem interesse no impacto ambiental gerado pela produção do seu alimento.

Não basta produzir, a produção animal deve ter sustentabilidade social, econômica e ambiental. A produção animal sustentável não é mais apenas para um nicho de mercado, mas sim uma necessidade. Conceitos e tecnologias de sustentabilidade trazem alta eficiência para o processo produtivo de forma concreta, direta e sinérgica a outras práticas tecnológicas já aplicadas.

O uso de práticas e ferramentas para aumentar o número de vacas produtivas em um rebanho é um ótimo exemplo de como a sustentabilidade traz retorno direto e positivo para uma fazenda leiteira. A utilização de aditivos para aumentar a eficiência alimentar (produção sobre consumo de matéria seca) e aproveitar os nutrientes da dieta é uma prática sustentável e eficiente. A suplementação com nutrientes que promovam a melhor saúde dos animais que, por consequência, serão mais longevos, diminuindo a necessidade de reposição e a manutenção de grandes grupos improdutivos na propriedade, é também uma prática sustentável e eficiente.

DESEMPENHO REPRODUTIVO E ELIMINAÇÃO DE METANO
A busca por diminuição na eliminação de metano e carbono neutro na produção animal tem sido um dos principais objetivos de organizações e países, alguns com a proposta de pegada de carbono zero até 2050. Nesse sentido, a DSM desenvolveu uma molécula chamada Bovaer (3-NOP), que promove a diminuição de pelo menos 30% na eliminação de metano pelos bovinos de leite, bovinos de carne e ovinos, sem trazer nenhum risco à produtividade dos animais.

No entanto, tecnologias e manejos que promovam a eficiência produtiva e reprodutiva têm relação direta com a diminuição da eliminação de gases de efeito estufa. Uma vaca mais produtiva, embora possa eliminar mais metano por dia, dilui sua emissão por litro de leite produzido. Ou seja, uma vaca com produção de 40 litros de leite por dia elimina mais metano do que uma vaca de 20 litros, porém a emissão por litro de leite é menor. A mesma comparação pode ser feita entre uma vaca com 20 litros e uma vaca seca.

Um dos grandes problemas que afetam a lucratividade dos rebanhos leiteiros é o longo intervalo de partos observado em muitas propriedades. Um intervalo de partos de 16 meses em um rebanho em que as vacas têm lactação de 300 dias significa que somente 60% das vacas adultas produzindo leite. Isso gera perdas econômicas importantes e leva a uma maior eliminação de metano por litro de leite produzido. A diminuição do intervalo de partos de 16 para 12 meses promove maior produção de leite pelo aumento proporcional de vacas em produção e, consequentemente, menor eliminação de metano por litro de leite produzido. Uma vaca seca, apesar de eliminar menos metano que uma vaca em produção, não está produzindo leite. E a permanência nessa condição além do tempo adequado gera perdas econômicas e aumenta o impacto ambiental.

Assim, o uso de técnicas e ferramentas para melhorar o desempenho reprodutivo aumenta o rendimento econômico da propriedade pela maior produção de leite e diminui a eliminação de metano no ambiente. Ou seja, a sustentabilidade é fundamental para a produtividade e rentabilidade de uma fazenda leiteira. O uso de suplementos, como betacaroteno, vitamina E, zinco, selênio e cobre promovem o ótimo desempenho reprodutivo, tornando a propriedade mais eficiente e ambientalmente mais amigável.

EFICIÊNCIA ALIMENTAR
Eficiência alimentar é mais que aumento na produção de leite ou de carne. É a medição da capacidade de transformação de alimentos de baixo valor biológico em alimentos de alto nível nutricional. O simples aumento de produção pode não ser sustentável, uma vez que é oriundo de aumento significativo de consumo de matéria seca. Existem tecnologias que promovem esse efeito, que são os moduladores de fermentação ruminal, enzimas e combinações, que levam ao aumento da produção animal, sem alterar o consumo de matéria seca.

Além disso, a eficiência alimentar está relacionada com a menor eliminação de dejetos e contaminantes no meio ambiente. Em alguns países, tem sido reportado que nutrientes, como fósforo e nitrogênio, suplementados em excesso ou com fontes de baixa disponibilidade, são eliminados. Apesar de serem ótimos fertilizantes, esses nutrientes em excesso podem causar contaminação do solo e da água, sendo fatores que limitam a produção animal em determinados locais.

A investigação feita por Klingerman (2009), em relação ao uso de enzima amilolítica (RumiStar™) em vacas no período de lactação, demonstra como a tecnologia na nutrição animal pode reverter esse impacto ambiental. Houve aumento na produção de leite em proporção maior que o aumento no consumo de matéria seca. Esse fator indica melhor aproveitamento dos nutrientes ingeridos pela vaca e isso foi proporcionado pelo uso da enzima, resultando em benefício econômico e ambiental. Houve, nesse caso, maior produção e menor perda.

A eutrofização tem causa antropogênica e está relacionada com a intensificação da produção e o uso intenso de elementos com alto potencial produtivo, como nitrogênio e fósforo. Apesar de também serem nutrientes importantes para o solo, sua eliminação além da capacidade de assimilação gera contaminação. Áreas ao redor de unidades produtivas intensivas e sem controle adequado de dejetos são sensíveis ao nitrato gerado a partir da eliminação excessiva de nitrogênio no meio ambiente.

A primeira solução encontrada é diminuir a suplementação desses nutrientes. No entanto, existe risco de perda produtiva em função dessa prática. Além disso, cria-se o mito de que a produção sustentável não pode ser eficiente.

A eficiência de produção promove maior racionalidade no uso de recursos naturais. A fixação de nutrientes também é algo que sustenta o desempenho produtivo e o respeito ao meio ambiente. Estudo realizado na Universidade de Nottingham (Inglaterra) com a suplementação de um blend de óleos essenciais (CRINA) evidenciou que, além da maior eficiência alimentar, houve menor eliminação de nitrogênio no meio ambiente, diminuindo o risco de eutrofização na água.

A diminuição diária de excreção de nitrogênio em 100 gramas por dia durante a lactação representa 30 kg a menos por vaca. Em um rebanho de 200 vacas, a diminuição na eliminação seria de seis toneladas por lactação. Em função dos riscos de contaminação ambiental, existem propostas para o pagamento do leite em função do nível de nitrogênio ureico no leite para a diminuição dos riscos de eutrofização.

De maneira geral, os exemplos citados comprovam que não existe dicotomia entre produção eficiente e produção sustentável. A produção eficiente é sustentável ambientalmente, economicamente e socialmente, uma vez que se caracteriza por uso pleno dos recursos disponíveis. Produção sustentável é também produção eficiente.

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