Micotoxinas, um mal silencioso

Substâncias tóxicas produzidas por fungos, as micotoxinas não são facilmente detectadas, mas podem causar prejuízos enormes à saúde e ao bolso.

Mylene Abud

Uma ameaça invisível ronda os rebanhos bovinos de carne e de leite. Sem cheiro, sem cor e imperceptíveis ao olhar, as micotoxinas são substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos. Ao se alimentarem de matéria orgânica em decomposição, os fungos produzem metabólitos secundários – as micotoxinas -, cujas propriedades tóxicas podem prejudicar a saúde dos seres humanos e dos animais.

E como isso acontece? Através da alimentação. Walter Patrizi, Gerente de Confinamento da dsm-firmenich para a América Latina, destaca que as toxinas produzidas por fungos representam uma preocupação antiga para a saúde humana. Estão associadas a sérios problemas nos órgãos do aparelho digestivo e possuem alto potencial cancerígeno. Dentre as mais conhecidas, as aflatoxinas também podem ser encontradas em rações animais, comprometendo o sistema imunológico e causando sintomas como vômitos e outros distúrbios de saúde. Um exemplo dramático desse impacto ocorreu na década de 1960 na Inglaterra, quando mais de 100 mil perus morreram após ingerirem farinha de amendoim contaminada por micotoxinas.

Victor Valério, Supervisor de Inovação da dsm-firmenich, explica que as micotoxinas são amplamente encontradas em alimentos que compõem a dieta dos animais, como milho, DDG, farelo de amendoim e silagem. E que 80% da contaminação acontece ainda no campo, antes mesmo da colheita. “As micotoxinas são invisíveis, inodoras e incolores. Os problemas não ocorrem apenas quando o alimento apresenta fungos aparentes”, ressalta.

“As principais micotoxinas que temos determinado em dietas de bovinos no Brasil são as fumonisinas, a zearalenona, o desoxinivalenol e as aflatoxinas, nesta ordem de ocorrência. E os problemas que elas causam são variados e vão desde a redução de consumo de alimentos dos animais, passando pelo aumento na suscetibilidade a diversas doenças, problemas reprodutivos e podendo chegar até a morte”, afirma o professor Carlos Humberto Corassin, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP). 

Informações corroboradas pelo maior e mais abrangente estudo sobre a contaminação de micotoxinas em confinamentos brasileiros, conduzido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-ESALQ/USP) em parceria com a dsm-firmenich, e que monitorou mensalmente 52 confinamentos entre 2023 e 2024, analisando 752.104 cabeças de gado.  Os resultados revelaram contaminação em 100% das amostras de ração, especialmente por fumonisinas (associadas a distúrbios no sistema digestivo, nervoso e na saúde hepática dos animais) e zearalenona (relacionada ao aumento de distúrbios hormonais, que interferem na função reprodutiva dos animais). E, o pior: a maioria das amostras continha de três a quatro micotoxinas diferentes – o que potencializa os efeitos tóxicos no organismo. (Gráficos 1 e 2)

Com base nessa pesquisa, o Cepea avaliou o impacto financeiro da presença de micotoxinas na redução do ganho de peso médio dos animais, destacando a oportunidade de mitigar perdas de R$ 160,52 a R$ 185,22 por carcaça vendida com a adoção de tecnologias e estratégias eficazes.

Ou seja, além de ser uma questão de saúde e bem-estar animal, as micotoxinas também representam um problema econômico para as propriedades.

Prejuízos para o corte e o leite

Já há indícios científicos de que algumas doenças que afetam o rebanho bovino de corte, a campo ou confinado, e que não têm uma causa definida, como a enterotoxemia e hemorragias no intestino,  podem estar relacionadas à presença das micotoxinas.

“No confinamento, essa situação se agrava. Os alimentos ficam a céu aberto e, portanto, mais suscetíveis à contaminação”, ressalta Walter Patrizi, acrescentando que o estresse térmico provocado principalmente pelos efeitos climáticos, somados às micotoxinas, pioram a situação.

Victor Valério observa que, no corte, os efeitos negativos dessas substâncias podem demorar a ser percebidos. “Imagine uma fazenda que sempre entrega bons resultados e, de repente, alguns lotes decepcionam. O que causou essa variação? Há grandes chances de que as responsáveis sejam as micotoxinas”, avisa.

