Para o atual Ministro da Agricultura, o setor precisa trabalhar unido, construindo pontes para o futuro
Riba Velasco
Carlos Henrique Baqueta Fávaro tem a cara dos desbravadores que saíram do Sul do Brasil para lavrar o Centro-Oeste, há quarenta anos. Olhos claros, vívidos e pele branca de família de origem italiana, ele nasceu em Bela Vista do Paraíso, norte do Paraná, filho de pequenos produtores que venderam suas terras e foram tentar a vida em um assentamento agrário em Mato Grosso. Instalado em Lucas do Rio Verde/MT, cultivou soja, milho, sorgo e arroz. Atualmente, com 53 anos, investe na criação de gado e venceu como produtor, líder de entidades de classe, e na vida pública. Senador da República pelo estado, foi Vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil, em 2010, Presidente da Associação em Mato Grosso, de 2012 a 2014, e Presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Lucas do Rio Verde, de 2007 a 2011. Entrou na política em 2014, e ainda atuou como Secretário de Estado de Meio Ambiente. No Senado, foi membro titular das comissões de Meio Ambiente (CMA), Agricultura e Reforma Agrária (CRA), e Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR). Teve como primeiro projeto aprovado o uso da aviação agrícola no combate a incêndios florestais. Além disso, conseguiu assegurar a aplicação do mínimo de 30% do valor recebido para as candidaturas proporcionais femininas. Também foi o responsável pela criação dos grupos parlamentares Brasil-Bolívia e Brasil-Irã, que viram fortalecer as relações comerciais entre os países.
Mesmo assim, Fávaro foi recebido com desconfiança pelo agro Brasil quando foi nomeado pelo presidente Luis Ignácio Lula da Silva para comandar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). “Todos precisam compreender que a eleição acabou. E o nosso setor precisa trabalhar unido, construindo pontes para o futuro”. É a frase que ele não cansa de repetir desde o início do ano, em cada rincão do agro que visita no País.
Não foi diferente em Uberaba (MG), em fevereiro, quando passou um sábado inteiro trabalhando e prestigiando a posse do novo presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Gabriel Garcia Cid, na sede da entidade, no Parque Fernando Costa. O Noticiário Tortuga acompanhou a passagem do ministro por Uberaba e conversou com ele sobre o agronegócio brasileiro, os planos, projetos e metas para apoiar a moderna pecuária do País, que precisa de tecnologias modernas, principalmente na área da Nutrição. Acompanhe.
Noticiário – Qual a importância da suplementação nutricional para melhorar a produtividade da pecuária brasileira para pequenos, médios e grandes produtores do País?
Carlos Fávaro – No dia em que entra um animal na minha propriedade, ele é recebido com suplementação. Assim, você atinge um rendimento melhor, aproveitando o potencial genético do bovino de forma mais rápida. Cabeças bem nutridas, com boa ambiência, água de qualidade. Assim, vão performar muito melhor. Acredito muito na ciência, na adoção de novas técnicas, para intensificarmos de forma sustentável a nossa Pecuária.
Noticiário – Qual a sua opinião sobre o estágio da pecuária bovina do Brasil?
Carlos Fávaro – O trabalho realizado por empresas, produtores e entidades na Pecuária é fantástico. A própria ABCZ é um templo da atividade. Fiquei muito feliz de conhecer o programa de genética da entidade, o PMGZ, e o Integra Zebu, que fortalecem a produção sustentável e vão ao encontro das nossas propostas de transformar a pecuária de baixa produtividade em pastagens de alta produção. Para isso, precisamos de recursos e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o Banco do Brasil estão se preparando com o apoio total do MAPA.
Noticiário – O que mais pode ser feito pela carne e pelo leite dos bovinos?
Carlos Fávaro – A pecuária precisa de pastagem de qualidade, intensificação de pastagem, suplementação mineral e, também, abrir espaço para a agricultura. Dos 170 milhões de hectares utilizados pela atividade, pelo menos 40 milhões estão propícios à agricultura. É quase dobrar tudo o que foi feito desde 1500 até agora, sem desmatar nada. Temos que dobrar o número de tratores, colheitadeiras, empregos, oportunidades no campo e na cidade, usar genética, nutrição de qualidade, cuidado sanitário.
Noticiário – O Presidente Lula defendeu que o País precisa exportar menos para atender a população brasileira com alimentos. O senhor também pensa assim?
Carlos Fávaro – O humor do mundo mudou em relação ao Brasil. Tivemos a abertura dos mercados para a Indonésia, o algodão para o Egito, o que é uma grife para o nosso produto, novas plantas habilitadas para a China. É um trabalho do MAPA, feito há muito tempo, por outros ministros, como Marcos Montes e Tereza Cristina, por exemplo. Estamos abrindo cada vez mais mercados e isso é muito bom para o nosso país.
Noticiário – No início de seu trabalho, o senhor viajou para a Europa. Como está a imagem do Brasil lá fora?
Carlos Fávaro – Está muito abalada, mas será retomada com muita determinação. O humor do mundo já virou em relação ao nosso país.
Noticiário – E o crédito para o agro, como fica?
