Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador da Equipe de Pecuária do Cepea
Alessandra da Paz
Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
O ano de 2022 se inicia confirmando as perspectivas desenhadas pelo setor, de um mercado externo aquecido e sendo este um dos principais fatores de sustentação aos preços da cadeia nacional.
De fato, logo em janeiro, o volume de carne bovina in natura exportada pelo Brasil ficou acima de 140 mil toneladas, um recorde para o mês, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Quanto aos preços da arroba no mercado interno (Indicador CEPEA/B3, mercado paulista), a média de janeiro atingiu R$ 338,46, um recorde, em termos reais, considerando-se a série completa de médias mensais deflacionadas (IGP-DI).
No front externo, depois de recuarem com força em outubro e novembro e somarem volume abaixo de 100 mil toneladas, os embarques brasileiros de carne bovina voltaram a subir em dezembro – quando totalizaram quase 127 mil toneladas. Assim, de dezembro/21 para janeiro/22, houve forte aumento de 10,7% na quantidade escoada pelo Brasil. Em um ano, o aumento é ainda maior, de 31%.
Esse cenário é resultado da volta dos envios à China, principal destino internacional da proteína brasileira. Em janeiro, ressalta-se, os envios podem ter sido reforçados pelo feriado do Ano Novo Chinês, comemorado neste início de fevereiro.
Quanto à receita com os embarques, esta somou US$ 727,74 milhões em janeiro (ou R$ 4 bilhões), aumentos de 18,8% (ou de 16% em moeda nacional) frente ao de dezembro/21 e de expressivos 50,3% (ou de 55% em moeda nacional) em relação ao de janeiro/21, ainda de acordo com a Secex.
Outro destaque de janeiro foi a retomada da alta nos preços pagos pela carne bovina brasileira in natura. A média de janeiro/22 foi de US$ 5.178,00/tonelada, a maior desde outubro/21, com avanços de 7,34% frente à de dezembro/21 e de 14,81% em relação a janeiro/21. Quando transformado em reais, o valor pago pela tonelada da carne bovina atingiu R$ 28.612,86, aproximando-se do recorde registrado em setembro/21, de R$ 30.649,48.
O que pode frear o bom momento das exportações ao longo de 2022 é a recente e forte valorização do real frente ao dólar, que acaba reduzindo a competividade da carne brasileira no mercado internacional e limitando os ganhos em moeda nacional de exportadores nacionais.
2021 – Após pouco mais de três meses, os envios de carne bovina à China foram retomados na segunda quinzena de dezembro de 2021. Segundo dados da Secex, foram 6,79 mil toneladas de proteína (in natura, industrializada, miúdos entre outros) exportadas pelo Brasil ao país asiático no último mês de 2021. Ainda assim, aos Estados Unidos, os envios somaram volume mensal recorde, de 30,3 mil toneladas em dezembro, resultado que sustentou pelo segundo mês seguido o país norte-americano como o maior destino da proteína brasileira.
Vale lembrar que, em novembro, o Brasil havia embarcado 17,29 mil toneladas de carne bovina aos Estados Unidos, correspondendo por 17,27% das vendas totais brasileiras. Em dezembro, a quantidade exportada ao país norte-americano correspondeu por 20% do total, ainda conforme dados da Secex.
Os Estados Unidos são grandes produtores da proteína bovina, mas também são importantes demandantes. O país tipicamente exporta carne cara e importa carne barata. Do Brasil, os norte-americanos importaram, em 2021, especialmente carne industrializada – um grande player brasileiro embarcou proteína aos Estados Unidos ao longo de 2021 para a produção de hambúrguer. Do lado financeiro, o real desvalorizado frente ao dólar deixou a carne nacional bastante competitiva e atrativa aos norte-americanos.
Considerando-se o acumulado de 2021, a China ainda foi o maior destino do produto brasileiro, somando 723,447 mil toneladas, queda de 16,8% frente ao ano anterior, mas correspondendo por 39,2% de toda a carne bovina embarcada pelo Brasil. Ainda segundo dados da Secex, no ano, Hong Kong foi o segundo maior destino da proteína bovina nacional em 2021, representando quase 12% dos embarques totais no ano, com 220 mil toneladas, volume 30% abaixo do de 2020.
Aos Estados Unidos – que ficaram na terceira posição no balanço do ano –, as exportações totalizaram 138,44 mil toneladas de janeiro a dezembro de 2021, mais que o dobro da quantidade de 2020 (59,57 mil toneladas), com participação de 7,5% nas vendas totais no ano, de acordo com dados da Secex. Ressalta-se que os envios ao país norte-americano começaram a crescer ao longo do segundo semestre de 2021. Como comparação, em janeiro de 2021, os embarques brasileiros de carne aos Estados Unidos somaram apenas 2,748 mil toneladas, atingindo mais de 30 mil toneladas no encerramento do ano. Para todos os destinos, o Brasil exportou 1,845 milhão de toneladas de carne bovina em 2021, recuo de 8,3% frente ao ano anterior.