Já no leite, o problema pode ficar mais evidente. “Os pecuaristas leiteiros acompanham diariamente a produção, e a resposta é mais rápida que no confinamento. Fica mais fácil mensurar”, ressalta  Fernanda Simões, especialista em Marketing – Categoria Leite da dsm-firmenich. “As vacas são mais sensíveis que os bois a desafios, elas têm imunidade mais baixa e, qualquer problema, gera imediatamente prejuízo ao produtor”, complementa Marcelo Machado, gerente da categoria Leite da companhia para a América Latina.

Ao contrário da carne, no leite as micotoxinas não são apenas um problema de saúde animal, mas também humana. Isso porque a membrana das glândulas mamárias é mais permeável e permite passar para o leite as micotoxinas, entre elas a aflatoxina, relacionada  a casos de tumor hepático.” Além dessa, que é a mais conhecida, também saem no leite a fumonisina, zearalenona, deoxinivalenol e  t2ht2 (que fazem parte dos tricoticenos), além da ocratoxina, que é menos comum nas Américas”, completa Marcelo.

Menos saúde, menor produtividade

No intestino, as micotoxinas também podem ocasionar alterações na composição da microbiota e enfraquecimento do sistema imunológico, entre outros problemas, levando à diminuição da digestibilidade e da absorção de nutrientes e à imunossupressão. “Isso deixa o animal mais suscetível a doenças e à mortalidade. E, também, diminui a produtividade, já que ele gasta energia com o sistema imune e não ganha peso”, informa Walter Patrizi. Ou seja, ao comer menos, o animal produz menos, o que reflete em prejuízos para toda a operação.

Para se ter uma ideia da extensão do desafio, Victor Valério pontua que pesquisa realizada pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), na qual a dieta dos bovinos analisados foi contaminada artificialmente com micotoxinas,  registrou a perda de 14 kg de carcaça.  

“As micotoxinas estão muito relacionadas às inflamações, a casos de enterotoxemia, que pode levar à morte dos animais. Junto ao estresse térmico, formam uma combinação perigosa”, destaca. 

Diagnóstico e controle

O professor Carlos Corassim enfatiza que o combate/controle das micotoxinas é essencial para evitar prejuízos no desempenho produtivo, reprodutivo e financeiro da atividade pecuária. “Mesmo níveis de contaminação baixos podem ter um grande efeito negativo nos resultados da propriedade. O impacto econômico das micotoxinas difere significativamente da simples identificação de animais com micotoxicose clínica, podendo afetar a lucratividade da atividade de maneira mais ampla e duradoura”, adverte.

Experimento realizado no Centro de Inovação Tortuga – onde se comprova a eficiência de todos os suplementos nutricionais da dsm-firmenich antes que cheguem ao mercado – mostrou que mesmo alimentos com baixa contaminação podem ocasionar grandes perdas. “O uso do Mycofix (qual? Foi de forma preventiva?)   proporcionou um ganho de 9 kg de carcaça, reduziu a inflamação no intestino dos animais e  zerou a cirrose”, aponta Victor Valério. Ele explica que, como as micotoxinas podem favorecer o crescimento de bactérias que liberam endotoxinas, o fígado dos animais também pode ficar comprometido. “Com cirrose, o fígado bovino não serve para o consumo humano e é descartado. Perdem dinheiro tanto o produtor como o frigorífico”, analisa.

Além do estudo conduzido no Centro de Inovação, Victor cita que já foram realizadas diversas pesquisas em países como Estados Unidos, Canadá, África do Sul e na na Europa, comprovando o papel das micotoxinas na perda de produtividade dos rebanhos bovinos. 

Para diagnosticar a contaminação dos alimentos da dieta, o primeiro passo é a realização de análise clínica em laboratório. Como esse processo pode ser moroso,  muitas vezes se faz necessária uma ação preventiva antes da obtenção do resultado. “Em sistemas intensivos de terminação, é difícil esperar esse tempo, porque a dinâmica do confinamento é rápida, os lotes rodam com muita frequência. E a demora no resultado compromete todo o trabalho”, pondera Walter Patrizi. Por este motivo, segundo ele, adiantar-se e tomar uma atitude é a ação mais eficiente.

“A utilização de aditivos antimicotoxinas reduz riscos pontuais de perda de produtividade não diagnosticados e dá consistência ao trabalho”, complementa Victor Valério, lembrando que se trata de um mal invisível. “Se não houve mortalidade no rebanho, aparentemente estava tudo bem. Mas o gado deixou de ganhar peso e, na maioria das vezes, a causa eram as micotoxinas. É preciso dar luz a esse problema”, reitera.