Carlos Fávaro – Temos mais do que exemplo a fase anterior do Governo Lula, que foi a melhor para o crédito em toda a história. Isso é incontestável. Tivemos o Moderfrota, Moderinfra, Programa mais Alimentos para pequenos produtores, o crédito rural foi ampliado, o crédito agrícola com taxas de juros reduzidas. É uma determinação nossa à Secretaria de Política Agrícola, que já começa a escrever o Plano Safra, fortalecendo o programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), as boas políticas. É a marca que queremos deixar. Apoio ao fortalecimento da agricultura familiar. Não existe uma só agricultura no País, são várias e todas muito importantes. A moderna e a pequena. Mas a familiar precisa do poder público mais próximo, para levar extensão rural, qualificação, financiamento. A política agrícola que vai ser feita será nesse sentido, de reforçar o amparo aos pequenos e médios. Ao mesmo tempo, no caso dos grandes, o foco será levar o financiamento para investimentos, renovação de máquinas, construção de armazéns, renovação de pastagens degradadas, qualificação e crédito para intensificar a nossa produção.
Noticiário – O senhor reforça a importância de integrar a mulher ao Agronegócio. Como é isso?
Carlos Fávaro – Olhe, passei aqui, em Uberaba, berço do Agronegócio no Triângulo Mineiro, um município administrado por uma mulher, a primeira prefeita daqui. Um símbolo da tão sonhada igualdade entre homens e mulheres pregada pelo Presidente Lula. Também teremos essa política implantada. Quero e estou trabalhando pelo novo presidente da Embrapa, que muito provavelmente será uma mulher, depois de cinquenta anos de atividades da entidade. Estaremos ampliando a participação das mulheres, onde elas estiverem. Universidades, entidades, nas fazendas, empresas. E vou trabalhar neste sentido.
Noticiário – Qual sua visão sobre um tema muito defendido pelo partido do seu presidente, a Reforma Agrária?
Carlos Fávaro – Nós precisamos dar prioridade para homens e mulheres que têm vocação para produzir alimentos. E dar apoio. Eu sou fruto de um assentamento de Reforma Agrária. Há quarenta anos, minha família chegou a um lugar assim, no Centro-Oeste. Fui cliente da Reforma Agrária. Vivi o dia a dia da ausência do poder público. Por isso, hoje tenho o propósito de que todo movimento que busca ajudar essas pessoas vai ter 100% do meu apoio. Com estrutura, assistência técnica, orientação, crédito.
Noticiário – E a Integração Lavoura-Pecuária, vai ter o apoio do MAPA?
Carlos Fávaro – A Integração é um modelo para mostrarmos ao mundo. Muitos países tentam discutir a agricultura em busca da sustentabilidade com a ‘desintensificação’. Como é o caso da Alemanha. Estive no encontro da agricultura verde na Europa, ao lado de 66 ministros da Agricultura e de outras 17 entidades internacionais, e levei a nossa mensagem de sustentabilidade, pedindo respeito ao que estamos fazendo. Nosso sistema é diferente. É a intensificação dos modelos produtivos, ocupando melhor o solo e combatendo o desmatamento. Dando suporte àquele pedaço de chão, com resultados e cuidado com as áreas.
Noticiário – E sua postura diante de áreas que podem ser desmatadas por lei?
Carlos Fávaro – Veja, precisamos tirar a pressão sobre o desmatamento. Intensificar, aumentar a produção, dar oportunidade de mais empregos, o que vai exigir mais máquinas, equipamentos, indústrias. Temos ainda muitas áreas passíveis de produção, mas que estão ociosas. São oportunidades para o produtor rural empreender com financiamentos a juros baixos e justos, para lavrar com baixo impacto, tendo prazos longos para pagar, ajudando o fazendeiro a produzir mais.
Noticiário – Quais as maiores garantias do ministro Fávaro ao agro do Brasil?
Carlos Fávaro – Eu garanto o direito do produtor à segurança. Eu também sou produtor rural. Estamos protegidos por lei. O direito à propriedade é intocável. Produtores que fazem queimadas e desmatamento não representam o agronegócio do Brasil. A Reforma Agrária pode ocorrer em áreas públicas e até em terras privadas, desde que o dono queira vender. Com valor justo, de mercado. Fora isso, não será concebido.
Noticiário – Qual marca o senhor deseja deixar à frente do Mapa?
Carlos Fávaro – Quero ser um ministro contemporâneo, que pensou em formas de ganhar mais mercados para o Brasil, que pode ajudar a Embrapa a fazer novas revoluções. Pensarmos na Embrapa e na agropecuária do futuro, o que vamos produzir em 2050, inovação tecnológica, conectar o homem do campo à internet. Competitividade, formação dos colaboradores. Esse é o agro do futuro que precisamos implementar. Quero convocá-los para me ajudar nesta tarefa. Deixar a eleição de lado. A eleição acabou. E vai ter outra daqui a quatro anos. E talvez não estejamos unidos de novo. Não tem problema. Isso faz parte da democracia. Mas, agora, é hora de fortalecer o setor. Fazer um agro inclusivo, pois somos gente de bem.
Noticiário – Como o senhor quer ser visto no futuro?
Carlos Fávaro – Como um ministro que deu sequência às boas políticas públicas implementadas por todos os excelentes profissionais que me precederam. Marcos Montes, Blairo Maggi, Tereza Cristina, Kátia Abreu, Roberto Rodrigues, Neri Geller, Reinhold Stephanes, entre outros. Foram ótimos comandantes da Pasta. E vou com toda a equipe técnica trabalhar na mesma linha. Minha marca será a de um ministério contemporâneo, que pensou o futuro, como será a agropecuária, como vamos plantar, atuando ao lado de institutos de pesquisa como a Embrapa, intensificando cada vez mais, porém com baixo impacto, aumentando a produção, mas sem promover desmatamento.