E para escolher a melhor opção, de acordo com as necessidades e as possibilidades do produtor, não tem mistério: é preciso planejamento!
Mylene Abud
Embora cerca de 80% da carne bovina brasileira ainda seja produzida a pasto, a intensificação da pecuária nacional via confinamento é uma tendência que traz diversas vantagens para um sistema de produção competitivo e sustentável. E que vem crescendo a cada dia. Conforme levantamento do Censo de Confinamento dsm-firmenich 2022, estruturado pelo Serviço de Inteligência de Mercado (SIM) da companhia, existem atualmente no País cerca de 6,95 milhões de bovinos confinados, o que representa um crescimento de 4% em relação a 2021. O estudo também apontou uma alta significativa de 46% no número de animais confinados em 2022 em relação ao primeiro levantamento realizado pela empresa (2015), que registrou 4,75 milhões de bovinos produzidos em confinamento.
Entre os principais benefícios da prática estão aliviar o uso do pasto na época seca; retirar os animais mais pesados das pastagens, liberando-as para categorias com menor exigência nutricional, reduzir o período de engorda, elevar a produtividade e melhorar a qualidade da carne, além de proporcionar maior lucratividade com o aumento do giro de capital.
“O confinamento é uma ferramenta estratégica e uma tendência que contribui para melhorar a produtividade do rebanho. Os pecuaristas brasileiros estão percebendo isso e se movimentando para adotar as altas tecnologias que temos disponíveis no mercado, ao mesmo tempo que adequam as suas fazendas para receber essas soluções”, destaca Hugo Cunha, gerente técnico Latam de Confinamento da dsm-firmenich.
Além do confinamento tradicional, que requer mais investimentos em estrutura e mão de obra, o semiconfinamento e a TIP (Terminação Intensiva a Pasto) são soluções mais simples, porém eficientes, para a engorda e a finalização. E podem ser utilizadas ao longo do ano com benefícios aos produtores. Mas como escolher a melhor opção?
Segundo Luis Bosque, Gerente Técnico Regional de Confinamento da dsm-firmenich para as regiões Centro-Oeste e Norte, essa definição é individualizada e precisa estar relacionada à época do ano e, principalmente, aos objetivos e à estrutura da propriedade. “O semiconfinamento funciona melhor até o mês de maio, quando começa a cair a qualidade do capim. Agora que estamos na época mais seca do ano, o confinamento e a TIP (Terminação Intensiva a Pasto) são as melhores alternativas. Quem tem estrutura, faz confinamento. Quem não tem, faz a TIP com maior quantidade de ração”, explica, acrescentando que ambas são táticas interessantes, pois a arroba se torna mais barata para o produtor.
“Para efeito de comparação entre os dois sistemas mais simples, no semiconfinamento, o animal recebe de 1% a 1,2% do Peso Corporal. Isso equivale a 6 kg de ração/cabeça/dia. O restante da necessidade, ele busca no pasto. Já na TIP, esses números dobram, e ele consome 2% de seu peso em ração. Dessa maneira, aumenta a eficiência do animal. Outro ponto importante é a taxa de lotação: enquanto o semi trabalha com cerca de quatro animais/ha, na TIP é possível colocar de oito a 10 animais por hectare”, acrescenta o Consultor Técnico Regional da dsm-firmenich, Guilherme Sene.
Carne com mais qualidade
Comparadas ao pasto, essas três opções de intensificação da engorda produzem carne de nível superior. “Esses sistemas encurtam o ciclo de produção e diminuem a idade dos animais ao abate, o que já contribui para melhorar a qualidade”, fala Guilherme Sene, observando que, para melhores resultados, é necessário um incremento energético na dieta. “Em ordem crescente em termos de qualidade de carne, temos o semiconfinamento, mais simples e com os menores custos operacionais; a TIP, que já apresenta elevado rendimento de carcaça; e o confinamento, considerado a melhor estratégia para acabamento, em que os animais apresentam maior proporção de gordura, carne com mais marmoreio”, complementa Luis Bosque.
E todos os três sistemas permitem produzir bois no padrão exigido pela China, nosso maior comprador, que chega a pagar até o dobro do oferecido no mercado interno. “O Boi China é fácil de fazer, não requer muito acabamento, ter no máximo 30 meses e quatro dentes. Os machos precisam de um peso mínimo entre 16 e 17 arrobas, mas produzimos animais acima de 20 arrobas para aproveitar a carcaça”, explica Luis Bosque. “Hoje, abatemos animais com até 24 meses. Mas, se não tiver algum desses três sistemas, é difícil. Na intensificação da engorda, você vai produzir de cinco a oito arrobas entre 90 e 120 dias (que a pasto levaria um ano), antecipando minimante de seis a oito meses esse animal”, completa Guilherme Sene. “E se acrescentarmos outras tecnologias, como genética, creep-feeding antes da desmama e suplementação estratégica pós-desmama, por exemplo, conseguimos encurtar em até um ano a idade ao abate”, argumenta.
Suplementação estratégica e planejamento
Para escolher a melhor forma de terminação dos animais, de acordo com as necessidades e as possibilidades da fazenda, não tem mistério: é preciso planejamento! Em mais um ano desafiador, com queda de preço da arroba do boi gordo e reduzida margem dos sistemas de terminação , é essencial ter as contas na ponta do lápis e se preparar para lançar mão das melhores estratégias.
