Micotoxinas: quais são seus riscos e como evitar os prejuízos

Cristina Simões Cortinhas
Médica-veterinária, DSc, CRMV-SP 11593
Supervisora de Inovação e Ciência Aplicada Ruminantes

As micotoxinas são compostos tóxicos, produtos do metabolismo secundário de fungos, biocontaminantes de alimentos e rações, que causam efeitos tóxicos agudos e crônicos no homem e nos animais. Algumas características, como ser invisível, não ter gosto e ser quimicamente estável à temperatura e ao armazenamento dificultam sua identificação e aumentam seus riscos de contaminação. 

Nos bovinos, os principais efeitos provenientes da ingestão de micotoxinas são a redução no consumo de dieta, redução no ganho de peso e na produção de leite, danos hepáticos e renais, depressão da imunidade e gastroenterite, além de problemas reprodutivos, como ovário policístico e morte embrionária. Adicionalmente, as micotoxinas consumidas pelos animais podem ser transferidas para o leite, representando um risco à saúde pública. No leite, a presença da aflatoxina M1 (AFM1) tem poder altamente cancerígeno e, por este motivo, tem sido a mais estudada. No entanto, outras micotoxinas com potencial efeito tóxico também já foram encontradas, como desoxinivalenol (DON), ocratoxina A (OTA) e zearalenona (ZEN). 

Alimentos utilizados na dieta do gado de corte e leite, como o milho, soja, silagens, DDGS, feno, trigo, têm frequentemente altas taxas de contaminação por micotoxinas. Em levantamento realizado em 2024 pela dsm-firmenich na América Latina, cerca de 84% das amostras de milho, ingrediente importantíssimo na alimentação dos bovinos, estavam contaminadas por fumonisina, seguidas de 57% de amostras contaminadas por zearalenona,  47% por deoxinivalenol e 22% por aflatoxina. 

Mas essa não é a única ameaça envolvendo as micotoxinas. Como os alimentos podem ser colonizados por mais de um fungo, sendo que uma única espécie de fungo pode produzir mais de uma micotoxina, a co-ocorrência ou co-contaminação por micotoxinas é a regra, e não a exceção. Portanto, os alimentos podem ser contaminados por vários metabólitos simultaneamente e a combinação de múltiplas micotoxinas pode causar mais efeitos adversos do que uma única micotoxina, devido a interações aditivas ou sinérgicas. A interação aditiva é a soma dos efeitos de dois ou mais metabólitos, já a sinérgica é a potencialização desses efeitos, o que piora ainda mais a situação. Além disso, a complexidade da composição da dieta dos bovinos, com geralmente três ou mais ingredientes, favorece a co-ocorrência de micotoxinas na dieta total.

Por muito tempo, acreditou-se que o rúmen era capaz de detoxificar o efeito das micotoxinas, o que é parcialmente verdade, pois algumas bactérias ruminais têm a capacidade de biotransformar micotoxinas em metabólitos com baixa toxicidade ou não tóxicos. No entanto, a capacidade de detoxificar depende de vários fatores e, em alguns casos, pode resultar em metabólitos ainda mais tóxicos (ou estrogênicos) do que a micotoxina original. Entre esses fatores, estão: o nível de contaminação da dieta; o consumo da dieta por interferir na taxa de passagem do alimento e, consequentemente, no tempo que o alimento fica no rúmen; mudanças na dieta que podem causar acidose ruminal e alterações na microbiota ruminal, além do estado geral de saúde dos bovinos.

No Brasil, diante desse complexo cenário, o grupo de pesquisa do professor Humberto Corassin, da Universidade de São Paulo, fez um levantamento da ocorrência e co-ocorrência das micotoxinas na dieta total e no leite de tanque de rebanhos leiteiros (Borowsky et al., 2024). E os resultados desse levantamento foram alarmantes: 100% das amostras estavam contaminadas com uma micotoxina e 67% com duas ou mais, sendo as de maior prevalência a fumonisina (100% das amostras), seguida por 93% das amostras com zearalenona e 27% com deoxinivalenol (figura 1). No leite, 54% das amostras estavam contaminadas por pelo menos uma micotoxina, enquanto 43% das amostras de leite continham duas ou mais e 3% continham a aflatoxina M1.

Figura 1: Quantidade percentual de amostras de dieta total de vacas leiteiras com uma, duas ou três micotoxinas 

Fonte: Borowsky et al., 2024

Diante da grande importância da pecuária de corte para o Brasil, e dos prejuízos causados principalmente em termos de perda de eficiência produtiva, o grupo de pesquisa do professor Corassin fez o mesmo levantamento em fazendas de gado de corte confinado. O resultado foi que 100% das amostras (contaminação por fumonisina) da dieta total estavam contaminadas com pelo menos uma micotoxina e 79,6% por duas ou mais micotoxinas (Pires et al., 2024). A Fumonisina é a micotoxina mais prevalente e que merece muita atenção, pois, além de ter potencial de causar danos no fígado e nos rins dos animais, provoca perdas na produção de carne e leite, que são difíceis de serem mensuradas, mas que, no final, fazem muita diferença no bolso do produtor.

