Digitais X Analógicos

Geraldo Filgueiras
Diretor de Sucesso do Cliente

Bruno Rodrigues
Gerente Comercial e de Expansão

O confinamento é uma ferramenta estratégica para intensificar a produção pecuária, pois reduz o tempo de permanência dos animais na fazenda, aumenta o giro dando um melhor acabamento nas carcaças e alivia as pastagens nas épocas de seca. No Brasil, são confinados em torno de cinco milhões de cabeças, um número pequeno frente aos mais de 200 milhões de cabeças. Nesse mercado, o preço do milho e do boi magro são fatores determinantes para a lucratividade da operação e não podem ser perdidos de vista. Mesmo sendo uma atividade de alto custo e que produza a carne de maior valor agregado, existe uma enorme heterogeneidade de confinamentos no País, muitos deles ainda sem um processo de produção definido, sem controles das informações, sem um mínimo de planejamento e apuração dos resultados.

Em qualquer empresa, seja ela relacionada à pecuária ou não, é fundamental controlar os resultados e aprimorar processos para ganhar mais dinheiro.  Afinal, se não há gestão, as chances de perder dinheiro ou deixar de ganhar são altíssimas. Nos dias de hoje, um dos caminhos para a profissionalização é, sem dúvida, a estruturação dos dados e informações para orientar as tomadas de decisões, e um passo fundamental seria digitalizar o confinamento.

O que difere um confinamento tradicional, analógico, dos confinamentos digitais?

Pode-se imaginar que o confinamento digital é aquele extremamente informatizado e que usa a tecnologia de todas as formas em seus processos, mas nem tanto! Um confinamento digital não é aquele que tem mais tecnologia, mas sim o que usa a tecnologia certa para obter melhores resultados.

Os pontos em comum de qualquer processo produtivo de confinamento são:

 1 – Análise de insumos. O processo produtivo do confinamento começa na análise dos insumos (disponibilidade e preço) da região. Uma vez definidos os insumos a serem utilizados, um especialista elabora a melhor dieta visando ao ganho de peso e à lucratividade.

2 – Ajustes de infraestrutura. As próximas etapas são os ajustes da infraestrutura do confinamento, currais (baias), cocho, água, cerca, tudo deve estar prontinho para receber os lotes (há o processo de apartação/formação dos lotes), além de toda a estrutura de fábrica para produzir e distribuir a ração para os animais.

 3 – Carregamento das dietas. Etapa importante para o processo, em que a ‘receita’ do que será alimentado é de fato preparada. No entanto, ainda vemos muitos confinamentos que não gerenciam a assertividade do carregamento; uma distorção nessa fase pode comprometer todo o balanceamento da dieta e, consequentemente, o seu resultado financeiro.

 4 – Distribuição. Após o carregamento, vem o momento da distribuição da dieta para os animais e é onde encontramos uma maior distinção de processos dentro dos confinamentos brasileiros.

Nessa etapa do processo, as formas de manejo podem ser diferentes. Existem confinamentos que fazem a oferta via ‘ad libitum’, que é um fornecimento à vontade para os animais de acordo com uma quantidade pré-estabelecida. Há modelos em que o fornecimento da dieta se dá à vontade e não há limite ou mensuração das quantidades ou consumo. Também existe o ‘manejo restritivo’, que é um fornecimento que visa restringir em até 15% o ‘ad libitum’. E, por fim, há o ‘manejo cocho limpo’ e o ‘manejo controlado’. A diferença entre os dois é que no cocho controlado permite-se uma sobra de 1% a 8%, enquanto no cocho limpo o objetivo é 3% de sobra.

Mensuração do escore de cocho

Um dos pontos fundamentais para implementar um manejo de cocho de sucesso é a mensuração do escore de cocho, e é aí que há maiores oportunidades para otimizar o processo.

Na grande maioria dos confinamentos, a leitura de escore é subjetiva e cada colaborador pode ter uma análise diferente perante a sobra de comida. Isso se torna um problema, uma vez que a leitura de cocho afeta diretamente o sucesso do confinamento. Além disso, o processo de leitura de cocho é moroso, o operador coleta o escore em papel para, depois, realizar um lançamento, e só então ajustar os demais tratos do dia.

Mensurar o consumo dos animais é um importante indicador de tendência para monitorarmos o ganho de peso dos animais e ajustar estratégia para encontrar o ‘ponto ótimo de abate’ (momento em que o animal atinge o ponto ideal entre a relação de conversão perante o mercado, valor da @).

Um dos pontos que contribuem para o sucesso do confinamento são as rotinas de ‘ronda da operação’, nas quais o time de campo deve se atentar ao comportamento dos animais, à análise da infraestrutura, para que possa intervir em problemas sanitários e de comportamento de forma rápida e com menor impacto em ganho de peso.

