Quatro empresárias rurais compartilham suas experiências e desafios na pecuária de corte nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins
Simone Frotas
Consultora Técnica Comercial DSM – MA e PI
Natália Lacerda
Consultora Técnica Comercial DSM – PA
Os estados do Maranhão, Pará e Tocantins, somados, possuem um rebanho bovino de aproximadamente 31 milhões de cabeças, com mais de 90% desse efetivo com aptidão para o corte (ABIEC, 2022). Além do grande potencial pecuário, a agricultura ocupa cada vez mais espaço em propriedades, antes específicas à produção de bovinos de corte, gerando oportunidades de intensificação e uso de tecnologias. De fato, a participação feminina sempre foi presente em diversas áreas de desenvolvimento da pecuária de corte. Além de mães, esposas e filhas, elas se destacam como produtoras rurais de sucesso, com grande visão empresarial, social e sustentável nas diferentes fases de produção (cria, recria ou engorda).
O Projeto Pecuária Delas, iniciativa lançada pela DSM em outubro de 2022 justamente para divulgar e incentivar a presença das mulheres no Agro Brasil, reuniu quatro histórias inspiradoras de clientes e gestoras rurais dos importantes estados produtores citados acima, que compartilham seus desafios e falam sobre o uso de tecnologias nutricionais e ferramentas de impacto social e sustentáveis aplicadas em suas propriedades.
LEDA RESENDE
“Desafios surgirão todos os dias. Perseverança, resistência e empenho farão o resultado ser positivo.”
Leda Resende é produtora rural no Maranhão e tem a pecuária de corte no sangue. Vinda de uma família de pecuaristas, a designer de interiores está há oito anos atuando como gestora de sua propriedade de recria e engorda de bovinos. O processo de transição para a gestão da propriedade surgiu quando o pai, Miguel Resende, necessitou se ausentar da atividade para cuidar da saúde. Assim, a empresária rural se tornou os “olhos e ouvidos” do pai nas fazendas, reportando a ele todos os serviços realizados através de relatórios e fazendo com que ele, mesmo distante, se sentisse dentro dos negócios. O pai, seu principal tutor, a introduziu no mundo de negociações de insumos, bem como na compra e venda de gado. Além do pai, Leda enfatiza que os funcionários de campo tiveram grande participação em sua formação: “Os vaqueiros me ensinaram a verificar os pastos, a apartar e manejar os bois dentro do curral; com eles, aprendi o que é o trabalho árduo do campo”. Sempre procurando evoluir, capacitou-se em várias áreas do conhecimento, sendo pós-graduada pela ESALQ/USP em Agronegócio.
Sobre a dinâmica da atividade pecuária, Leda pontua que é “importante estar atualizada para ter maior discernimento na tomada de decisões. Entender as mudanças políticas e de mercado é fundamental”. A aceitação no meio rural foi o maior desafio para a produtora, que avalia ter tido dificuldades iniciais de se integrar ao meio. Porém, segundo ela, “a equipe chegou junto, me apoiou e conseguimos superar”.
As decisões tomadas por Leda são compartilhadas com seus sucessores, assim todos têm acesso às informações necessárias à gestão da propriedade. No entanto, mais do que ferramentas administrativas, Leda partilha a sua paixão: “Gostaria que meus sucessores sentissem o mesmo amor que eu sinto pelo agronegócio”. E esse amor é evidente, não somente pelos negócios, mas também pelas pessoas. A produtora fomenta várias ações sociais em sua fazenda, como: educação continuada dos funcionários; acesso a moradias personalizadas, à horta e pomar; e realização de batizados na igreja da fazenda.
A equipe DSM Tortuga, através da Consultora Técnica Comercial Simone Frotas, auxilia no fortalecimento do vínculo de pertencimento da equipe, com a realização de treinamentos técnicos. E as mesas de discussões, promovidas pela Representante Comercial Laís Moi, complementam na parte de recursos humanos, ouvindo as demandas e aconselhando os funcionários. “O relacionamento entre a equipe melhorou muito após esse trabalho”, explica Leda.