Dentre elas, independentemente do objetivo do pecuarista – seja para fazer o boi China ou para produzir mais, em menos tempo e em menor área – a adoção de uma estratégia alimentar para o rebanho é fundamental para os bons resultados dos sistemas intensivos de engorda.
Ou seja, mesmo representando cerca de 20% dos custos de produção, podemos afirmar que a nutrição é um dos principais segredos do sucesso não apenas da terminação intensiva, mas de todo o processo produtivo. “Se bem manejada, se bem conduzida com aditivos e tecnologias, a suplementação nutricional faz toda a diferença. Quanto melhor utilizar essa alimentação e usar eficiência desses animais, maior vai ser o retorno financeiro”, garante Luis Bosque.
“Enquanto a TIP e o semiconfinamento têm o pasto, é preciso produzir o volumoso para o confinamento. Isso precisa ser feito com antecedência, porque volumoso não se compra, diferentemente do milho, do farelo de soja, do caroço de algodão. Precisa planejar, não tem milagre”, enfatiza Luis Bosque. O ideal, explica, é fazer ainda nas águas esse planejamento para o período mais desafiador, que é a seca. “Para quem não pode, é possível usar a silagem do ano anterior até o milho safrinha ficar pronto. Mas, também nesse caso, é necessário um plano de ação. Se vai plantar lavoura de volumoso, milho, quando terá colheita. Ou se vai usar silagem de capim com volumoso excedente das águas e ensilado”, adverte.
“O pecuarista precisa se planejar, a ter uma boa gestão”, confirma Guilherme Sene. Segundo o Consultor Técnico da dsm-firmenich, o pecuarista deve estar ciente de seus principais custos de produção, encabeçados pela aquisição do boi magro, que representa cerca de 70% do total. “Se ele errar a compra, os 20% dos gastos em alimentação não vão ser suficientes para corrigir. É preciso de todo um planejamento e de uma boa gestão dentro da porteira para a compra de animais, insumos, genética etc., a fim de travar os custos de produção”, ressalta.
Pecuária de precisão
A tomada de decisão sobre confinar ou não os animais, e de que forma, baseia-se principalmente nos seguintes indicadores: preço da arroba do boi gordo (venda) e preço da reposição (boi magro); preço de compra e disponibilidade dos insumos do confinamento; e mercado futuro (norteador que auxilia na tomada de decisão). Para efetuar um planejamento adequado e ter dados confiáveis, os produtores contam com a Pecuária de Precisão, que inclui softwares, consultoria e nutrição.
“A avaliação faz parte do nosso planejamento nutricional para o ano todo nas propriedades. Categorizamos rebanhos por sexo e idade, para termos ideia de como estarão ao longo do ano. Dependendo do peso do animal e a disponibilidade das pastagens, ajudamos o produtor a definir sobre o confinamento e o tipo de sistema”, reforça Luis Bosque.
“Além das soluções nutricionais e do atendimento técnico permanente dos nossos técnicos a campo, com a vinda da Prodap, incorporamos ao nosso portfólio ferramentas para gestão, que vão auxiliar o cliente com números”, complementa Guilherme Sene.
A melhor nutrição
Além de complementar a dieta do rebanho no pasto, a suplementação nutricional com produtos de ponta é estratégica. E essa formulação é feita de forma individualizada, de acordo com os objetivos e as possibilidades de cada fazenda. Para os animais em sistemas de confinamento, semiconfinamento ou TIP, a avaliação levará em conta aspectos, como condições das pastagens, alimentos disponíveis e preços, tipos e características dos animais que serão terminados, peso de entrada e de abate pretendido. Assim, com o auxílio da equipe técnica da DSM, será possível determinar a melhor relação entre o volumoso e o concentrado, viando ao melhor custo-benefício.
Na tabela 1, temos um comparativo entre o semiconfinamento e a TIP, com o uso de Crina®, em um período de 120 dias, de um a três giros anuais (comentar os resultados).
Já a tabela 2 traz o mais recente Benchmarking de Confinamento, realizado pela dsm-firmenich em maio, que avalia os resultados zootécnicos de clientes da companhia que utilizam diferentes tecnologias nutricionais. “Foram comparados os resultados de 2.325.000 animais em 649 fazendas clientes da empresa, confinados em uma média de 95 dias, com o uso da linha standard x produtos tecnológicos. A inclusão de soluções como Crina®, Rumistar™ e HY-D® nas dietas somaram ganho de mais de 18% em GMD de carcaça e ganho adicional de 1,23@ no mesmo período de confinamento, que resultaram em rentabilidades acima de 40%”, destaca Hugo Cunha.
Em um cenário desafiador e competitivo, nossos três entrevistados são unânimes em afirmar que o uso das tecnologias com planejamento são fundamentais para o sucesso da atividade. “No cenário atual, o pecuarista precisa ter o máximo de eficiência dentro da fazenda. Ele tem que cuidar do seu negócio de forma profissional, caso contrário, poderá ficar fora do mercado”, resume o gerente técnico Latam de Confinamento da dsm-firmenich, Hugo Cunha.