Todos esses pontos são comuns tanto nos confinamentos analógicos como digitais. Porém, a falta de informação precisa e ágil é o principal problema de um confinamento analógico, no qual mensurar o consumo dos animais sem tecnologia e processos bem estruturados é quase impossível e o consumo é o principal indicador que norteia aonde se vai chegar em relação ao ganho de peso e ao resultado.

Nos confinamentos analógicos, é quase como se fosse realizada uma “necropsia do paciente”. Navega-se no escuro durante toda a operação, com muitas dúvidas e incertezas, e os resultados só serão conhecidos após o abate dos animais. Falamos “necrópsia” porque, mesmo que se saiba o que deu errado, o animal já estará morto. Não há nada que possa ser feito para recuperar o resultado. Todos os pontos não controlados e não gerenciados na operação impactam diretamente o caixa e o bolso do pecuarista.

Em um confinamento digital, por sua vez, é possível realizar o “check-up do paciente” diariamente. Todos os dias, por meios dos processos estruturados, da gestão das informações e das tomadas ágeis de decisão, pode-se assegurar a “saúde” mesmo antes do abate. É possível projetar cenários e corrigir a rota antes que seja tarde demais.

Um confinamento digital automatiza a coleta de dados, evitando erros de anotações e apontamentos, e otimiza o uso do tempo dos colaboradores para que eles possam estar mais atentos às rotinas do dia e ao comportamento dos animais. Nesta modalidade, compartilha-se a informação em todos os níveis hierárquicos, para que todos tenham um mesmo objetivo (lucratividade) e um senso de urgência mais apurado, gerando insights para a melhoria do processo produtivo. Com o apoio da tecnologia, sobra tempo para a capacitação das pessoas e para a orientação na tomada de decisão de tudo aquilo que tem potencial para alterar o resultado futuro da operação. Possibilita, ainda, capturar oportunidades de mercado.

Planejamento de excelência

Uma operação de confinamento não é algo trivial, são muitos processos e há grande complexidade na gestão de uma “indústria de carne a céu aberto”. Porém, é possível buscar aprimoramento gradativo, subindo um degrau de cada vez, até que se alcance a excelência.

1 – Planejamento de excelência: antes do início da operação, é fundamental ter o planejamento estratégico e o plano tático, definindo objetivos e metas claras para a produção, resultados zootécnicos e financeiros. Estratégias de compra de matérias-primas, de animais e comercialização do produto são fundamentais para o resultado do negócio. Sobretudo, fornecem números que podem se transformar em metas e orientar o trabalho do time da operação, fazendo uma conexão estreita entre o que se pretende na estratégia e como o plano tático vai suportar esse desafio todos os dias.

2 – Gestão das principais etapas do processo: a gestão da rotina é essencial para garantir resultado produtivo. Afinal, são necessárias consistência e disciplina para assegurar o máximo desempenho. Se qualquer ponto do processo diário estiver comprometido, muito provavelmente não se chegará ao resultado planejado.  As principais métricas a serem avaliadas são: desvio de carregamento do vagão, consumo em relação à curva meta, estabilidade do consumo e desvio do fornecimento.

3 – Ferramentas digitais para informação: um bom software deve possibilitar a transformação dos dados em conhecimento. É no software que, dia após dia, vai ser possível acompanhar movimentos precisos de tudo o que foi realizado pelos funcionários e pelo rebanho, prevendo situações de risco e oportunidades de melhoria da produtividade. Ter as informações à mão e em tempo real são condicionantes de uma boa plataforma. O PRODAP Views, mais avançado software de gestão da pecuária de corte do Brasil, é um ótimo exemplo de robustez e agilidade. Desenvolvido em parceria com fazendas de referência, o sistema possibilita uma visão 360 graus do negócio, desde a concepção e o planejamento, passando pelo controle da rotina como nenhum outro e gerando insights e informações por meio de Inteligência Artificial, acelerando o reconhecimento de problemas e a tomada de decisão em tempo real.

4 – Evolução contínua: a tecnologia sempre será coadjuvante no processo de qualquer fazenda ou empresa. O protagonismo sempre esteve e estará com as pessoas. Dessa forma, um confinamento digital precisa de um time treinado, engajado e que consegue entregar os resultados. A educação e a capacitação nos sistemas e processos é fundamental para garantir a evolução contínua e a escalada dos resultados. Em nosso processo de consultoria, chamamos de “escada da parceria”, pois os degraus são etapas a serem vencidas na entrega de resultados.

Implantando as soluções digitais e capacitando a equipe, os resultados melhoram. Com as metas batidas, é hora de estabelecer um novo degrau e continuar a escalada do sucesso!

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