Fazenda flor da serra é referência em gestão na pecuária de leite moderna

Com foco em operação, conforto animal, nutrição e genética, a propriedade, localizada no sertão cearense, tem como objetivo em curto prazo produzir de 50.000 litros de leite ao dia

Mylene Abud

A história da família Girão na pecuária leiteira começou com o senhor Luís que, na década de 1940, já tinha uma fazenda em Maranguape, na região metropolitana de Fortaleza, e se estabeleceu como produtor de leite. Com seu falecimento precoce, aos 63 anos de idade, seu filho, também Luiz, só que com “z”, recebeu a incumbência de tocar a fazenda da família. Na casa dos 20 anos, Luiz Girão assumiu a propriedade, que produzia 500 litros ao dia, considerado um bom volume para a época. E, com o sucesso na condução do negócio, foi chamado para ser diretor da cooperativa local.

Em 1971, após receber uma proposta para comprar um laticínio em Quixeramobim, na região do sertão central, deixou a produção para se tornar um industrial do leite. Mas a paixão pelo dia a dia da lida com o leite era forte e ele tentava equilibrar as duas atividades. “Meu pai nunca deixou de ser produtor. Ele comprou outras fazendas e brincava que trabalhava a semana inteira no laticínio e, no fim de semana, na fazenda”, conta o filho mais novo, David Girão.

Em 1995, o laticínio, que deu origem à Betânia Lácteos, foi vendido para a Parmalat. Neste momento, Luiz Girão se voltou novamente à produção de leite com a Fazenda Flor da Serra, em Limoeiro do Norte, sertão do Ceará. “Na época, o estado enfrentava problemas com a falta de chuvas, mas quando meu pai conheceu o projeto Jaguaribe/Apodi, ele ficou encantado. A propriedade tinha possibilidade de irrigação e era um dos melhores solos do Nordeste”, conta David.

Com o pensamento de que para ser produtor de leite é preciso estar próximo da agricultura, Luiz começou a plantar milho-verde e chegou a ser o maior produtor brasileiro. As sobras da plantação eram destinadas a alimentar o gado e ele logo voltou à pecuária leiteira. Mas de uma forma inovadora: criou um modelo de gestão único através de parcerias, divididas em Unidades Produtoras de Leite ou UPLs. A fazenda entra com a terra, a infraestrutura e a tecnologia, enquanto os parceiros, que ficam responsáveis por toda a operação do leite e pelo custo da mão de obra, são remunerados com 20% do lucro líquido. “O desejo do meu pai era criar empresários do leite no modelo das Unidades Produtoras. E deu certo”, explica David Girão. Em 2015, a propriedade, que foi pioneira no pastejo rotacionado embaixo do pivô no Nordeste, foi considerada a sexta maior fazenda de leite do Brasil ao produzir 35.000 litros/dia.

PASSANDO O BASTÃO
Em 2002, Luiz Girão recomprou a Betânia, que captava 30.000 litros de leite diários. Chamou, então, o filho mais velho, Bruno Girão, que havia acabado de se formar em Administração em Boston/EUA, para assumir a presidência do laticínio, enquanto ele, no conselho da empresa, poderia se dedicar à estratégia e à expansão dos negócios. Hoje, a Betânia Lácteos capta 900.000 litros de leite em todo o Nordeste, com três fábricas na Bahia, uma em Sergipe, uma em Pernambuco, e a maior delas, no Ceará. “Conhecemos a dor dos produtores de leite. Esta é a razão do sucesso do laticínio”, afirma David Girão.

Após um longo período de estiagem na região, Luiz Girão se viu obrigado a diminuir as áreas irrigadas da fazenda e se desfazer de parte do rebanho, com a produção passando para 25.000 litros/dia. E em 2016, em plena crise hídrica, David Girão, que também fora estudar Administração em Boston/USA, assumiu, a convite do pai, a operação da Fazenda Flor da Serra. “Os últimos três anos foram muito desafiadores, mas já evoluímos bastante em termos de reprodução e produção, com retorno esperado de 10% a 12% ao ano sobre o capital investido. Hoje, temos na fazenda 5.000 animais das raças Jersolanda e Girolanda. Dos 1.200 hectares, temos atualmente 225 hectares irrigados, mas o objetivo é chegar a 500 hectares com a transposição do rio São Francisco. E nosso projeto de curto prazo é a produção de 50.000 litros diários de leite daqui a dois anos”, destaca David, que também é pós-graduado em Pecuária de Leite pela Rehagro/MG.

NUTRIÇÃO, GENÉTICA E BEM-ESTAR ANIMAL
A Fazenda Flor da Serra tem 100 funcionários e seu modelo é 100% a pasto rotacionado, com 150 litros por hectare ao ano. Os animais registram médias de idade ao primeiro parto de 30 meses, 16% de taxa de prenhez e 3% de taxa de mortalidade. A Inseminação Artificial (IA) é feita nas novilhas com sêmen sexado. Com investimentos no resfriamento de vacas para diminuir o estresse térmico dos animais e melhorar o conforto no préparto, entre outras medidas, a Flor da Serra foi a quinta fazenda brasileira a conquistar o selo de bem-estar animal.

“Nosso foco é em operação, conforto animal, nutrição e genética”, aponta David. Cliente há mais de dez anos do Programa de Incentivo à Tecnologia Tortuga (PITT) da DSM, a fazenda participa de todas as edições do Prêmio Qualidade do Leite Começa Aqui! e conta com a parceria da equipe técnica da empresa para a tomada de decisões quando o assunto é nutrição. “Esse nível de atendimento que a DSM é de grande valia. O Liberato nos visita de uma a duas vezes ao mês”, conta David.

“A Fazenda Flor da Serra é referência em gestão e um dos mais importantes produtores da bacia leiteira do estado, além de figurar em 11º lugar no Top 100 do MilkPoint. Meu trabalho é ajudar na área de nutrição animal da propriedade, manejo, avaliação da dieta e das pastagens. A fazenda é 100% gerida por indicadores técnicos e todas as decisões são tomadas com base nisso”, informa Liberato Lins de Oliveira, Supervisor de Vendas da DSM na região Nordeste. A Fazenda utiliza várias soluçóes tecnológicas da empresa para todas as categorias, como por exemplo, o Bovigold® CRINA®, para cuidar dos animais e aumentar a produtividade. “A propriedade está sempre aberta à tecnologia e, depois que assumiu a gestão, o David não parou de inovar”, comenta Liberato.

Assim como no laticínio Betânia, o processo sucessório na Fazenda Flor da Serra aconteceu de forma natural. “Meu pai sempre foi muito empreendedor. E com os filhos focando os controles, ele ficou mais livre para continuar na assessoria e trabalhar na expansão e no crescimento dos negócios”, ressalta David Girão. Para ele, a nova geração à frente dos empreendimentos agrega valores, como a gestão democrática com prestação de contas semanais, porque a fazenda precisa gerar caixa. “É preciso ter clareza do retorno dos investimentos, e essa é a cultura da nova geração, que treina seu time para ter essa mesma visão. O segredo do negócio é a gestão, o dia a dia, a rotina na fazenda, é cumprir as metas individuais”, garante. E se mostra otimista com relação ao futuro do setor no Brasil: “Tem muitas oportunidades para o leite e seus derivados, aqui no Brasil e lá fora. E nosso objetivo é dobrar a produção em curto prazo”, planeja David Girão.

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