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Como alavancar os resultados da fase de cria produzindo bezerros de qualidade - Noticiário Tortuga

Como alavancar os resultados da fase de cria produzindo bezerros de qualidade

Victor Valério de Carvalho
Zootecnista, D.Sc., Supervisor de Bovinos de Corte – Ruminantes LATAM

A pecuária de corte brasileira tem se consolidado como modelo de produção devido à adoção de tecnologias, que têm resultado em aumento de produtividade e da qualidade do produto final de maneira sustentável. No entanto, há um enorme potencial para melhorar a eficiência, por meio da redução do ciclo produtivo (ou idade de abate) e do aumento da produção de arrobas por hectare.

A fase de cria ainda apresenta um enorme potencial para melhoria dos índices produtivos e econômicos, que, atualmente, situam-se nos patamares mais baixos em comparação com as fases de recria e engorda. A produção de kg de bezerro desmamado por matriz exposta à reprodução tem sido apontada como o índice que mais impacta esse cenário, principalmente com a arroba do bezerro valorizada, atingindo cerca de 450 reais por arroba (Cepea, julho 2021). Para aumentar esse número, além de ser fundamental obter ótimos índices reprodutivos, é necessário desmamar bezerros mais pesados, pois esta é a principal fonte de receita em operações de cria.

O aumento do peso de desmame dos bezerros aumenta a eficiência da fase de cria. E, ao melhorar o desenvolvimento dos bezerros durante a fase de amamentação, o tempo para abate pode ser reduzido. A pecuária de cria tem evoluído em ritmo acelerado, devido à maior adoção de tecnologias reprodutivas e ao melhor ajuste da estação de monta, favorecendo a época de nascimento dos bezerros, e, também, ao melhoramento genético dos zebuínos, com a crescente utilização da inseminação artificial. Como resultado, tem-se produzido bezerros com elevado potencial em resposta em ganho de peso, porém, para expressar esse potencial genético, o manejo nutricional deve ser compatível.

A Nutrição do bezerro de qualidade começa na fase de gestação das matrizes
Diversos estudos, realizados em diferentes partes do mundo e no Brasil, demonstram claramente que a condição nutricional das vacas durante a gestação impacta diretamente a formação dos tecidos do feto e, dessa forma, impacta toda a vida do bezerro em seu desempenho e qualidade. Isso se deve a um fenômeno conhecido como programação fetal, em que os resultados de pesquisa e da prática demonstram que o bezerro advindo de mães bem nutridas apresentam melhor desempenho, tanto na fase de cria quanto na terminação. Isso ocorre porque as células do tecido muscular e grande parte das células do tecido adiposo dos animais são formadas durante a gestação. E a nutrição da matriz afeta o número de células que o bezerro terá ao nascimento, desses tecidos extremamente importantes para sua produção e qualidade.

Sob condições de baixa disponibilidade de forragem presente em pastagens naturais e em pastos degradados, tanto a condição nutricional da vaca e sua produção de leite após o parto, assim como o consumo de forragem pelos bezerros, são limitados. Estas situações resultam em pesos à desmama situados entre 3,5 e 5 arrobas ou até mesmo em pastagens cultivadas, com peso variando de 5 a 6 arrobas. Rebanhos constituídos por matrizes que experimentaram seleção para habilidade materna, criados em pastos manejados para quantidade e qualidade, podem registrar peso à desmama de 6 a 7 @ (Paulino et al. 2018).

Estratégias para otimizar o desempenho do nascimento ao desmame
A maior parte dos nutrientes ingeridos pelos bezerros nos primeiros meses de vida é suprida pelo leite materno. Porém, após três meses de idade, o leite não é suficiente para atender às exigências nutricionais dos bezerros para obter desempenho (GMD) acima de 900 g/dia (BR-CORTE, 2016). Dessa forma, para complementar a dieta, os bezerros dependem cada vez mais dos nutrientes advindos do pasto. Mas, simultaneamente à fase decrescente de produção de leite das matrizes, ocorre o decréscimo na produção e na qualidade do pasto, devido à transição entre as estações águas-seca na maioria dos sistemas de produção no Brasil, enquanto as exigências nutricionais dos bezerros aumentam à medida que o crescimento avança (BR-CORTE, 2016). Consequentemente, os bezerros não expressam o potencial que possuem em desempenho.

Nesse contexto, o fornecimento de suplementos concentrados para bezerros ao pé das matrizes, em uma área restrita aos bezerros (técnica conhecida como creep-feeding) possibilita obter bezerros machos desmamados com 8 a 10@, e fêmeas com 8 a 9 @ (Paulino et al. 2018, Carvalho et al 2019).

Entre o segundo e o quarto mês de idade, ocorrem mudanças consideráveis no trato digestório dos bezerros, época em que se tornam efetivamente ruminantes. O leite materno é uma excelente fonte de energia e proteína, sendo altamente digerido pelos bezerros. No entanto, os bezerros de corte, assim como os bezerros de leite, apresentam o reflexo da goteira esofágica, em que o leite não cai no rúmen e passa direto para o intestino. Dessa forma, o fornecimento de suplementos nessa fase é fundamental para a maximização da produção de proteína microbiana e o aumento da produção de ácidos graxos voláteis, que, além de aumentar o aporte de energia para ao animal, estimula o   desenvolvimento das papilas ruminais. Fato que, além de aumentar diretamente o suprimento de energia e proteína para o bezerro, melhora sua capacidade de digestão da forragem.

