Mesmo para uma época tão desafiadora, ferramentas, como manejo e tecnologias nutricionais, contribuem para a lucratividade do negócio
Mylene Abud
Todos os anos, os produtores rurais precisam driblar diversas variáveis para se manterem competitivos em suas atividades de forma sustentável. Ao lado das instabilidades econômicas, as condições climáticas também preocupam, como a maior ou menor ocorrência de chuvas e a presença de fenômenos como El Niño e La Niña, por exemplo. Mas como se preparar para o período mais temido para o agronegócio, que é a seca? A resposta não é segredo para ninguém: planejamento é o ponto-chave. E o ideal é que o pecuarista se programe com antecedência para a fase de estiagem, de preferência ainda no período das águas.
“Na seca, há muito pouco ou quase nenhum crescimento dos pastos, por isso é preciso ter uma reserva de forragem para utilizar em pasto diferido ou colher algum volumoso, na forma de feno, silagem. É extremamente importante ter consciência, fazer esse planejamento para alimentar os animais. É palavra de ordem, porque a seca já está aí”, adverte o pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) de Colina, Gustavo Siqueira.
A afirmação é reforçada por Guilherme Sene, Consultor Técnico da DSM, que sugere como primeiro passo a categorização do estoque de rebanho e a definição de estratégias alimentares para cada uma dessas categorias. “Assim, o produtor consegue visualizar os animais que devem ser retirados antes do início do período de seca (vacas descarte, animais pesados ou próximos ao peso de abate, entre outros), lançando mão de estratégias nutricionais específicas ainda no período chuvoso e aproveitando a maior qualidade e quantidade de forragem desta fase para produzir uma arroba a um menor custo. Dessa forma, além de reduzir a pressão de pastejo para o período da seca, obtém-se maior receita”, afirma.
Dentro do planejamento forrageiro, explica, o diferimento de parte das áreas de pastagem é o principal procedimento a ser adotado antes do término das chuvas, a fim de que o rebanho tenha forragem disponível durante toda a seca. “Recomenda-se um pastejo prévio de nivelamento da área, buscando melhorar a qualidade do banco de forragem que se formará, bem como a adubação nitrogenada no início do diferimento, que possibilitará maior acúmulo de forragem para a seca”, orienta.
Além disso, é aconselhável a produção de volumoso suplementar (feno, silagem e pré-secado) dentro da propriedade, uma vez que estes podem ser utilizados em estratégias nutricionais específicas, como em confinamento, “recria fechada” ou sequestro de animais. Ou ainda em eventos adversos, como queimadas de áreas de pastagem e prolongamento do período de estiagem. “O produtor pode realizar plantio de culturas específicas para silagem ou usar a produção excedente das áreas de pastagem durante o período chuvoso para a confecção de silagem ou feno, reduzindo, assim, investimentos e melhorando o aproveitamento dos recursos”, pontua Guilherme Sene.
Manejo é fundamental
Independentemente do tamanho da propriedade, o manejo é essencial para o sucesso da atividade, seja do pastejo, dos animais ou nutricional. E conta muitos pontos nos momentos mais desafiadores, como a época seca.
Segundo Guilherme Sene, além de possibilitar maior eficiência dos animais na colheita e aproveitamento da forragem no período chuvoso, o manejo dos pastos também auxilia a preparação para o período de seca. “As práticas de produção dos volumosos suplementares podem ser inseridas como forma de manejo das pastagens, evitando perdas da forragem produzida durante o período chuvoso. E o manejo de diferimento de parte das áreas de pastagens será fundamental para prover forragem ao rebanho durante o período de seca”, ensina.
Já o manejo nutricional, ainda no período chuvoso, deve incluir processos que possibilitem maior eficiência do uso da forrageira de verão e maior produtividade do rebanho. E, na seca, estratégias ajustadas de suplementação, visando ao melhor aproveitamento do banco de forragem, são fundamentais para se obter o desempenho desejado. “Isso porque, no período de seca, a qualidade da forragem reduz, exigindo suplementos, principalmente com maiores teores de proteína para melhor aproveitamento da forragem disponível”, completa.
