Natural de Caicó e criada em Cruzeta, ambos municípios do Rio Grande do Norte, Maria Suely Goes de Araújo Medeiros cresceu em uma família com forte tradição no comércio voltado ao agronegócio. “Desde a infância, convivi com o exemplo de meus pais, que, além da atividade comercial, dedicavam-se à agropecuária no seu próprio sítio, à compra de algodão e à venda de ração. Eles sempre valorizaram o estudo e o trabalho como caminhos dignos para uma vida honrada e para a conquista do sucesso. Concluí o ensino médio e decidi não cursar o ensino superior, optando por seguir a carreira empresarial. Com o tempo, desenvolvi um verdadeiro amor pelo comércio e por tudo que envolve o universo do empreendedorismo”, conta.
Aos 16 anos, Maria Suely começou a trabalhar como sacoleira e, com a ajuda dos pais, abriu sua primeira conta bancária e usou o dinheiro emprestado por eles para comprar mercadorias. Ao mesmo tempo em que os ajudava na mercearia da família, Maria Suely vendia roupas e calçados. Foi nesse período que conheceu seu futuro marido, Hélio Medeiros. Também nascido em Caicó, ele havia se mudado temporariamente para Cruzeta com o intuito de abrir a Casa do Sertanejo, especializada na venda de produtos veterinários e implementos agrícolas. “Após nos conhecermos, ele transferiu a loja para Caicó, onde permanecemos até hoje, completando 40 anos de serviços prestados ao homem do campo”, salienta.
Após o casamento, Suely manteve as atividades no ramo da moda, enquanto Hélio seguia à frente do comércio. Dois anos depois, aos 26 anos, ela decidiu unir forças com o marido na loja que, na época, tinha um único funcionário e necessitava de mais uma pessoa para atender adequadamente à demanda.
Ao ingressar no setor agropecuário, enfrentou inúmeros desafios pessoais e profissionais. “Como esposa, mãe de dois filhos e empresária, minha rotina era intensa. Precisei aprender, muitas vezes de forma autodidata e com grandes dificuldades, a dinâmica do comércio de produtos veterinários e agropecuários. Planejei cuidadosamente os nascimentos dos meus filhos e, mesmo assim, retornava ao trabalho apenas quinze dias após o parto. Frequentemente, saía da loja às pressas para amamentá-los, dividindo-me entre as responsabilidades profissionais e os cuidados com a família”, revela.
O preconceito foi outro obstáculo a ser superado. “Como mulher jovem, de baixa estatura (1,58 m) e atuando em um ambiente predominantemente masculino, enfrentei preconceitos e barreiras impostas pelo machismo e pela logística da época. Mas aprendi desde cedo a me impor, a me valorizar e a me posicionar como mulher para conquistar meu espaço em um universo liderado por homens”, ressalta. Com o marido quase sempre em atendimentos na zona rural e visitas a fornecedores, coube a ela a responsabilidade de gerenciar a loja, além de cuidar da casa e dos filhos.
Nesse processo de adaptação e aprendizado, ela encontrou apoio e conselhos valiosos em conversas com clientes experientes que frequentavam a loja e compartilhavam suas histórias de vida. “Quando cheguei a Caicó, não conhecia ninguém além do meu esposo e de sua família, por isso, cada vínculo construído teve grande importância em minha trajetória, entre amigos e clientes”, relembra.
Com o passar dos anos, a Casa do Sertanejo foi crescendo e, em 2012, passou a ter sede própria localizada na rua Generina Vale, 766, no centro da cidade – endereço no qual está até hoje. E a equipe de um único funcionário passou para os atuais 30 colaboradores, graças à expansão da loja para outros setores, como pet, irrigação e sais minerais. “Por ter atuado em todas as áreas da empresa, aprendi a valorizar profundamente o trabalho dos nossos colaboradores, que considero peças fundamentais para o sucesso do negócio. Acredito firmemente que um ambiente de trabalho acolhedor e humano, aliado a uma gestão eficiente, é o segredo para se alcançar resultados duradouros”, ensina.
Paralelamente à empresa, Maria Suely passou a investir no ramo imobiliário, adquirindo imóveis para locação. E abriu espaço para dar mais atenção à sua saúde física e emocional. “Com os filhos criados – o mais velho já é médico e a caçula está terminando Medicina Veterinária –, eu me tornei uma mulher mais resiliente e empoderada, cuidando não apenas dos negócios, mas de mim mesma”, explica. Para ela, manter-se ativa e praticar atividades físicas, com disciplina e envolvimento, tornou-se parte essencial da rotina. “Acredito que esse equilíbrio é o verdadeiro segredo do sucesso para toda mulher que deseja empreender, construir um legado e alcançar sua autorrealização”, arremata.