Créditos de Carbono na Pecuária: Uma visão geral

Fernanda Marcantonatos Nogueira
Líder de Bovaer® para América Latina

As vacas podem ajudar na luta contra as mudanças climáticas

Na última seção Mundo Sustentável, falamos sobre a relevância da pecuária na nutrição do planeta e na subsistência de muitas empresas, fazendas e famílias em todo o mundo. Como qualquer outra atividade produtiva, a produção animal possui um impacto ambiental. De acordo com estimativas mais recentes da ONU/IPCC, a atividade é responsável por 14.5% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) globalmente, sendo que a pecuária representa 66% desse total (1).

Por causa da representatividade do setor no cenário de emissões globais, muitos governos, indústrias e até mesmo bancos vêm buscando na pecuária uma solução para a redução de seu impacto ambiental. A sustentabilidade vem moldando os negócios em diversas geografias, seja pelos planos de pagamento por emissões do governo da Nova Zelândia, pela reestruturação de fazendas na Holanda ou pelas discussões de mercados de créditos de carbono no Brasil. Onde há uma ameaça para alguns, há oportunidade para outros.

Afinal, o que é pegada de carbono?

De acordo com a ABNT online, a pegada de carbono é a quantidade total de emissões de Gases de Efeito Estufa de maneira direta ou indireta por um determinado produto ao longo do seu ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas até seu descarte final.

Nem todos os Gases de Efeito Estufa têm o mesmo poder de aquecimento ou o mesmo tempo de permanência na atmosfera terrestre. Por isso, a pegada de carbono é medida em “carbono equivalente” ou “CO2e”, uma conversão dos efeitos do GEE para o seu equivalente em dióxido de carbono ou CO2.

Essa conversão é feita com base no índice GWP (Global Warming Potential), que é calculado pelo IPCC, o painel intergovernamental de mudanças climáticas da ONU – composto pelos melhores cientistas no campo ao redor do mundo. O GWP é baseado no poder de absorção de calor e tempo de vida dos diferentes Gases de Efeito Estufa na atmosfera.

Esses números são revisados periodicamente e divulgados em relatórios. Por exemplo, O IPCC 5th Assessment Report 2014 (AR5) mostra que, em um período de 100 anos, o metano tem um GWP de 28 vezes a do dióxido de carbono.

Por que existem e o que são créditos de carbono?

“Crédito de carbono” é o termo utilizado para atribuir um valor à redução, mitigação ou captura de emissões de GEE alcançadas por um projeto certificado. Considerando o conceito de “carbono equivalente”, uma unidade certificada de crédito (VCU) equivale a uma tonelada de CO2e.

O crédito de carbono pode ser usado por uma empresa, organização ou indivíduo para compensar sua pegada de carbono, remunerando financeiramente uma atividade que reduziu ou sequestrou os Gases de Efeito Estufa, além de trazer outros benefícios para o desenvolvimento sustentável (UNFCCC). Ou seja, créditos de carbono gerados pela atividade pecuária no Brasil podem compensar as emissões de GEE de outras indústrias, como aviação e automobilística, inclusive em outras geografias.

Os créditos emitidos podem ser comercializados em dois mercados: (1) Voluntário, em que a geração e a compra de créditos acontece de forma espontânea pelas empresas, geralmente por uma pressão de mercado; e (2) Regulado, um mercado obrigatório, no qual os governos impõem metas de emissão geralmente para setores específicos da economia.

Existem diversos tipos de crédito no mercado, a depender de como foram originados. Florestas, eficiência de processos, tratamento de efluentes e resíduos e até mesmo geração de energia renovável podem gerar créditos de carbono. Para atividades agropecuárias, há oportunidades na geração desses créditos pela mudança de uso da terra e pela utilização de aditivos redutores de metano, como a tecnologia Bovaer® do portfólio da dsm-firmenich.

Alguns exemplos de tipos de créditos de carbono referentes à mudança de uso da terra estão detalhados no gráfico abaixo:

Tipos de créditos de carbono referentes à mudança de uso da terra.

Como emitir um crédito de carbono?

Existem diversos organismos internacionais especializados na contabilização e verificação de Gases de Efeito Estufa nos quais são gerados créditos de carbono. De acordo com a WayCarbon (3), os mais conhecidos e aplicáveis às empresas brasileiras são o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL ou CDM, na sigla em inglês) da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima (mais conhecida por sua sigla em inglês UNFCCC), além de padrões de verificação independentes como a Verra, com seu Verified Carbon Standard (VCS), e o Gold Standard.

Os créditos de carbono são gerados por meio de projetos certificados, que devem ser registrados como um projeto de investimento em algum dos organismos internacionais listados acima. Isso quer dizer que devem seguir metodologias específicas, funcionando como protocolos-padrão para a geração desses créditos. Usando o exemplo de projetos com o uso de Bovaer®, já existem metodologias públicas registradas junto à Verified Carbon Standard e Gold Standard que permitem a geração desses créditos de carbono (4,5).

Em um fluxo regular de geração de créditos de carbono, os projetos devem passar por estudos de eligibilidade e viabilidade técnica e econômica, para, então, avançar à fase de registro junto aos organismos de verificação, processos de validação, auditoria e monitoramento. Após essas etapas, o crédito de carbono poderá ser emitido e comercializado.

É importante enfatizar que o processo de registro e monitoramento ocasiona um investimento financeiro por parte do dono do projeto gerador de créditos de carbono. Assim, é interessante que os projetos tenham uma escala que resulte em um volume de créditos que justifique esse investimento, uma análise que pode ser realizada para projetos individuais ou agrupados por uma consultoria especializada em mercados de carbono.

Fontes:

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