A presença de micotoxinas em praticamente 100% das dietas analisadas nos levantamentos de gado de corte e de leite, a alta incidência de ocorrência concomitante de dois ou mais tipos de micotoxinas, a transferibilidade das micotoxinas para o leite e os malefícios causados na produtividade dos animais e na saúde dos animais e humanos enfatizam a crescente importância de se utilizar métodos que previnam a ocorrência de micotoxinas nos alimentos, como boas práticas de armazenamento e produção de forragens e grãos, ou que inativem essas micotoxinas, como os aditivos antimicotoxinas. Esses aditivos devem ter mecanismos de ação variados, para serem capazes de agir contra diversos tipos de micotoxinas.

Em seu portfólio, a dsm-firmenich possui um produto capaz de adsorver e biotransformar as principais micotoxinas presentes nas dietas de bovinos, o Mycofix®. Com o objetivo de comprovar a eficácia do produto adicionado à alimentação das vacas, a dsm-firmenich realizou uma pesquisa em parceria com a Universidade de São Paulo e os resultados foram surpreendentes! Nesse estudo, um grupo de vacas recebeu dieta sem aditivos, outro grupo recebeu dieta com o adsorvente alumínio silicato e, outros dois grupos de vacas receberam dietas com 15 g e 30 g do biotransformador Mycofix®, sendo que todas as dietas foram contaminadas durante cinco dias com cinco tipos de micotoxinas, em níveis comumente encontrados em fazendas leiteiras (Vieira et al., 2025; Figura 2). 

O resultado foi uma efetiva redução das micotoxinas aflatoxina, deoxinivalenol, zearalenona, T2 e fumonisina no sangue e no leite com as duas doses de Mycofix® testadas, enquanto o alumínio silicato reduziu apenas a aflatoxina. Neste estudo, a produção de leite corrigido para gordura foi em média 1,1 kg numericamente maior no grupo de vacas que recebeu o Mycofix® em comparação ao controle. Com estes resultados, conclui-se que os microrganismos ruminais têm capacidade limitada na degradação das micotoxinas. Além disso, também foi comprovada a necessidade de se utilizar um aditivo antimicotoxinas com amplo poder de ação, como o Mycofix® (adsorvente + biotransformação + bioproteção), para que se tenha a desativação e proteção efetiva contra a ocorrência de múltiplas micotoxinas na dieta. 

Figura 2: Concentrações de diferentes tipos de micotoxinas no leite

Fonte: Adaptado de Vieira et al., 2024.

Mas os ótimos resultados com o uso do Mycofix® não param por aí. Com o objetivo de comprovar a sua eficácia também em gado de corte, a dsm-firmenich, em parceria com um grupo de pesquisa da UNESP, avaliou seu efeito no desempenho e na saúde hepática de bovinos confinados. Nesta pesquisa, 48 bois Nelore (PV inicial = 400±24 kg) foram distribuídos em dois grupos para receber uma dieta sem aditivo e, outra, com Mycofix®, durante 96 dias. No final do estudo, os bois foram abatidos e verificou-se que, aqueles que receberam o Mycofix®, tinham menor incidência de problemas hepáticos, comprovando o efeito na saúde hepática. Com relação ao desempenho produtivo, os bois que consumiram o Mycofix® ganharam 16 kg a mais de peso vivo, o que, no final, representou 9 kg a mais de carcaça quente, e isso representa mais dinheiro no bolso do pecuarista (Gouvêa et al., 2022; figura 3).

Figura 3: Parâmetros produtivos e de saúde hepática de bois Nelore suplementados e não suplementados durante o confinamento. 

Fonte: Adaptado de Gouvêa et al., 2022.

Portanto, o uso de aditivos antimicotoxinas com eficiência comprovada, como o Mycofix®, impacta toda uma cadeia, os animais, o produtor, o laticínio e o consumidor. Os animais têm melhor saúde, bem-estar e longevidade; os produtores, menor custos com medicamentos, maior produtividade e maior lucro; os laticínios garantem que seus produtos sejam seguros, tenham boa qualidade e maior rendimento; e os consumidores estarão consumindo um leite mais seguro com relação às micotoxinas.  

Referências:
Borowsky, A.M., et al. (2024). Toxins, Nov 15;16(11):492. doi: 10.3390/toxins16110492.

Gouvêa, D.I.C.G., et al. (2022). J. Anim. Sci., 100(Suppl_3), 369- 70. https://doi.org/10.1093/jas/skac247.675

Pires, R.D., et al. (2025). Ruminants 5(2),12; https://doi.org/10.3390/ruminants5020012

Vieira, D.J.C., et al. (2024). J Dairy Sci., Oct;107(10):7891-7903. doi: 10.3168/jds.2023-24539.

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