CEPEA: Oferta reduzida e demanda firme impulsionam valores da reposição

Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador da Equipe de Pecuária do Cepea
Alessandra da Paz
Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea

Os preços de animais para reposição – bezerro e boi magro – vêm registrando consistente movimento de alta em 2019. O impulso vem da restrição de oferta de animais ao longo deste ano, o que, por sua vez, pode estar atrelada ao crescente volume de fêmeas (novilhas e vacas) abatidas no País nos últimos trimestres. Além disso, a demanda brasileira por animais para abate está firme, tendo em vista o bom desempenho das exportações.

E essa aquecida procura por boi gordo para abate, consequentemente, aumenta a demanda por novos lotes de reposição, cenário que tem se intensificado nestes últimos meses, devido aos maiores volumes de animais em confinamento.

Outro motivo que tem elevado a demanda por animais de reposição é o patamar de preço apontado no mercado futuro de boi gordo na B3. Para o início de 2020, os contratos têm sido ajustados na Bolsa na casa dos R$ 172,00, acima do físico atual, que está por volta de R$ 160,00. O contrato Outubro/20, por sua vez, é negociado na casa dos R$ 178,00.

De acordo com dados do Cepea, no estado de São Paulo, o boi magro foi negociado em setembro por volta de R$ 2.100,00/cabeça, o que representa valorização de 11,3% frente à média de janeiro deste ano, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de agosto/19. Colaboradores consultados pelo Cepea chegaram a relatar dificuldades na compra de novos lotes de boi magro.

Essa alta no preço do boi magro de janeiro a setembro, inclusive, é a maior para esse período desde 2014, quando a valorização chegou a quase 20%. Vale lembrar que, naquele ano, uma forte seca atingiu o Brasil e, como resultado, elevou com força os preços do setor pecuário. Para o bezerro, a cotação média de setembro, também no estado de São Paulo, está próxima de R$ 1.400,00, alta real de 3,9% em relação à verificada em janeiro.

Médias nominais da arroba e da carne são as maiores das séries. Enquanto a oferta de animais para abate segue restrita, as exportações brasileiras de carne bovina in natura continuam aquecidas. Esse cenário, por sua vez, tem reduzido a disponibilidade doméstica de carne e elevado a demanda por novos lotes de animais para abate, o que, por sua vez, mantém firme os preços domésticos da arroba do boi gordo e, consequentemente, da carcaça negociada no mercado atacadista.

Nesse cenário, em setembro, os valores médios mensais da arroba do boi gordo e da carcaça casada, ambos em São Paulo, foram os maiores das séries históricas do Cepea, em termos nominais.

A média do boi gordo (Indicador ESALQ/B3, à vista, mercado paulista) foi de R$ 158,31 em setembro, a maior nominal da série histórica do Cepea, iniciada em 1994. No entanto, em termos reais, ou seja, considerando-se a inflação do período, a média de setembro é a maior desde março de 2018 (que foi de R$ 159,00) e está bem abaixo do recorde, de R$ 189,89, verificado em abril de 2015 (as médias foram deflacionadas pelo IGP-DI de agosto/19). A média de setembro do boi gordo superou em 2,53% a de agosto e em 3,22% a de setembro do ano passado, em termos reais.

Quanto à carne negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, a média de setembro da carcaça casada do boi foi de R$ 10,73/kg, também a maior, em termos nominais, da série do Cepea (neste caso, iniciada me 2001). Já em termos reais, a média de setembro é a mais elevada desde março deste ano (de R$ 10,75/kg) e está bem abaixo do recorde, de R$ 12,15/kg, também observado em abril de 2015. A média de setembro da carcaça casada do boi registra altas de 2,1% frente ao mês anterior e de 4,1% em relação à de setembro do ano passado, também em termos reais.

De forma inédita, volume se mantém acima de 100 mil toneladas por 15 meses – Apesar do pequeno recuo observado frente a agosto, o volume de proteína embarcado pelo Brasil em setembro se manteve acima das 100 mil toneladas pelo 15º mês consecutivo, desempenho inédito para a pecuária nacional, de acordo com dados da Secex. A última vez que a quantidade se manteve acima desse patamar por tantos meses seguidos foi entre maio de 2006 e junho de 2007, somando 14 meses consecutivos. Em setembro, foram embarcadas 123,72 mil toneladas de carne in natura, quedas de 2,2% frente ao mês anterior e de 17,88% em relação a setembro do ano passado, quando, vale lembrar, o volume exportado atingiu recorde, somando 150,66 mil toneladas, de acordo com a Secex.

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