Estudos recentes também demonstraram que o fornecimento de suplementos concentrados para bezerros em fase de cria estimula a formação e o desenvolvimento de células do tecido adiposo intramuscular, o famoso tecido que dá origem ao marmoreio na carne, fenômeno conhecido como metabolic imprinting (impressão metabólica).  No trabalho de Scheffler et al. (2014), o fornecimento de suplemento concentrado para bezerros Angus na fase de cria, além de melhorar o desempenho, resultou no aumento de 25% no escore de marmoreio desses animais após o abate. Sendo assim, essa estratégia é muito interessante para as fazendas que buscam o mercado de maior valor agregado nos programas de qualidade de carne.

Tecnologias para formulação de suplementos para creep-feeding
Trabalho recente que analisou os resultados de 18 artigos publicados sobre creep-feeding em pesquisas brasileiras, realizadas entre 2007 e 2017 (Carvalho et al. 2019), recomenda, para maximizar o peso à desmama e a eficiência de utilização do suplemento, a formulação e fornecimento de suplementos proteico-energéticos nas quantidades de cinco a sete gramas para cada kg de peso corporal, contendo entre 25 e 20% de proteína bruta.

Existem, ainda, tecnologias que podem ser usadas para promover os resultados com os suplementos no creep-feeding. Além desse ajuste das quantidades fornecidas e do teor proteico dos suplementos, as fontes de minerais de alta tecnologia e biodisponibilidade, como, por exemplo, os carbo-amino-fosfoquelatos (Minerais Tortuga®), podem promover a saúde e o desempenho dos animais. Um trabalho realizado com bezerros Nelore demonstrou que o fornecimento de Cromo Tortuga® em suplementos proteicos para “creep” aumenta o ganho de peso dos bezerros em 10% e reduz a concentração de cortisol na fase de transição do desmame dos animais, comprovando os efeitos dessa tecnologia na redução do estresse dos bezerros nesse período crítico (Souza et al. 2020).

Além de minerais, para intensificação da fase de cria, a suplementação de vitaminas A, D e E é uma ferramenta imprescindível para garantir a saúde e promover o desempenho e a qualidade dos animais. Em um estudo realizado por Harris et al. (2018), o fornecimento de vitamina A suplementar para bezerros de corte aumentou o GMD em 11,4% na fase de cria (Gráfico 1) e, ainda, resultou em efeitos de longo prazo nesses animais que foram terminados em confinamento, em que os bezerros que receberam vitamina A na cria apresentaram um aumento em 15% no escore de marmoreio da carne após o abate, o que significou incremento na classificação da qualidade da carcaça desses animais (Gráfico 2).

A Tortuga®, uma marca da DSM, desenvolveu e lançou recentemente uma solução para formulação de suplementos de alto desempenho para creep-feeding, o Fosbovi® Núcleo Boi Verde Prima. Esse núcleo para mistura e formulação de suplementos e rações fornece macro e microminerais, contendo Minerais Tortuga®, vitaminas A, D e E em níveis para uma suplementação vitamínica ótima (OVN®) e o aditivo salinomicina, que promove o crescimento e auxilia na prevenção de coccidiose nos bezerros.

  

*Diferentes estatisticamente.Gráfico 1- Ganho Médio Diário (GMD) de bezerros de corte que receberam ou não vitamina A suplementar na fase de cria.

 

Gráfico 2- Escore de marmoreio de animais terminados em confinamento que receberam ou não vitamina A suplementar na fase de cria (Harris et al. 2018). *Diferentes estatisticamente.

 

 

 

Referências:

Carvalho V.V. et al, A.G. A meta-analysis of the effects of creep-feeding supplementation on performance and nutritional characteristics by beef calves grazing on tropical pastures, Livestock Science, v. 227, p. 175-182, 2019.

Exigências Nutricionais de zebuínos puros e cruzados (BR-CORTE, 2016). Em: Exigências nutricionais de vacas de corte lactantes e seus bezerros, Cap. 11, pág. 283-310,  disponível em http://www.brcorte.com.br.

Harris, Corrine L. et al. Vitamin A administration at birth promotes calf growth and intramuscular fat development in Angus beef cattle. Journal of animal science and biotechnology, v. 9, n. 1, p. 1-9, 2018.

Paulino, M.F. et al,. Modelos dietéticos para bezerros de corte lactentes em sistemas otimizados de produção de carne bovina. Em: XI Simpósio de Produção de bovinos de corte/ VII Simpósio internacional de produção de bovinos de corte, v. 11, p. 173-200 (2018)..

Scheffler, J. M., et al. “Early metabolic imprinting events increase marbling scores in fed cattle.” Journal of animal science 92.1 (2014).

Sousa, Isadora KF et al. Influence of organic chromium supplementation on the performance of beef calves undergoing weaning-related stress. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 40, n. 2, p. 97-101, 2020.

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