A opinião é partilhada por Gustavo Siqueira. “O produtor precisa estar focado em se planejar, em ter sua reserva forrageira, seu volumoso, saber como vai ser feita a engorda dos animais, as categorias, as novilhas que ele vai querer inseminar no final do ano, as vacas que ele vai querer desmamar e como elas vão estar para parir. Tem que haver uma integração entre planejamento e manejo, para que a fazenda possa passar pela seca de forma mais tênue, sem grandes problemas”, afirma o pesquisador.
Suplementação estratégica
No período das secas, a suplementação do rebanho é uma ferramenta valiosa não apenas para evitar perdas, mas principalmente para manter o bom desempenho obtido durante as chuvas. E essa suplementação pode ter diferentes objetivos: estimular o consumo das forrageiras existentes ou substituir parcialmente ou totalmente a ingestão de matéria seca de forragem, em caso de indisponibilidade.
“Para os bovinos a pasto, a qualidade e a quantidade de forragem são os principais fatores que determinam o desempenho animal. No entanto, em função da estacionalidade de produção, ocorrem perdas quantitativas e qualitativas durante o período de seca. Apesar de o diferimento ser uma alternativa para garantir a disponibilidade de forragem para esta época, o material acumulado resulta em um alimento fibroso, com reduzido teor de proteína, pouco digestível e, portanto, de baixo valor nutritivo”, ressalta Guilherme Sene.
Ele explica que, com forragens de baixa qualidade, além do limite físico do rúmen, o consumo pode ser prejudicado pelo suprimento de proteína degradável (PDR), que se apresenta como fator limitante para o crescimento microbiano, comprometendo a taxa de digestão da parede celular, tornando o trânsito do alimento mais lento, e, por conseguinte, reduzindo a ingestão de forragem. “Assim, a estratégia de suplementação tem como objetivo maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem disponível”, informa.
Nesse caso, prossegue, a suplementação proteica favorece o crescimento das bactérias fibróticas, aumentando a taxa de digestão da forragem ingerida e a síntese de proteína microbiana, o que permite incrementar o consumo voluntário de forragem e ampliar a extração energética a partir dos carboidratos fibrosos da forragem.
Da mesma opinião, Gustavo Siqueira lembra que, ao contrário do que muitos falam, a suplementação nutricional do rebanho é um complemento ao pasto. “Algumas pessoas dizem que, quando se foca a suplementação, se esquece o pasto. Mas isso é uma fala errada. O segredo é ser bom manejador de pastos e saber utilizar suplementos”, assegura. Segundo o pesquisador da APTA, uma boa mineralização na época das águas, um bom proteinado na seca, mesmo que sejam básicos, se feitos de forma correta, são muito importantes. “São estratégias viáveis, interessantes e que devem ser utilizadas. O produtor não deve ter dogmas estabelecidos. Hoje, não consigo enxergar uma fazenda sem que ela utilize uma estratégia de suplementação”, constata.
Melhores estratégias nutricionais
O desempenho animal, segundo Danillo Sathler, Consultor Técnico da DSM, é função direta do consumo de matéria seca digestível. “Sabemos que o pasto na época seca possui maior nível de fibra em detergente ácido (FDA), além de aumentar a concentração de fibra indigestível (FDNi). Todo alimento com nível de FDA superior a 40% apresenta dificuldades de consumo. Dessa forma, concluímos que o pasto seco, além de reduzir nutrientes, impacta o consumo dos animais e deve ser corrigido”, assevera.
Neste período, visando à maximização do consumo, que tem correlação direta com o desempenho, recomenda-se a utilização de proteinados e proteico-energéticos. “Assim, conseguimos fornecer substrato (proteína, energia, minerais) para os microrganismos ruminais. Lembrando que a ‘fábrica’ rúmen funciona bem com teores de proteína na casa de 7%, conseguindo atender às exigências dos microrganismos, temos melhor eficiência na digestão ruminal, impactando o consumo de matéria seca”, completa.
A Tabela 1, prossegue Danillo, traz o exemplo de uma propriedade atendida pela equipe técnica da DSM e que mostra as exigências dos animais para manutenção e ganho de peso. “Com base nela, é possível direcionar produtos de acordo com o planejamento, a estratégia e a condição estrutural e de rotina da fazenda”, explica, acrescentando que cada fazenda precisa consultar o seu histórico e planejamento de ganho para definir a programação de abate.
