Oportunidades e limitações do uso de grãos de destilaria (DDG) na dieta de bovinos de corte em confinamento

Aldemar Marques de Jesus
Gerente de Serviços Técnicos – MAPITO/PA

A busca por aumento em produtividade e lucratividade por área é uma premissa para o sucesso da pecuária e, frente a isso, a intensificação se torna uma oportunidade de incrementos de ganho. No entanto, há uma correlação direta desta com os custos, em especial dos alimentos, o que obriga o produtor a buscar alternativas para aumentar a eficiência e a consequente redução dos custos. 

A nutrição é um dos componentes que mais onera a produção, correspondendo entre 70% e 80% dos custos. Além disso, a competição por ingredientes para consumo humano também é um desafio do setor, logo, o uso de alimentos alternativos se torna uma possibilidade (Goes, et al, 2013; Vieira et al, 2021).

Nesse contexto, a bovinocultura ocupa destaque no uso de subprodutos (bagaço de cana, polpa cítrica) e coprodutos (caroço de algodão, casquinha de soja), devido à capacidade do bovino de transformar alimentos de baixo valor biológico em proteína animal.

Com a expansão das indústrias de etanol de milho no Brasil, a disponibilidade dos seus coprodutos tem alavancado o uso em dietas, destacando-se os grãos de destilaria, popularmente conhecidos como DDGs, que são os componentes sólidos com ou sem solúveis, resultantes da produção de etanol.

O processo de produção desses grãos pode dar origem a diferentes tipos de coprodutos: DDG (Dried Destiller’s Grains – Grãos Secos de Destilaria), WDG (Wet Destiller’s Grains – Grãos Úmidos de Destilaria) e DDGS (Dried Distiller’s Grains.with Solubles – Grãos Secos de Destilaria com Solúveis). Sua composição nutricional difere, assim como parte do processo de produção (Figura 1).

Esses coprodutos já são utilizados em larga escala em outros países como os Estados Unidos, onde a maior parte da produção de etanol é derivada do milho. Diversos estudos têm sido conduzidos para elucidar os desafios e oportunidades deste ingrediente, além da busca por uma maior estabilidade na sua composição nutricional (Tabela1), tendo em vista que esta é uma variável dependente de um processo biológico/industrial, nesse caso, a fermentação do amido (Branco e Osmari, 2020).

Muito embora haja benefícios do uso dos Grãos de Destilaria para bovinos, há fatores que limitam o seu uso, em especial para animais confinados, como o teor de enxofre (S), que em excesso (acima de 0,40% da MS), pode causar intoxicações e levar a episódios de morte súbita em decorrência de quadros de polioencefalomalacia, além da deficiência de Cobre no fígado, devido a formação de sulfetos insolúveis de cobre no rúmem (Freitas, 2016).

Há, ainda, pesquisadores que sugerem que a inclusão de mais de 40% em dietas de terminação leva a uma redução na Ingestão de Matéria Seca (IMS), em função da alta produção de sulfetos de hidrogênio no rúmen. Em dietas para vacas leiteiras, a baixa concentração de lisina pode comprometer a produção e a qualidade do leite, logo, esses fatores precisam ser considerados na formulação de dietas contendo Grãos de Destilaria (Buncker et al., 2007; Bremer et al., 2011; Nuñez et al, 2014; Achayra et al. 2015).

No entanto, os Grãos de Destilaria possuem variáveis que podem ser utilizadas como estratégias para aumentar a eficiência produtiva. Esses coprodutos possuem alta concentração de nutrientes de alto valor agregado, tais como Proteína Bruta (PB), fósforo (P) e lipídeos. Essa maior concentração pode ser explicada pela extração do amido contido no milho para fermentação e consequente produção de etanol e CO2, deixando, assim, os seus sólidos e solúveis concentrados em cerca de duas a três vezes mais que o milho, a depender do processo industrial utilizado (Bremer, et a.l, 1978, Vieira, 2011).

