Cristina Simões Cortinhas e Guilherme de Souza Vasconcellos
Especialidades Ruminantes DSM América Latina
A crescente demanda por alimentos é uma realidade nos dias de hoje. Intensificar a produção de carne e de leite por unidade de área considerando a segurança alimentar, o meio ambiente, o bem-estar e a qualidade nutricional dos produtos de origem animal é um caminho sem volta, tornando-se uma das principais demandas da sociedade moderna. Com a busca por melhores índices produtivos e econômicos nas atividades pecuárias, novos desafios para os bovinos começam a emergir.
Incrementar o desempenho produtivo faz com que o metabolismo dos animais fique mais ativo e, com isso, aumenta, também, a quantidade de espécies reativas de oxigênio (EROs) no organismo, causando o chamado “estresse oxidativo”. Quando em excesso, as EROs podem desencadear distúrbios metabólicos, doenças, perda de desempenho e baixa fertilidade. O betacaroteno, precursor da vitamina A, é conhecido por ser um dos melhores antioxidantes da natureza. Além de reduzir os efeitos deletérios do estresse oxidativo, este carotenoide melhora os índices de fertilidade, a resposta imune e a rentabilidade dos negócios de gado de corte e de leite.
A principal fonte de betacaroteno aos ruminantes são as forragens verdes, de boa qualidade. A disponibilidade do betacaroteno diminui nesta fonte de alimento conforme a seca avança nas pastagens, além de também ser comprometida em decorrência de processos de conservação e armazenamento de forragens, como ocorre nas silagens e nos fenos. Quando as vacas sofrem o balanço nutricional negativo no período pósparto ou até mesmo quando passam períodos de privação alimentar durante a seca, terão o desenvolvimento dos oócitos prejudicados pelo estresse oxidativo, levando a atrasos na concepção do embrião e ao aumento no intervalo de partos.
Uma vez dentro do organismo, o betacaroteno terá um efeito antioxidante nos folículos, contribuindo para uma melhor regulação na síntese dos hormônios como estrógeno/progesterona e, consequentemente, elevando as taxas de prenhez. Além disso, com uma melhor nutrição vitamínica, as vacas passam a produzir colostro de melhor qualidade, melhorando também a transferência de imunidade passiva aos bezerros nascidos. Assim, a suplementação com betacaroteno se faz necessária, principalmente em momentos de grande estresse metabólico para os animais, como no período de transição, no parto e durante a estação de monta.
Em estudo publicado por Gouvea et al. (2018), vacas Nelore multíparas em pastejo, que receberam suplementação mineral com Fosbovi® Reprodução com betacaroteno e as vitaminas A, D, E e biotina durante a estação de monta, apresentaram taxa de concepção 15,6% maior após a primeira Inseminação Artificial em Tempo Fixo – IATF, quando comparadas às vacas que receberam apenas suplemento mineral sem vitaminas (66,6% vs. 57,6%, respectivamente; P=0,04; Figura 1). Os autores mostraram, ainda, que existe uma correlação positiva entre os níveis sanguíneos de betacaroteno e as taxas de prenhez (P=0,06), ou seja, quanto maiores os níveis de betacaroteno no sangue ao início do protocolo de IATF, maior a probabilidade de as vacas emprenharem.
Um segundo estudo (Vasconcellos et al., 2018), desta vez realizado em vacas primíparas, também comprovou o efeito do pacote vitamínico nesta categoria, elevando a taxa de prenhez em 16,6% após a primeira IATF (68,6% vs. 58,8%, P=0,07) e em 8,2% ao término da estação de monta (91,2% vs. 84,3%, P=0,08), comparando com vacas que receberam somente a suplementação mineral. Mais recentemente, Factor et al. (2020), além de comprovar os benefícios reprodutivos já citados, também identificou um efeito marcante do pacote vitamínico na recuperação do escore de condição corporal (ECC; Figura 2) após o parto, tendo as vacas suplementadas com vitaminas apresentado maior ECC na IATF (3,00 vs. 2,81) e no primeiro diagnóstico de gestação (3,11 vs. 3,03; P<0,0001).
Estes resultados comprovam que a utilização das vitaminas e do betacaroteno atua em sinergia, promovendo maior taxa de prenhez no momento inicial da estação de monta e, consequentemente, maior número de nascimentos de bezerros ao início da estação de parição no ano seguinte, os chamados “bezerros do cedo”. Com impactos positivos para as fazendas de cria, a maior quantidade de bezerros nascidos na época “do cedo” trará machos mais pesados no momento da desmama e fêmeas aptas a reproduzirem mais rapidamente, possibilitando uma diminuição no ciclo produtivo da bovinocultura de corte.
