Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador da Equipe de Pecuária do Cepea
Alessandra da Paz
Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
Os preços dos bezerros estão em movimento de queda consecutiva desde o começo de 2022, segundo indicam dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Esse cenário é resultado dos maiores investimentos em tecnologias por parte de pecuaristas, do aumento de produtividade e, sobretudo, da redução no abate de matrizes.
Neste último caso, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicou, em março deste ano, que o volume de fêmeas (vacas e novilhas) abatidas ao longo de 2021 foi o mais baixo em 18 anos.
Além disso, a chegada do período de desmama reforça a queda nos preços, diante da maior disponibilidade de animais. Colaboradores do Cepea de algumas regiões relatam dificuldades no repasse de lotes completos de bezerros a preços maiores, seja em leilões ou em vendas diretas entre pecuaristas.
Assim, considerando-se as médias mensais deflacionadas, no acumulado da parcial deste ano (de dezembro/21 a junho/22), o Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa (Nelore, de 8 a 12 meses, Mato Grosso do Sul) recuou 21%, passando para R$ 2.490,17 na parcial de junho (até o dia 7). Em junho de 2021, o animal era negociado a R$ 3.328,73, em termos reais. Ou seja, em um ano, a desvalorização do animal é de expressivos 25,2%. Todos os valores médios mensais foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/22.
Analisando-se a série histórica mensal do Indicador do bezerro, observam-se quatro grandes períodos de pico e de vale de preços dos animais de reposição. E o atual momento é o que registra uma das quedas mais intensas nos preços em um pequeno período.
O primeiro período de pico no preço do bezerro, que durou quase quatro anos, foi registrado entre março de 2002 e janeiro de 2006. Em março de 2002, a média mensal do Indicador era de R$ 1.890,54/cabeça. Daquele mês para janeiro de 2006, foi registrada uma forte desvalorização de 38,1%, quando a média real caiu para R$ 1.169,54, sendo este o menor valor para aquela época, desde o início da série do Cepea, em fevereiro de 2000.
O segundo período foi registrado entre julho de 2008 e agosto de 2012, durando, portanto, pouco mais de quatro anos. Em julho de 2008, o valor real mensal do bezerro era de R$ 2.180,95, caindo para R$ 1.618,16 em agosto de 2012, retração de 25,8%.
Entre maio de 2015 e setembro de 2018, o terceiro período, houve uma baixa de 34,9% em quase três anos e meio, com o bezerro passando de R$ 2.905,80 para R$ 1.893,10. Já no período atual, o bezerro apresenta queda expressiva de 30,2% em um menor tempo, de apenas um ano e dois meses: de abril de 2021 a junho de 2022, com a média mensal do bezerro passando de R$ 3.589,71 para R$ 2.490,16.
A expectativa de agentes do mercado é que o movimento de queda nos preços da reposição seja interrompido nos próximos meses. No entanto, a oferta de animais deve seguir um pouco mais elevada que em anos anteriores. Neste caso, ressalta-se que, em 2021, foram inseminados 26% do rebanho de matrizes de corte, de acordo com o Index Asbia/Cepea. Assim, o que auxiliaria na diminuição das recentes quedas seria a maior demanda por animais para abate para exportação.