“Visando à manutenção de ganho de peso na época seca, indicamos o Fosbovi Seca (ureado), que possui minerais na forma orgânica e ureia (20%). A prescrição usual é para vacas multíparas com bom escore de condição corporal (ECC) e boa disponibilidade de pasto, lembrando que a correlação do ECC ao parto e prenhez à primeira Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é alta”, fala Danillo.
Já para GMD moderado (200-300g), ele recomenda o Fosbovi Proteico 35 (proteinado), composto por minerais orgânicos, 35% de PB, vitamina A e opção com ou sem aditivo melhorador de desempenho (monensina).
“Caso o objetivo sejam ganhos mais expressivos na época seca ou a recuperação rápida no escore de matrizes, indicamos o Fosbovi Proteico Energético 25, que possui minerais orgânicos, 25% de PB, 67,5% de NDT e opção com ou sem aditivo melhorador de desempenho (monensina)”, observa Danillo, destacando que, à medida que se evolui a escada da suplementação, é preciso ter condições de estrutura e logística na fazenda, para atender e entregar o consumo objetivo dos produtos, considerando os requerimentos nutricionais dos animais.
Acompanhamento faz toda a diferença
Para Danillo Sathler e Guilherme Sene, é de suma importância a sinergia entre a fazenda e o consultor técnico, a fim de aproveitar ao máximo o potencial de produção forrageira, determinando, assim, a carga animal durante o ano (águas e seca) para produzir com sustentabilidade.
“Realizamos um trabalho de levantamento forrageiro da propriedade, avaliando a área efetiva empastada (AEE) e a espécie forrageira. Dessa forma, conseguimos ter dimensão da área disponível para pastejo e quais as espécies predominantes, visto que cada forrageira possui manejo (altura de entrada e saída) específico”, fala Danillo. “Como grande parte da produção forrageira ocorre no período chuvoso, na época seca trabalhamos com o excedente dessa produção. Dessa forma, o correto ajuste na carga animal para o período seco deve ser bem definido e planejado durante as águas”, prossegue.
Na tabela 2, temos um exemplo de planejamento de quais categorias devem sair da fazenda no período de transição, de acordo com a estratégia nutricional adotada.
“No exemplo acima, podemos observar que o suplemento mineral entrega aproximadamente 1,79 @ no período avaliado. Já a suplementação com proteico-energético tem potencial para 3,79 @. Dessa forma, conseguimos aumentar o número de animais que serão abatidos na fazenda durante o período de águas, facilitando o ajuste de carga para o período seco”, detalha Danillo.
E complementa: “Ao longo do período seco, é extremamente importante aferir o consumo dos lotes, para garantir o sucesso da suplementação no incremento de nutrientes que estão limitantes no pasto, a condição de escore corporal dos animais, o escore de fezes, que indica boa digestibilidade, e a estrutura do dossel forrageiro. O planejamento macro, que direciona as ações na fazenda, e a conferência da rotina estão diretamente ligados à entrega de resultado”, completa.
Abrindo a ‘caixa de ferramentas’
Com base em um bom planejamento, fica mais fácil para o produtor visualizar todas as suas possibilidades. E de usá-las de acordo com as necessidades. Entre inúmeras opções, Guilherme Sene aponta os sistemas de integração Lavoura-Pecuária ou Lavoura-Pecuária-Floresta como excelentes alternativas para garantir oferta de forragem de qualidade ao rebanho durante o período de seca. “Nesta época, após a colheita dos grãos, permanece a ‘lavoura de capim’. Os chamados ‘pastos de integração’ podem ser utilizados por todas as categorias animais, mas normalmente são mais empregados para recria e, eventualmente, para cria”, ressalta.
Já para os animais de engorda, que apresentam peso corporal elevado e comprometem a capacidade de lotação, a indicação é direcioná-los ao confinamento ou semiconfinamento. “Retirando esta categoria pesada das áreas de pastagem, otimiza-se sua eficiência produtiva. Tanto o confinamento como o semiconfinamento são utilizados como ferramenta estratégica de manejo de pastagens, uma vez que possibilitam a redução da pressão de pastejo durante o período da seca, otimizando o desempenho dos animais e a geração de receita para a propriedade”, afirma Guilherme.