Na área da sustentabilidade ambiental, a produtora se destaca por realizar a propagação de mudas nativas da região, além de utilizar aditivos tecnológicos exclusivos da marca Tortuga. “A sustentabilidade veio para ficar, não somente na pecuária, mas em todas as áreas de nossa vida. É algo permanente”, salienta. Aos sucessores, Leda explica que o agronegócio é uma atividade familiar, que lida diariamente com a terra, que foi algo muito difícil de ser conquistado pelos pioneiros. Por isso, é importante a continuidade nas próximas gerações. À sua filha Ingrid, Leda deixa a seguinte mensagem: “Persevere, tenha paixão e dedicação. Tenha a mesma paixão que meu pai sentiu e que, hoje, eu sinto pela pecuária”.
ÉRIKA LIRA CHAVES DOS SANTOS
“Você não está só! Coloque-se próximo a pessoas que a ajudarão a superar os desafios.”
Nascida em uma família de produtores rurais, Érika Lira Chaves dos Santos é formada em Administração de Empresas e possui uma forte conexão com o campo, onde construiu intensas memórias na sua infância. É gestora de duas propriedades rurais, nas cidades de Imperatriz e Novo Bacabal, no Maranhão, nas quais atua ativamente desde 2010. A perda do pai intensificou não somente o desejo de estar à frente dos negócios, mas também a necessidade de aprender e compartilhar os ensinamentos com os seus sucessores, os filhos Ulisses e Heitor. Assim, o principal objetivo no início de sua jornada foi tornar a fazenda uma empresa rural e, nessa fase, enfrentou resistência ao uso de tecnologias no campo, bem como dificuldades no levantamento de dados gerais de suas propriedades. Porém, persistiu no caminho da gestão e buscou suporte em consultorias técnicas e na sua capacitação profissional, realizando cursos e pós-graduações na área. Quando questionada sobre as principais mudanças ocorridas desde o início de sua jornada como gestora até hoje, Erika cita: “Atualmente, eu conheço os dados zootécnicos e financeiros das minhas propriedades, e busquei realizar melhorias nas estruturas, como a adoção de curral estruturado, a utilização de praça de alimentação, a lotação rotacionada e as melhores estratégias nutricionais”. E o esforço tem dado certo! A produtora foi a terceira colocada no Circuito Nelore de Qualidade de Carcaças, na etapa de Imperatriz, em 2022.
A sucessão de todo esse trabalho já teve início com os filhos, que participam efetivamente das atividades das fazendas. Érika espera que as palavras gratidão, esforço e respeito ao próximo sejam a base de seus sucessores para o futuro. E isso também se estende a seus funcionários, cujo bem-estar é prioridade. Além de moradia, alimentação e ferramentas de segurança do trabalho, os colaboradores são incentivados a estudar, através de treinamentos técnicos, também disponibilizados pela parceria com a DSM/Tortuga, por meio da Consultora Técnica Comercial Simone Frotas. Um de seus sonhos é que, no futuro, a fazenda tenha uma igreja e uma escola para atender à comunidade local.
Com uso de energia solar nos currais, reaproveitamento de resíduos em composteiras e tecnologias nutricionais da DSM/Tortuga, Erika abre as porteiras para a sustentabilidade ambiental em suas propriedades e prevê que os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta serão os mais rentáveis e sustentáveis. “O boi a pasto sempre será a base de nossa produção”, afirma.
Ela espera que os sucessores se espelhem no exemplo do avô. “Meu pai enfrentou muitos desafios, sempre trabalhou debaixo de sol e chuva, porém, nunca desistiu”. E finaliza com a seguinte mensagem aos filhos: “Sejam gratos pelos bens que possuem, respeitem o próximo e não sejam pessoas duras, mas saibam se colocar duros quando necessário”.
