Boi magro e milho sobem, mas preço futuro viabiliza confinamento

Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador de pecuária do Cepea, da ESALQ/USP

Com o fim do período das águas e o início da época das secas, pecuaristas, especialmente os que realizam confinamento, atentam-se aos preços do boi magro e da alimentação (milho, principalmente). Além disso, produtores também analisam a movimentação dos valores do boi gordo no mercado futuro (B3), com o intuito de gerenciar a receita.

No geral, parte dos produtores que confina animais já fez as contas dessa atividade de engorda. No entanto, a pandemia de Covid-19 e as consequentes incertezas geradas no mercado fizeram com que muitos pecuaristas adiassem e/ou limitassem a entrada de gado no cocho. Por isso, este é um momento importante de decisão para muitos produtores, que devem avaliar se aumentam o volume de animais enviados ao confinamento ou se seguem limitando-o.

Considerando-se o atual cenário, ainda que os preços do boi magro e do milho estejam bem acima dos verificados no mesmo período do ano passado, os ajustes dos contratos futuros de boi gordo na B3 sinalizam viabilidade do confinamento neste ano. Ressalta-se, porém, que as estratégias de investimentos de cada produtor devem ser pautadas no que aconteceu no passado e, principalmente, na capacidade de cada um fazer sua atividade.

BOI MAGRO – O item de maior custo dentro do sistema de confinamento, podendo variar de 60% a 75%, é o boi magro. Na média do estado de São Paulo, o boi magro foi negociado a R$ 2.933,55 em maio, com avanços de 12,7% no acumulado parcial deste ano (de dezembro/19 a maio/20) e de 37,3% frente a maio de 2019, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/20).

No caso do bezerro, o cenário é semelhante. O animal de 8 a 12 meses, também comercializado no mercado paulista, teve média de R$ 1.994,43 em maio, patamar recorde real da série histórica do Cepea (iniciada em 1994 para este produto), sendo 19% superior à de dezembro/19 e 41,2% acima da registrada em maio de 2019.

MILHO – O segundo fator na decisão no momento de confinar é a alimentação, com bastante importância para o milho. Apesar do alto patamar no final do ano passado e no início de 2020 – em março/20, inclusive, a média mensal do cereal atingiu recorde nominal da série do Cepea –, os valores atuais estão enfraquecendo, contexto que vem favorecendo a dieta de confinamento.

Segundo a Equipe de Grãos do Cepea, a recente queda nos preços do milho esteve atrelada à pressão exercida por compradores, que estão atentos à colheita de segunda safra. Apesar do atraso do semeio em algumas regiões, o clima favorável na finalização do desenvolvimento tende a elevar a produtividade e resultar em produção recorde.

A Equipe de Grãos do Cepea ressalta que as atividades de campo envolvendo a segunda safra ainda estavam no começo na primeira semana de junho, mas já se observava maior oferta de cereal no mercado de lotes, com possível crescimento na oferta em julho.

Dados divulgados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em junho, indicam produção de 100,99 milhões de toneladas, 0,9% superior à temporada anterior e um recorde. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), por sua vez, indicou, também no relatório de junho, produção brasileira de 101 milhões de toneladas na safra 2019/20.

Por outro lado, caso o dólar siga elevado, as exportações brasileiras de milho podem voltar a ser impulsionadas, reduzindo a oferta doméstica e, consequentemente, sustentando as cotações nos portos e no interior do País.

Em maio, a média do Indicador do milho ESALQ/BM&FBovespa (região de Campinas – SP) foi de R$ 47,96/saca de 60 kg, sendo 3,2% abaixo do de dezembro do ano passado, mas quase 35% acima do verificado em maio/19,
em termos reais.

BOI GORDO – Os contratos futuros do boi gordo para o segundo semestre, negociados na B3, mostram um patamar de preços interessante para a atividade de confinamento, mas ainda inferior ao registrado em novembro e dezembro do ano passado, quando atingiram recordes. Entre o final de maio e o início de junho, o contrato futuro setembro/20 era negociado em torno de R$ 203,00/@, o outubro/20, de R$ 202,00/@, novembro/20, de R$ 204/@, e dezembro/20, de R$ 209/@.

SIMULAÇÃO – Estudo de acompanhamento de rentabilidade de confinamento realizado pelo Cepea mostra que, para este ano, o produtor que decidir confinar no segundo semestre, para entregar o animal no final de dezembro, e negociar seu boi no mercado futuro ou a termo de dezembro/20 (a R$ 210,00/@), pode ter rentabilidade de até 5,02% ao mês (chegando a 16,55% em 95 dias) – aqui foram considerados os preços do milho futuro em julho, de R$ 44,47/sc de 60 kg, e os do boi magro de R$ 3.000,00/cabeça. Foram considerados, também, ganho de peso diário de 1,7 quilograma, rendimento de carcaça de 55% e custo da arroba engordada de R$ 184,68/@.

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