Para o pesquisador Gustavo Siqueira, todas essas estratégias podem – e devem – ser utilizadas pelos produtores. “A ILP e a ILPF são extremamente importantes e que dão muita flexibilidade e viabilidade para o sistema. A integração é saudável para a fazenda do ponto de vista econômico, da diversificação, integração ao solo para os animais, para a agricultura. E usar outras opções, como o confinamento e o semiconfinamento, também é fundamental. Enxergamos isso como uma caixa de ferramentas: cada um escolhe uma específica na hora certa para corrigir um problema, e todas essas estratégias devem ser consideradas e utilizadas pelos produtores”, afirma.
Tecnologias aliadas a manejo e nutrição
A seca é realmente desafiadora, mas, como vimos, os produtores têm à sua disposição diversas estratégias e tecnologias para enfrentar esses momentos com estabilidade. E, de quebra, transformar as dificuldades em oportunidades para crescer e lucrar. Ao lado do manejo e da nutrição, uma boa gestão, o melhoramento genético do rebanho e a tecnologia são ferramentas que só têm a acrescentar dentro da porteira.
Para Gustavo Siqueira, tudo isso faz parte do tripé manejo-nutrição-planejamento. “O produtor precisa ter os cálculos na ponta do lápis. Só assim vai perceber que uma arroba produzida a pasto, onde o ganho de peso dos animais é baixo, é o pior custo que você pode ter. Não é só porque está no pasto que é barato. E o que ele deve fazer? Agregar o conhecimento, a assistência técnica da empresa, para auxiliar nesse planejamento, para que ele entenda que o custo tem que ser dado pela seguinte fórmula: o que você gastou dividido pelo seu ganho”, ensina.
No âmbito manejo, a DSM disponibiliza PRODAP Views, um conjunto de softwares completos para melhorar a gestão, a organização e o controle da rotina, auxiliando para transformar fazendas de corte em negócios cada vez mais rentáveis e sustentáveis. “O Prodap Views foi criado a partir da união do conhecimento técnico, teórico e prático de grandes especialistas de corte. Por isso, tem ferramentas essenciais para o dia a dia, como informações gerenciais, e a equipe de campo (veterinários e vaqueiros) inclui os dados coletados diretamente do local no aplicativo. Sem perda de tempo, é capaz de gerar informações para que todas as decisões da propriedade sejam baseadas em dados confiáveis e concretos”, fala Danillo Sathler.
Já nas tecnologias em nutrição, o grande diferencial da DSM citado por ele são os minerais na forma de carbo-amino-fosfo-quelato ou Minerais Tortuga. “Ligamos o íon metálico a uma fonte de carboidrato e aminoácido. Essas ligações covalentes conferem estabilidade à molécula, logo, temos melhor solubilidade e absorção das fontes de minerais”, ratifica. Essa alta biodisponibilidade permite que o animal tenha melhor eficiência em processos bioquímicos e fisiológicos e, consequentemente, melhor performance animal, seja ela produtiva ou reprodutiva.
Para validar e comprovar os benefícios da tecnologia dos Minerais Tortuga no campo, além das pesquisas científicas, os técnicos da companhia utilizam os dados do Benchmarking Corte DSM, levantamento atual que traz os resultados das fazendas de recria/engorda que utilizam a tecnologia. O programa é responsável por transformar a fazenda em números, criando referências para compreender e maximizar a lucratividade do negócio.
“A safra 2021×2022 contou com a participação de 239 fazendas, somando mais de 530 animais avaliados. Levantamos os resultados das fazendas de recria/engorda que utilizaram a tecnologia dos Minerais Tortuga e constatamos incremento de 16,3% no GMD global, um desempenho adicional de 66g/dia. Como referência para fazendas de cria, utilizamos o ‘kg bezerro desmamado/fêmea exposta’, indicador que mede a eficiência produtiva e reprodutiva do sistema de cria. E observamos incremento de 7,38% ou 10,89 kg adicionais nas fazendas com minerais Tortuga”, sustenta Danillo Sathler. Para acessar o placar do Benchmarking Corte DSM, basta acessar o link: https://www.benchmarkingtortuga.com/
Como se vê, as opções para o pecuarista de corte são muitas e não param de crescer. “A grande questão, que é a mudança da chave, é o planejamento, é a gestão. Hoje, as fazendas são empresas agropecuárias e o produtor tem que se considerar um homem de negócios, que precisa saber comprar, produzir e se proteger do mercado. Ter a cabeça mais ampla, pois os tempos são outros e os desafios cada vez maiores”, sintetiza o pesquisador científico da APTA, Gustavo Siqueira.