Os Grãos de Destilaria são utilizados na dieta de bovinos como ingredientes proteicos, capazes de substituir total ou parcialmente a inclusão de outros ingredientes, como farelo de soja, caroço ou farelo de algodão. Para a eficiente substituição destes, alguns componentes da dieta precisam ser avaliados.

Embora possua alto teor de PB, parte dessa é Proteína Não Degradável no Rúmen (PNDR), o que pode limitar a eficiência da produção de microrganismos ruminais, devido à baixa Proteína Degradável no Rúmen (PDR), com possíveis quedas da Eficiência Alimentar. Estratégias, como o uso de Nitrogênio Não Protéico (NNP) para melhorar a relação entre PDR: PNDR, são alternativas.

Entretanto, dada a sua alta inclusão na dieta, os teores de PB total tendem a ser superiores ao que é requerido pelo animal, levando, assim, a uma sugestiva possibilidade de reciclagem do excesso de nitrogênio consumido. Isso, por sua vez, colaboraria para o aumento de PDR, reduzindo assim a necessidade de inclusões elevadas de NNP (Vander Pol et al., 2005).

Como um coproduto, o valor desse ingrediente pode ser um fator importante para sua inclusão na dieta. Por possuir uma quantidade de lipídeos elevada e fibra de boa qualidade e digestibilidade, além da já evidente quantidade de PNDR, os Grão de Destilaria também têm sido considerados um alimento com teor de energia semelhante ao do milho, com aproximadamente 90% de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT), permitindo, assim, a substituição de parte desse ingrediente na dieta de bovinos (Freitas, 2016).

A substituição parcial do milho por Grãos de Destilaria promove uma redução na ingestão de amido, colaborando com a redução de casos de acidose ruminal. Um benefício indireto relatado frequentemente é o aumento da aceitabilidade da dieta com Grãos de Destilaria por parte do animal, possibilitando o uso de resíduos com baixa palatabilidade.

Nesse contexto, é importante considerar que, em função da mudança da matriz energética da dieta, as características de carcaça, em especial o acabamento, podem ser influenciadas. Pesquisadores observaram uma redução na deposição de gordura em bovinos terminados em confinamento com dietas contendo altas inclusões de Grãos de Destilaria e, embora o pecuarista não seja remunerado por grau de acabamento de carcaça, essas mudanças podem comprometer a qualidade do produto (Freitas, 2016).

As pesquisas e a utilização dos Grãos de Destilaria para animais em confinamento tem-se mostrado promissoras, com resultados zootécnicos consistentes. Entretanto, não há consenso entre os pesquisadores quanto ao nível ótimo de inclusão do produto e as recomendações têm variado entre 20% e 30% (Tabela 2).

Para confinamentos próximos a indústrias de etanol, o uso do WDG é uma alternativa para a redução dos custos, no entanto, por se tratar de um produto com aproximadamente 60% de umidade, o seu armazenamento pode ser um fator limitante. Em situações práticas, tem-se observado perdas variando de 5% a 18%. De acordo com o tempo e formas de estocagem do produto, essa perda pode comprometer a efetividade do uso do quando os custos deste estão próximos aos custos na MS de outros ingredientes.

A Tabela 3 apresenta um simulador de custos contendo as principais matérias-primas de dietas de confinamento, avaliadas em agosto de 2024, considerando cada fonte de proteína vegetal disponível. A possibilidade de redução dos custos alimentares com WDG estima ser aproximadamente 15% abaixo das demais dietas, com uma contribuição importante também no custo da arroba produzida. Logo, esse ingrediente tem se revelado um aliado para redução de custos em dietas de terminação.

Considerações Finais

Os Grãos de Destilaria têm se tornado um ingrediente comum no uso não apenas de dietas para bovinos, mas também para outras espécies. A baixa variação da composição do produto tem consolidado a segurança do seu uso em altas proporções nas dietas, entretanto é importante considerar que a viabilidade desseprecisa passar por vários crivos de avaliação, sendo o mais importante a avaliação do seu custo de matéria seca, comparado não somente com ingredientes protéicos, mas também com a fonte energética da dieta. Com as constantes oscilações de custos de matéria-prima em alguns períodos do ano, os Grão de Destilaria têm se mostrado viáveis para uso em formulações. Mas é necessário considerar que os fatores limitantes de seu uso prevalecem com poucas alternativas de mitigação, o que cabe mais estudos e cautela quanto à inclusão em alta proporção. 