Para a pecuária leiteira, o betacaroteno tem particular sentido, uma vez que atua diretamente melhorando os índices reprodutivos do rebanho e que os problemas reprodutivos representam cerca de 26% das causas de descarte de vacas (IFCN 2017). Podemos dizer que altas taxas de reposição e intervalos longos entre partos são dois fatores que afetam drasticamente a lucratividade do produtor de leite. Vacas com intervalos entre partos mais longos permanecem mais tempo no estágio mais avançado da lactação, quando a produção de leite é mais baixa. Além disso, um rebanho com alta taxa de reposição tem, consequentemente, um maior número de primíparas que produzem cerca de 20% menos leite do que vacas de segunda lactação em diante.
Diversos estudos têm demonstrado os benefícios do betacaroteno para vacas leiteiras. No estudo realizado por Kawashima et al. (2009) foi verificado que os níveis plasmáticos de ß-caroteno antes do parto determinam quando as vacas produzem o primeiro folículo dominante após o parto. Neste estudo, vacas com maior concentração de betacaroteno
plasmático nas últimas três semanas pré-parto ovularam, enquanto as com status mais baixo não ovularam (Figura 3).
Em silagens, a concentração de betacaroteno diminui com o tempo de armazenamento devido a sua degradação na presença de oxigênio e de enzimas, que se tornam ativas com o tempo. Assim, silagens de capim e de milho têm baixa concentração de betacaroteno, sendo necessário suplementar a vaca para um melhor desempenho reprodutivo.
Em uma pesquisa realizada com a suplementação de betacaroteno dos 21 dias pré-parto até os 70 dias em lactação, houve redução no número de abortos de 10% para zero e aumento na taxa de concepção de 12 pontos percentuais, nas vacas que foram inseminadas aos 70 dias de lactação (Bian et al., 2007). Outros autores reportaram aumento na taxa de gestação de 14 pp, em vacas com 120 dias em lactação e 90 dias de suplementação com betacaroteno (Arechiga et. al, 1998).
Para termos uma ideia do tamanho da importância no retorno da fazenda, é mais fácil transformar a melhora nos índices reprodutivos em retorno econômico. Segundo De Vries (2006), o custo de um aborto é de 555,00 dólares e o valor de uma gestação é de 278 dólares. Calculando apenas a redução na taxa de aborto de 10% em um rebanho de 100 vacas, teríamos um menor custo de 5.550 dólares ou 26.640 reais ( 1 dólar = 4,8 reais). Se fizermos o mesmo cálculo para o aumento na taxa de prenhez de 14% em um rebanho de 100 vacas, teremos um retorno de 3.892 dólares ou 18.681 reais.
Quando suplementado para vacas no pré-parto, o betacaroteno também pode beneficiar as bezerras, filhas das mães suplementadas. Bezerras que consumiram o colostro de vacas suplementadas com betacaroteno registraram maior quantidade de imunoglobulinas (IgG), que estava mais alta nas vacas suplementadas (Aragona et al. 2017). Essas IgG são anticorpos que irão proteger as bezerras contra doenças até que seu sistema imune se torne funcional.
A DSM é uma empresa que investe e gera conhecimento técnico e inovador. Com liderança global em vitaminas, tem colaborações com universidades e centros de pesquisa para comprovar, na prática, o benefício de suas avançadas tecnologias nutricionais.
Com a maior e mais bem preparada equipe técnica do País, transformamos nossa ciência brilhante em benefícios zootécnicos e econômicos para o produtor rural, garantindo que seus negócios sejam lucrativos e aliados às necessidades da população atual por alimentos seguros e sustentáveis.
REFERÊNCIAS
Aragona et al., 2017. Effects of supplemental β-carotene to prepartum dairy cows on colostrum quality and the pre-weaned calf. In: ADSA-ASAS Joint Annual Meeting, Pittsburgh, PA
Aréchiga et al., 1998. Effects of timed insemination and supplemental β-carotene on reproduction and milk yield of dairy cows under heat stress. Journal of Dairy Science, 81: 390-402.
Bian et al., 2007. The influence of β-carotene supplementation on post-partum disease and subsequent reproductive performance of dairy cows in China. Journal of Animal and Feed Sciences, 16, Suppl. 2, 370–375.
De Vries, 2006. Economic Value of Pregnancy in Dairy Cattle. Journal of Dairy Science, 89:3876-3885. Factor et al., 2020. Supplementation with betacarotene and vitamins improves pregnancy rate in timed AI beef Nellore cows grazed in pasture systems. In: ASAS-CSAS Virtual Meeting 2020.
Gouvea et al., 2018. The combination of β-carotene and vitamins improve the pregnancy first fixed-time artificial insemination in grazing beef cows. Livestock Science, 217: 30-36.
Kawashima et al., 2009. Relationship between plasma β-carotene concentration during the peripartum period and ovulation in the first follicular wave postpartum in dairy cows. Animal Reproduction Science, 111: 105–111.
Vasconcellos et al., 2018. Effects of β-carotene and vitamins at fixed timed artificial insemination (FTAI) in grazing Nellore primiparous cows. Journal of Animal Science, 96: 450-451.