Para o presidente da Abraleite, Geraldo Borges, também é necessário que a indústria continue a se adequar para atender às exigências dos mercados abertos e a agir com proatividade para viabilizar as exportações
Mylene Abud
Em sua participação no do 7° Congresso Nacional das Mulheres do Agro, realizado em outubro, na capital paulista, o presidente da Abraleite, Geraldo Borges, afirmou que, apesar de figurar entre os maiores produtores de leite do mundo, o Brasil ainda pode crescer mais e se tornar o número um em oferta e exportação. Isso porque, segundo ele, apesar dos desafios, o potencial é grande e as condições são favoráveis.
“As exportações dependem principalmente de uma maior competitividade do leite produzido no País, que passa pela desoneração da cadeia produtiva, o incentivo à tecnificação, o melhoramento genético dos rebanhos e a maior produtividade”, conta ele.
Na entrevista que você confere a seguir, o presidente da Abraleite também se diz preocupado com a saída de produtores da atividade, bastante em função dos elevados custos de produção. Mas vê o próximo ano com otimismo, sobretudo pela importância econômica e social do setor leiteiro, que detém o maior número de produtores e de pessoas empregadas no agro nacional.
Noticiário – Que balanço a ABRALEITE faz do mercado lácteo em 2022? Foi um ano de muita volatilidade?
Geraldo Borges – Desde 2020, o produtor enfrenta a maior inflação do agro já vista. Commodities exportáveis (soja e milho), fertilizantes, taxa de câmbio, energia e combustíveis elevaram muito os custos de produção. Isso fez de 2021 um ano muito desafiador. Tivemos cinco trimestres consecutivos de queda inédita na produção.
Em 2022, esse cenário melhorou com o ajuste dos preços no primeiro semestre, porém os custos ainda subiram em torno de 15%, especialmente por conta dos fertilizantes, e houve nova queda nos preços recebidos pelos produtores no segundo semestre.
Noticiário – Quais as perspectivas do setor para 2023? Espera-se um ano melhor?
Geraldo Borges – Para 2023, existe um novo patamar de oferta e procura. No final de 2022, já houve uma pressão baixista nos preços, mostrando que o mercado está abastecido, porém o consumo continua deprimido pela baixa renda da população.
Também fomos afetados por volumes recordes de lácteos importados em 2022, o que ajudou a deprimir os preços. Esperamos ganho de renda em 2023, em virtude da queda na taxa de desemprego. O leite segue equilibrado, sem grandes incentivos de preços. A pressão dependerá da taxa de câmbio; se o dólar cair, vamos enfrentar importações deletérias ao segmento leite, tirando ainda mais produtores da atividade.
Noticiário – Por falar nisso, muitos saíram da atividade nesses anos desafiadores? Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores?
Geraldo Borges – Nesses dois últimos anos, muitos produtores saíram do negócio, muito em função dos elevados custos de produção decorrentes da alta de preço sofrida nos insumos, e pelo fato de que o valor recebido pelos produtores por seu produto não acompanhou essa valorização dos insumos. Em algumas regiões, tivemos problemas climáticos que também dificultaram a atividade de muitos produtores.
Mesmo com toda essa dificuldade e a saída de produtores da atividade leiteira, a produção manteve-se relativamente estável, com um decréscimo no volume de leite produzido no País sem mostrar uma queda considerável. Isso mostra que a produtividade e a escala das propriedades produtoras vêm aumentando. Mas nos preocupa a saída de produtores da atividade, sobretudo pela importância econômica e social do setor leiteiro, que detém o maior número de produtores e de pessoas empregadas no agro nacional.
Noticiário – No Congresso das Mulheres do Agro, o sr. disse que o Brasil, mesmo sendo um dos maiores produtores de leite do mundo, pode crescer mais e se tornar o número 1 em oferta e exportação. O que falta para isso acontecer?
Geraldo Borges – Em 2021 e 2022, estimamos queda de 7% no consumo de lácteos no Brasil. Importante salientar que o leite custa em dólares e é vendido no mercado doméstico em reais, o que causou grande impacto aos produtores e consumidores. Ainda exportamos pouco. Nosso consumo vinha crescendo 5% ao ano até 2014, mas, com a crise de 2014, consumo e produção estacionaram, ficando em cerca de 170 litros per capita até 2022. Esperamos uma nova onda de crescimento a partir da retomada do consumo, com maior renda da população.
Nosso consumo de leite fluido é alto, comparável a países desenvolvidos. Precisamos crescer em produtos de valor agregado, como queijos e iogurtes. Um crescimento que só virá com ganho de renda, que refletirá no consumo.
Noticiário – Como a cadeia e os produtores precisam se organizar para aumentarmos as exportações? Quais as oportunidades?
Geraldo Borges – As exportações dependem principalmente de uma maior competitividade do leite produzido no País, que passa pela desoneração da cadeia produtiva do leite e o incentivo à tecnificação, o melhoramento genético dos rebanhos e a maior produtividade. Também é necessário que a indústria continue se adequando para atender às exigências dos mercados abertos e agir com proatividade no sentido de viabilizar as exportações.
Noticiário – Como garantir a produção de leite com quantidade e qualidade? Nesse sentido, qual a importância da nutrição animal e da tecnologia?
Geraldo Borges – Genética, manejo e nutrição animal corretos com uma maior tecnificação são pilares essenciais para a produção de leite ter avanços, com qualidade e aumento de produção crescente.