Estratégia eficaz de combate

Para o controle e o combate às micotoxinas, é necessária uma ação estratégica. “Dada a complexidade do processo de gerenciamento de risco, que envolve a realização de testes e a avaliação dos alimentos produzidos e adquiridos pela fazenda, a manutenção adequada e permanente do estoque, os cuidados com os equipamentos utilizados no processamento da dieta e o manejo de cocho, recomenda-se o uso de aditivos antimicotoxinas para a prevenção das micotoxicoses”, orienta o professor Carlos Corassin.

E os pecuaristas já podem contar com soluções de ponta no mercado para ajudá-los nessa jornada. Em 2020, a dsm-firmenich incorporou ao seu portfólio de soluções a Biomin, especializada em gestão de risco de micotoxinas e de desempenho intestinal, e a Romer Labs, laboratório com tecnologias de ponta para analisar os alimentos, tanto voltado aos animais como aos humanos, e detectar quais são as micotoxinas presentes.

Carro-chefe da Biomin, o Micofix 5.0Ⓡ é composto por minerais (bentonitas e diatomitas), pela eubactéria BBSH, a exclusiva levedura MTV (produtora de enzimas) e um pacote de bioproteção (produtos naturais que protegem o fígado, exercendo um papel desintoxicante). E atua contra as cinco principais micotoxinas que impactam a saúde animal: aflatoxinas, tricotecenos, fumonezina, zearalenova e ocratoxina.

“A baixa eficácia dos adsorventes tradicionais reforça a necessidade do uso de tecnologias mais avançadas, como a bioproteção e a biotransformação”, salienta Walter Patrizi. “Com a chegada da Biomin, a dsm-firmenich passou a disponibilizar tecnologias que não apenas adsorvem as micotoxinas, mas  destroem de forma definitiva. Com a desativação de maneira irresistível, torna-as não tóxicas, sem causar malefício aos animais”, completa.

“Os adsorventes de primeira geração usavam argila e se destinavam apenas a combater as aflatoxinas, visando a resolver o problema para os seres humanos, e não para o rebanho”, pontua Fernanda Simões, salientando que, como uma evolução do mercado, as soluções tiveram que se tornar mais abrangentes.

Marcelo Machado e Walter Patrizi destacam que para cada tipo de micotoxina e de gado – corte, leite ou confinado -, existem soluções específicas para neutralizar as micotoxinas por adsorção, biotransformação ou bioproteção.

“Um animal em confinamento fica uma média de cem dias no cocho e recebe uma dieta pesada, para engordar. Se os desafios forem muito grandes, indica-se o Mycofix Select, aditivo anti-inflamatório e antimicotoxina”, observa Patrizi.

“Diferentemente do confinamento, o gado de leite é mais sensível, e come dieta por muitos anos. Por isso, precisa de um produto com uma enzima que combata as micotoxinas que prejudicam a reprodução”, explica Machado, citando como exemplo o Mycofix Plus.

Micotoxinas e gestão da inflamação

Além de desativar as micotoxinas, os aditivos acabam tratando um outro problema importante: a inflamação nos animais. “Muitas vezes, mesmo que o rebanho apresente uma carga baixa de micotoxinas, quando entramos com o produto, notamos um desempenho muito relevante”, aponta Walter Patrizi. Segundo ele, esse impacto no desempenho animal mostra a importância do uso dos produtos não apenas para agir contra as micotoxinas, mas também para prevenir as inflamações.

“Em dietas de gado confinado, mais carregadas em energia, com altos índices de NPT (Nutrientes Protéicos Totais) e milho, é comum que ocorram processos inflamatórios no rúmen ou intestino. No rúmen, quando as bactérias morrem, pedaços delas podem entrar na corrente sanguínea, liberando endotoxinas, que são responsáveis por grande parte dos processos inflamatórios no organismo. A boa notícia é que os produtos que combatem as micotoxinas também atuam prevenindo esses quadros”, endossa Victor Valério.

Em muitos casos, as análises tradicionais não conseguem identificar essas inflamações, deixando os problemas ocultos. Isso pode ocorrer em situações de acidose, timpanismo e outras doenças relacionadas à dieta excessivamente pesada, a erros de manejo ou à presença das endotoxinas que não aparecem nas análises convencionais. No entanto, o uso de produtos especializados pode ajudar a controlar e combater essas complicações, melhorando a saúde e o desempenho do rebanho.

Fernanda Simões ressalta a importância da prevenção, tanto para o bem-estar animal como para o bom desempenho. “Quando há problemas de saúde, a produtividade cai, impactando diretamente os lucros, trazendo transtornos econômicos significativos. Com o uso dos aditivos antimicotoxinas, o pecuarista tem a certeza de que seu rebanho está protegido não apenas contra essas substâncias, mas também contra as inflamações”, finaliza.

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