Érika Lira Chaves dos Santos e Leda Resende, juntamente com outras produtoras maranhenses, fazem parte do grupo “As Fazendeiras”, iniciado em 2019, que objetiva o fomento de educação e troca de experiências entre produtoras locais. Empresa parceira do grupo, a DSM apoia diversos projetos, como a Fazendinha Kids, que acontece durante a Exposição Agropecuária de Imperatriz, promovendo inclusão social e propagando informações sobre o agronegócio brasileiro.
ELAINE MONTANHA DE ALMEIDA HOMAIDAN
“A pecuária de corte, quando executada com amor e dedicação, é impossível dar errado. Precisamos enfrentar os desafios, sem desanimar!”
Elaine Montanha de Almeida Homaidan é proprietária e gestora da fazenda Vitrine, localizada na cidade de Marianópolis/TO. Dona Elaine da Vitrine, como é conhecida na região, atua há 25 anos na pecuária de corte e é referência em uso de tecnologias na produção de cria, recria e engorda de bovinos no Tocantins. Sua história na pecuária iniciou-se na infância, no estado de Minas Gerais, onde frequentemente acompanhava o pai em atividades rotineiras da fazenda. Já adulta, dedicou-se ao setor de comércio em sociedade com o irmão, porém sempre manteve contato com a pecuária. A visão empreendedora da família levou à aquisição da primeira fazenda no estado do Tocantins, onde vislumbraram a oportunidade de investimento em terras de boa qualidade a preços acessíveis. A necessidade de entender mais sobre gestão de empresas rurais surgiu após a venda do comércio, quando todo o capital gerado foi investido na compra de bovinos e propriedades no Tocantins. “Tive que aprender tudo do zero, pois a pecuária a qual estava acostumada em Minas Gerais era totalmente diferente da pecuária no Tocantins”, conta Elaine, que se mudou definitivamente com o marido, empresário do ramo da construção, para a nova propriedade.
Focada na gestão e no desenvolvimento estrutural da fazenda, ela sempre prezou por qualidade na execução dos serviços e na escolha dos melhores profissionais e matérias-primas. Aos poucos, os investimentos em genética, touros melhoradores e novas tecnologias associadas à reprodução de bovinos de corte foram gradativamente evoluindo. Atualmente, 100% do rebanho é inseminado, os animais são abatidos entre 23 e 26 meses com aproximadamente 20@. Todo esse processo é acompanhado de perto pela equipe da DSM/Tortuga, através do Consultor Técnico Comercial Elvys Paes e do Supervisor Técnico Comercial Dennis Lacerda.
A qualidade do rebanho é o aspecto que mais evoluiu desde o início da atividade. “Iniciamos com um gado comercial, muito simples e sem genética. Hoje, temos orgulho em ser referência na venda de animais para formação de plantel”, conta ela, que também associa essa evolução ao conjunto de melhorias ocorridas ao longo do tempo, como utilização de lotação rotacionada, distribuição de água encanada em toda a fazenda e melhoria de estruturas gerais. Elaine reitera que, mesmo diante dos desafios diários na gestão da fazenda nesses 25 anos de trabalho, sempre foi respeitada por funcionários e fornecedores. “Vejo que algumas mulheres se sentem discriminadas na atividade, porém isso nunca ocorreu comigo”, fala, acrescentando a importância da parceria com o esposo. “Ele deposita uma grande confiança em mim, está sempre ao meu lado, isso é um diferencial”, ressalta. Com relação à sucessão, o filho Alexandre já trilha os caminhos da mãe, acompanhando de perto as atividades da fazenda. A sustentabilidade social na fazenda Vitrine é fomentada através da capacitação de funcionários em cursos de interesse.
Cliente DSM/Tortuga desde o início, ela preza pela e está sempre em busca de novas tecnologias nutricionais para aplicar em suas propriedades. E conta com essa sólida parceria para obter importantes índices zootécnicos na propriedade: atualmente, a produtora abate 100% dos animais machos com menos de 24 meses, terminados em sistemas de semiconfinamento e confinamento. A precocidade das fêmeas e a taxa média de prenhez também chamam a atenção. “Aproximadamente, 50% das fêmeas estão aptas aos 14 meses e já obtivemos 87.5% de média de taxa de prenhez na fazenda com o uso da tecnologia Feproxi”, relata Elaine. A parceria com a Tortuga e o apoio técnico da empresa também foi imprescindível para o sucesso da estratégia de sequestro de bezerros, com os animais registrando ganhos médios de 0,700 kg/dia, o que viabilizou o aumento da taxa de abate e a redução do ciclo produtivo. “Tudo o que construí é para os meus filhos, eles são o que tenho de melhor, sou muito grata a Deus”, finaliza.