Referencias

Acharya, I. P.; Schingoethe, D. J.; Kalscheur, K. F., et al. Response of lactating dairy cows to dietary protein from canola meal or distillers’ grains on dry matter intake, milk production, milk composition, and amino acid status. 2015. Can. J. Anim. Sci. 95: 267 -279

Branco, A. F.; Osmari, M. P. Uso de DDGS e WDGS na Alimentação de Bovinso. 2020.
Disponível em https://professorbranco.com.br/wp-content/uploads/2020/04/E-book-DDGS-WDGS.pdf
Acesso em 12 de março de 2025.

BRCorte. 2025.
Disponível em https://brcorte.com.br/dashboard
Acesso em 15 de março de 2025.

Bremer, V.R.; Liska, A.; Erickson, G.E.; Cassman, K.; Hanford, K.J.; Klopfenstein, T. 2011. Impact of distillers grains moisture and inclusion level on greenhouse gas emissions in the corn-ethanol-livestock life cycle. Nebraska Beef Cattle Reports. 601.
Disponível em https://www.researchgate.net/publication/265113606_Impact_of_Distillers_Grains_Moisture_and_Inclusion_Level_on_Greenhouse_Gas_Emissions_in_the_Corn-_Ethanol-Livestock_Life_Cycle
Acesso em 15 de março de 2025.

Buckner, C.D.; Erickson, G.E.; Mader, T.L.; Colgan, S.L.; Karges, K.K.; Gibson, M.L. 2007. Optimum levels of dry distillers grains with solubles for finishing beef steers. Nebraska Beef Cattle Reports. Paper 68.
Disponível em https://www.researchgate.net/publication/228512320_Optimum_Levels_of_Dry_Distillers_Grains_with_Solubles_for_Finishing_Beef_Steers
Acesso em 15 de março de 2025.

Freitas. T. B. Coprodutos da Industria de Biocombustíveis em Dietas para Ruminantes. 2016. Tese. Doutorado em Zootecnica. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Itapetinga, Bahia.

Goes, R. H. T. B.; Silva, H. L. X.; Souza, K. A. Alimentos e Alimentação Animal. 2013.  Editora UFGD.
Disponível em https://www.bibliotecaagptea.org.br/zootecnia/nutricao/livros/ALIMENTOS%20E%20ALIMENTACAO%20ANIMAL.pdf
Acesso em 01 de março de 2025.

Nuñez, A. J. C. ; Felix, T. L.; Lemenager, R. P. et al. Effect of calcium oxide inclusion in beef feedlot diets containing 60% dried distillers grains with solubles on ruminal fermentation, diet digestibility, performance, and carcass characteristics. 2014. Journal of Animal Science. DOI: 10.2527/jas.2013-7501.

Tabelas Brasileiras de Composição de Alimentos para Ruminantes. Cqbal. 2025.
Disponível em https://cqbal.com.br/#!/
Acesso em 15 de março de 2025.

Vander Pol, K. J., M. K. Luebbe, G. I. Crawford, G. E. Erickson, and T. J. Klopfenstein. 2007. Digestibility, rumen metabolism and site of digestion for finishing diets containing wet distillers grains or corn oil. Nebraska Beef Cattle Report. MP90:39–42. Vieira, L. C.; Vieira. D. J. C.; Grazziotinn, R. C. B. et al. Utilização de DDG e WDG na nutrição de Ruminantes. 2021. Zootecnia de Precisão: Desafios e Aplicações.
Disponível em https://www.editoracientifica.com.br/books/chapter/211106630
Acesso em 28 de fevereiro de 2025.

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