Com demanda doméstica fraca, preço médio da carne é o menor desde outubro de 2019

Thiago Bernardino de Carvalho – Pesquisador da Equipe de Pecuária do Cepea
Alessandra da Paz – Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea

Os valores médios mensais da carne bovina (carcaça casada), negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, atravessaram os oito primeiros meses de 2022 em movimento de queda. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da ESALQ/USP, a oferta de animais para abate seguiu baixa na maior parte deste ano, enquanto as exportações vêm registrando desempenho recorde. Assim, o cenário de desvalorização da carne está atrelado ao baixo consumo da proteína bovina no mercado brasileiro devido ao fragilizado poder de compra da população nacional, sobretudo em decorrência da elevada inflação.

No acumulado deste ano (entre dezembro/21 e agosto/22), a carcaça casada bovina registra desvalorização de 9,5%, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI). Considerando-se a série de dados do Cepea, a média de agosto ficou em R$ 19,94/kg, sendo 3,4% inferior à de julho/22, 9% abaixo da de agosto/21 e, também, a menor média real desde outubro de 2019, quando esteve em R$ 17,95/kg. Igualmente, o valor médio da carcaça não operava abaixo de 20 reais/kg desde outubro de 2019.

Dentre os cortes bovinos levantados pelo Cepea, por sua vez, o que vem mais influenciando a carcaça casada é a desvalorização do traseiro, que tem maior valor agregado. No acumulado da parcial deste ano, o valor médio mensal do traseiro registra queda de 17%, também no atacado da Grande São Paulo, a R$ 22,30/kg em agosto. Já o dianteiro bovino, que representa os cortes de menor valor agregado, valorizou 2,7% na parcial de 2022, com a média de agosto a R$ 17,57/kg.

Aqui é importante ressaltar também que, analisando-se a série de preços da carne negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, verifica-se que os valores do traseiro geralmente registram queda no primeiro semestre, mas se recuperam no segundo. Já no caso do dianteiro, o movimento é o contrário, com alta nos preços na primeira metade do ano e recuos na segunda metade. No entanto, neste ano, o que chama a atenção é o limitado avanço nos preços médios mensais do dianteiro, o que evidencia a menor demanda brasileira pelo corte.

Na contramão do mercado doméstico, as cotações da carne exportada continuam em escalada ao longo deste ano. De acordo com dados da Secex, o valor médio da carne bovina in natura vendida pelo Brasil foi de R$ 35,15/kg em julho/22, alta nominal de 22,86% neste ano e de 25,44% em 12 meses (frente à média de julho/21). Essa valorização se deve à aquecida demanda externa pela carne brasileira.

Diante disso, a diferença entre os preços da carne que fica no mercado interno e a exportada foi a maior da história em julho/22, de 14,41 reais/kg, com vantagem para a proteína enviada ao exterior. Até então, a maior diferença havia sido registrada em junho deste ano, de 13,95 reais/kg.

Fonte: Cepea-Esalq/USP

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