Alexandre Perdigão
Analista de Inovação e Ciência Aplicada da DSM
As atualidades e perspectivas da cadeia produtiva da carne nacional têm expressado enorme potencial econômico. O Brasil é determinante na produção de carne mundial e, em 2021, as exportações totais do Brasil devem aumentar em 5% quando comparado ao ano anterior, sendo o décimo ano consecutivo de alta, o que expressa competitividade e relevância no mercado global (USDA, 2021). Nota-se que, em 10 anos, o crescimento ponderal foi de 39% na série histórica das exportações (ABIEC, 2021). Em contrapartida ao crescimento da demanda, temos a necessidade de aperfeiçoamento do sistema de produção, logo, o uso de estratégias que busquem o encurtamento do período para abate é necessário em um mercado promissor como o descrito.
A manipulação das dietas tem movido produtores e nutricionistas na busca por ferramentas que maximizem, encurtem o ciclo e tragam eficiência à cadeia produtiva. Preconiza-se, então, o abate de animais jovens, os quais são submetidos a dietas com alto concentrado. Ao passo que a nutrição caminha em busca de maximização de respostas produtivas, o limite fisiológico é testado e distúrbios metabólicos e limitações fisiológicas surgem como principais impedimentos aos altos níveis de amido em dietas para bovinos de corte.
Em ruminantes, a fermentação ruminal se dá pela atividade física e microbiológica no rúmen, que transforma os componentes dietéticos em proteína microbiana, ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), vitaminas do complexo B e vitamina K, bem como em metano, dióxido de carbono, amônia e nitrato (OWENS; GOETSCH, 1993). A introdução de carboidratos rapidamente fermentáveis resulta em uma maior redução de bactérias fibrolíticas e em um rápido crescimento de bactérias amilolíticas (TAJIMA et al., 2001).
Esse aumento de carboidratos fermentáveis no rúmen estimula o crescimento microbiano, o que pode resultar em maior fermentação ruminal. Com uma maior fermentação ruminal, há o aumento na produção de AGCC, que, se não for absorvido pelas paredes ruminais, pode abaixar o pH do rúmen, influenciando também a sobrevivência das bactérias no ambiente ruminal. Além das bactérias, os protozoários também são sensíveis ao pH baixo. Todo protozoário é rapidamente morto com a variação muito elevada do pH ruminal.
O aumento da proporção de carboidratos rapidamente fermentáveis presentes nas rações está diretamente relacionado com a incidência de acidose e provoca várias mudanças ruminais, como aumento da disponibilidade de glicose livre, estímulo ao crescimento de diversas bactérias, aumento na produção de AGCC (principalmente o ácido lático), redução do pH e da motilidade do rúmen e aumento da suscetibilidade a rumenites e hiperqueratose (OWENS et al., 1998).
Segundo o levantamento feito com nutricionistas de gado confinado no Brasil, realizado por Millen et al. (2009), 36% dos entrevistados citam a acidose ruminal ou os problemas ligados à acidose (laminites e timpanismo) como o segundo maior problema relacionado à saúde de bovinos confinados no País. Oliveira e Millen (2014) alegam que 34,4% dos nutricionistas entrevistados destacam a acidose como segundo maior problema ligado à saúde de bovinos confinados.
Portanto, a manutenção de um ambiente ruminal menos ácido, e compatível com a manutenção de processos digestivos fisiologicamente eficientes em ruminantes consumindo dietas de alta fermentabilidade, é diretamente dependente da capacidade de absorção da parede do rúmen. Além disso, como o tempo de adaptação dos bovinos brasileiros é menor, o desafio encontrado é maior, com riscos de consequências desconhecidas cientificamente e com maior impacto sobre o metabolismo animal.
Estratégias alimentares são adotadas para aumentar o metabolismo energético, principalmente em bovinos com alta demanda, que conferem maior sensibilidade a desordens metabólicas pelo excesso de fermentação de carboidratos. Majoritariamente, o suprimento de energia dos ruminantes é obtido pela gliconeogênese hepática através de derivados da fermentação ruminal (propionato) e aminoácidos. O maior aporte de carboidratos altamente fermentescíveis é caracterizado por desordens digestivas em função do acúmulo de ácidos orgânicos, provocado pela assimetria entre a capacidade de absorção via lúmen ruminal e a taxa de síntese microbiana (NAGARAJA e TITGEMEYER, 2010).
A incorporação de aditivos em dietas para bovinos preconiza a alteração de perfil fermentativo e o aproveitamento de alimentos no trato gastrintestinal com efeitos no metabolismo pós-absortivo, seja com intuito de prevenção de desordens digestivas e/ou do aumento da eficiência alimentar. Parte da energia consumida pelos ruminantes pode ser perdida na forma de metano. O uso de aditivos, além de atuar em bactérias fermentadoras de metano, modula a estequiometria de AGCC, favorecendo a produção de propionato, que, por sua vez, reduz a formação de metano ao utilizar hidrogênio do meio ruminal. Ainda atua como efeito bacteriostático sobre bactérias ruminais gram positivas, mas com possível impacto de resíduos em produtos de origem animal e resistência microbiana. Sendo assim, recentemente alguns estudos demonstraram que a combinação de blend de óleos essenciais com amilases exógenas promovem respostas produtivas semelhantes ao uso de monensina (MESCHIATTI et al., 2019) sem oferecer possíveis riscos à saúde humana, pois há preocupação com a resistência antimicrobiana e resíduos em produtos de origem animal.
