Caio Carvalho: O Agro é a geopolítica do Brasil no mundo

Para o novo presidente da ABAG, Caio Carvalho, é fundamental ajustar as narrativas sobre o País, as ações comerciais, e ter uma coordenação público-privada para a valorização do setor, salientando a qualidade da produção, sua competitividade e as baixas emissões de carbono

Mylene Abud

Mesmo em um momento difícil em razão da Covid-19, o Agro brasileiro continuou a crescer e a garantir empregos. A afirmação é de Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o Caio, que reassumiu a presidência da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio em janeiro deste ano. Para ele, mesmo com as incertezas trazidas pela variante ômicron, a pandemia ajudou a mostrar a relevância do Agro nos negócios do País.

“Temos uma especial atenção para com os esforços a serem feitos na valorização do grande negócio do Brasil: o Agro! O Agro é a geopolítica do Brasil no mundo e a ações proativas que o País deve tomar. Será fundamental ajustar as narrativas sobre o nosso país, as ações comerciais e uma fundamental coordenação público-privada nesse tema, salientada a qualidade da nossa produção, sua competitividade e baixas emissões de carbono”, conceitua o engenheiro-agrônomo Caio Carvalho.

Formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ/USP) em 1973, com pós-graduação em Agronomia e em Administração pela Faculdade de Economia e Administração da USP e pela Vanderbilt University (EUA), o novo presidente da ABAG tem atuação marcante no setor de açúcar e álcool. É, ainda, conselheiro da UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar; do SIAESP – Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de São Paulo; da UDOP – União dos Produtores de Bioenergia e membro do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Ele acredita na competência do agricultor e do pecuarista brasileiro para enfrentar as adversidades da atividade, fundamentados na ciência. E aposta no uso da tecnologia. “Os insumos modernos, os suplementos e a nutrição, assim como produtos voltados à saúde e bem-estar animal, são essenciais à evolução da agropecuária brasileira, da sua produtividade e da qualidade de seu rebanho”, fala o presidente da ABAG, na entrevista que você confere a seguir.

Noticiário Tortuga – Depois de quase dois anos de pandemia, qual a expectativa para o setor agropecuário, um dos pilares do PIB brasileiro, para 2022? A variante ômicron influencia negativamente essas projeções?
Caio Carvalho – Durante a pandemia, o Agro seguiu crescendo e ampliando empregos! Essa foi a realidade desse setor da economia brasileira, que veio permitindo superávits na balança comercial do País. A variante ômicron, quando surgiu, trouxe grave grau de incertezas que vêm se dissipando com novas projeções de recordes de ofertas do Agro, mesmo com problemas de clima no sul do País. A pandemia teve importante papel em acentuar a relevância do Agro nos negócios do Brasil.

Noticiário Tortuga – Segundo projeções da CNA e do Cepea, o PIB do agro deve encerrar 2021 com um crescimento de 9,37%.  E, para 2022, a expectativa é que este resultado seja até 5% maior. A que se deve esse cenário positivo?
Caio Carvalho – Em primeiro lugar, isso acontece porque o Agro brasileiro teve sua plataforma de desenvolvimento toda baseada em ciência. Enquanto os países do Hemisfério Sul fizeram uma adaptação das tecnologias do Hemisfério Norte, o Brasil desenvolveu a sua própria tecnologia agrícola tropical. Conseguiu dominar o Cerrado e suas variações no País, com ganhos de produtividade muito maiores que a expansão da área de produção.

Noticiário Tortuga – A volta da China ao mercado contribuiu para estes números? A relação de interdependência com o país asiático preocupa o setor?
Caio Carvalho – Em dez anos, houve enorme mudança no perfil das exportações brasileiras, com a fantástica expansão da China. Sem dúvida alguma, foi o destino principal das exportações do Agro brasileiro. O importante ao Brasil é a expansão de acordos comerciais com outras regiões no mundo, a começar com a União Europeia, por exemplo. Essa diversificação trará maior segurança estratégica ao País.

Noticiário Tortuga – Quais os principais desafios para agricultores e pecuaristas neste ano? A crise hídrica e os fatores climáticos podem comprometer os resultados?
Caio Carvalho – O Brasil é extremamente competitivo, incluído nisso a sustentabilidade de sua elevada capacidade competitiva. Há algumas questões relevantes ao Brasil e ao seu sistema produtivo que merecem especial atenção: a) a luta pela redução do desmatamento na lógica da lei; e b) a regulamentação do Código Florestal. Os desafios do Brasil seguirão na lógica do seu protagonismo nas questões relativas à segurança alimentar e energética, em nível global. Fatores conjunturais, como hídricos ou climáticos deverão ser enfrentados com a competência do agricultor brasileiro, em parceria com o setor público.

Noticiário Tortuga – Equalizando os desafios, como o Brasil pode contribuir para combater a insegurança alimentar mundial agravada com a pandemia e, ao mesmo tempo, promover o crescimento social e econômico com sustentabilidade?
Caio Carvalho – Em primeiro lugar, com a continuidade nos investimentos em pesquisa. Em segundo lugar, com as claras mensagens de confiança no Brasil, que atraiam o capital e acordos comerciais. E, em terceiro lugar, seguir investindo em tecnologia e crescendo a oferta, com diversificação e agregação de valor.

Noticiário Tortuga – Nesse sentido, qual a importância da nutrição animal e da suplementação com produtos tecnológicos para intensificar a produção com saúde e bem-estar animal e cuidados com o meio ambiente?
Caio Carvalho – Os insumos modernos, os suplementos e a nutrição, assim como produtos voltados à saúde e bem-estar animal, são essenciais à evolução da agropecuária brasileira, da sua produtividade e da qualidade de seu rebanho. Ganhos de produtividade e uso intensivo do espaço e dos subprodutos setoriais são essenciais ao setor.

Noticiário Tortuga – No início deste ano, o senhor reassumiu a presidência da ABAG. Quais os principais pilares da sua gestão?
Caio Carvalho – Temos uma especial atenção para com os esforços a serem feitos na valorização do grande negócio do Brasil: o Agro! Assim, o Agro é a geopolítica do Brasil no mundo e a ações proativas que o País deve tomar. Será fundamental ajustar as narrativas sobre o nosso país, as ações comerciais e uma fundamental coordenação público-privada nesse tema, salientada a qualidade da nossa produção, sua competitividade e baixas emissões de carbono.

Noticiário Tortuga – No último congresso da ABAG, muito se falou sobre a necessidade de o Agro Brasil melhorar a sua comunicação interna e externamente. Qual o caminho para que isso aconteça?
Caio Carvalho – Esse tema se insere no que abraçaremos na atenção citada na resposta anterior. Será a consequência dos esforços que faremos. O Brasil estará em coordenação público-privada atuando de forma a salientar seus valores e seu protagonismo no Agro.

Noticiário Tortuga – O potencial agroambiental brasileiro é enorme e, ainda no último congresso da ABAG, a ministra Teresa Cristina disse que o Brasil poderá ser o principal player nos investimentos verdes. O que falta para isso acontecer?
Caio Carvalho – Sem dúvida alguma, a visão pós-Acordo de Paris, com a COP 26, valorizou tremendamente o Brasil e o potencial representado pela sua bioeconomia. Ser proativo no debate global é o início desse processo, com uma coordenação público-privada atuante. Coordenação é o nome desse jogo em 2022.

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