AMAZILE VAZ SOARES
“Desperte a paixão do seu filho pelo meio rural, invista na sucessão familiar, construa boas memórias!”
A administradora de empresas Amazile Vaz Soares tem se desafiado no comando das fazendas Cajueiro e Paraíso, em Rondon do Pará/PA. Nascida na Bahia, a família se mudou para o Pará, onde o pai iniciou na atividade pecuária. Sempre ao lado dele, Amazile diz que essa convivência lhe traz suas melhores recordações: “Lembro-me da sua felicidade e comemoração quando atingiu o rebanho de 100 cabeças!” Ela cresceu em contato direto com a pecuária e se diverte ao relembrar que, quando criança, era considerada o “terror dos vaqueiros” por sua insistência em acompanhar a lida de campo. “Muitas vezes, eu os acordava, dizendo: ‘Vamos, que é hora de tirar o leite!’”, conta. Já adulta, afastou-se temporariamente do meio rural para seguir carreira em Administração de Empresas e trabalhou em vários negócios da família, como postos de gasolina e uma transportadora. Nessa fase, sua participação na gestão das fazendas se limitava ao controle administrativo e de despesas, um “trabalho de escritório”. Porém, em 2014, ela conseguiu se habilitar para conduzir helicópteros, tornando-se piloto oficial do pai. Passou, também, a se interessar pela gestão da propriedade. “Comecei a observar que poderia contribuir de forma positiva no controle do inventário da fazenda e na melhoria das estruturas”, fala.
Em 2020, em função da pandemia, isolou-se por um período na fazenda de cria e recria de bovinos, da qual atualmente é gestora, e começou a observar possíveis pontos de melhoria no manejo. “Cheguei à fazenda na época da vacina e observei que poderia incrementar o bem-estar dos animais, porém enfrentei dificuldades em encontrar argumentos para a mudança de comportamento”, explica ela que, até chegar à fase de gestora, precisou se ajustar e compreender o mecanismo de trabalho dos funcionários. “Tenho muito a aprender com eles. Entendendo a forma como pensam, fica mais fácil implementar mudanças. É um processo constante”, pondera.
As biotecnologias de reprodução animal, como a IATF, e as tecnologias de mapeamento de áreas evoluíram muito desde o início da atividade iniciada na família pelo pai, que segue sendo seu mentor. “As tecnologias ampliaram a minha visão como gestora da fazenda e os funcionários também se sentem atraídos por verem que, hoje, podemos ter a fazenda em nossa mão em tempo real”, informa. Entre os pontos que estão sendo aprimorados, estão a logística de distribuição e o controle de consumo do suplemento mineral, no qual conta com o auxílio da Consultora Técnica Comercial da DSM na região, Natália Lacerda. “Ela me ajudou a desmitificar muitos conceitos e abriu minha visão para o operacional, a necessidade de melhorar a comunicação dentro da equipe para realizar controles mais eficientes”, fala a produtora, que pretende cada vez mais aperfeiçoar a gestão com base em números. “Tenho registrado cada centavo que sai da compra de cada parafuso da fazenda, preciso ter o controle do que é produzido e quanto obtemos de lucro”, reforça Amazile, que também realiza vários processos ligados à sustentabilidade ambiental, dentre eles a rotação de culturas, que faz em parceria com o pai agricultor.
Outra preocupação da produtora diz respeito à educação dos funcionários e de seus filhos, e ela já analisa alternativas para fomentar a capacitação dentro da propriedade. “A fazenda não é somente uma fonte de renda. É importante, como família, estarmos juntos construindo memórias”, assegura.