Niehues et al. (2020) verificaram que o uso do blend de óleos essências combinado à enzima α-amilase + colecalciferol em dieta com 55% de amido proporcionou melhor desempenho e condições de pH ruminal de bovinos (Niehues et al., 2021; Tabela 1) quando comparado ao aditivo monensina, gerando maior ganho de carcaça, sem prejudicar a eficiência alimentar dos animais (Tabela 2). Estes resultados comprovam que o uso associado de óleos essenciais + enzima α-amilase + colecalciferol é eficaz para maximizar a produção e propiciar melhores condições ruminais de bovinos confinados, sem prejudicar a eficiência alimentar.
A Tortuga, uma marca DSM, conta com o Fosbovi® Confinamento Crina® Hy-D® e outras tecnologias inovadoras para os confinamentos, com o objetivo de garantir mais segurança e máxima resposta produtiva com rentabilidade aos confinadores, sendo todas testadas pelo departamento de Inovação & Ciência Aplicada da DSM.
Tabela 1. Efeito de aditivos alimentares e combinações sobre o pH ruminal de bovinos F1- Angus-Nelore durante o período de terminação (d-98) com dieta com 55% de amido
Item | Monensina | Óleos essenciais + Combinações* | Valor de P |
---|---|---|---|
pH | |||
Médio | 6.22 | 6.42 | <.0001 |
Mínimo | 5.6 | 5.85 | <.0001 |
Máximo | 6.78 | 6.91 | <.0001 |
*Enzima α-amilase + colecalciferol
Adaptado de Niehues et al. (2021)
Tabela 2. Desempenho produtivo de bovinos F1- Angus-Nelore durante o período de terminação (d-98) com dieta com 55% de amido
Item | Monensina | Óleos essenciais + Combinações* | Valor de P |
---|---|---|---|
IMS, kg | 10,77 | 12,82 | <0,001 |
GMC, kg | 1.14 | 1.41 | <0,001 |
PCQ, kg | 344 | 372 | 0,01 |
RC, % | 55,3 | 57,4 | 0,03 |
Eficiência alimentar | 0,156 | 0,150 | NS |
* Enzima α-amilase + colecalciferol
Adaptado de Niehues et al. (2020)
Referências
ABIEC. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes. Exportacoes, 2021. Disponivel em: http://abiec.com.br/exportacoes. Acesso em: 6 de setembro 2021.
MESCHIATTI et al. 2019. Feeding the combination of essential oils and exogenous α-amylase increases performance and carcass production of finishing beef cattle. Journal of Animal Science, v. 97, n. 1, p. 456–471, 2019.
MILLEN et al. 2009. A snapshot of management practices and nutritional recommendations used by feedlot nutritionists in Brazil. Journal of Animal Science, v. 87, Issue 10, p. 3427–3439.
NAGARAJA e TITGEMEYER. 2010. Ruminal Acidosis in Beef Cattle: The Current Microbiological and Nutritional Outlook. Journal of Dairy Science, v. 90, n. 07, p. E17–E38.
NIEHUES et al. 2020. Feeding essential oils and α-amylase or its association with 25-hydroxy-vitamin-D3 improves productive performance by feedlot cattle. Journal of Animal Science, Volume 98, Issue Supplement_4, November 2020, Pages 160–161, https://doi.org/10.1093/jas/skaa278.294
NIEHUES et al. 2021. Effects of associating different feed additives on rumen pH dynamics by feedlot cattle fed a high-concentrate diet. In: 2021 ASAS-CSAS-WSASAS Virtual Annual Meeting and Trade Show website, 2021, Louisville, Kentucky. Proceedings. Champaign, IL: ASAS, 2021.
OLIVEIRA e MILLEN. 2014. Survey of the nutritional recommendations and management practices adopted by feedlot cattle nutritionists in Brazil. Animal Feed Science and Technology, v. 197, p. 64-75, 20.
OWENS e GOETSCH, 1993 apud VALADARES FILHO, S. C.; PINA, D. S. Fermentação ruminal. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. Nutrição de ruminantes. 2º ed. Jaboticabal, SP. Funep. 2011. Cap. 6.
OWENS et al.. 1998. Acidosis in cattle: A review. Journal of Animal Science, v. 76, p. 275-286.
TAJIMA et al.. 2001. Diet-dependent shifts in the bacterial population of the rumen revealed with real-time PCR.Appl Environ Microbiol. v 67, p. 2766–2774.
USDA. United States Department of Agriculture, Foreign Agricultural Service. Livestock and Poutry: World Markets and Trade. Disponivel em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/livestock_poultry.pdf. Acesso em: 6 de setembro 2021.