Altas do boi magro e do milho desafiam o confinador, mas margem pode ser positiva

Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador da Equipe de Pecuária do Cepea, da ESALQ/USP

Alessandra da Paz
Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea, da ESALQ/USP

O cenário econômico brasileiro e o comportamento dos preços do boi magro e dos grãos nestes primeiros meses de 2021 mostram que este ano deverá ser novamente desafiador a terminadores. Para buscar uma margem positiva, pecuaristas precisam, além de avaliar com cautela o movimento dos valores dos insumos, usar de modo eficaz ferramentas de gestão de seus custos de  produção.

No caso de confinamentos – sistema que abateu cerca de 6,2 milhões de cabeças em 2020, de acordo com estimativas da DSM –, o boi magro e o milho são os itens de maiores custos, podendo chegar a representar de 90% a 95% dos gastos totais, dependendo da região do País.

E os preços de boi magro seguem operando em patamares recordes em muitas regiões levantadas pelo Cepea. Esse cenário é reflexo da oferta restrita de animais – vinda desde 2019 – e, também, das valorizações do boi gordo, que estimulam pecuaristas a demandarem animais para terminação.

De acordo com o levantamento do Cepea, a média de preços do boi magro comercializado no estado de São Paulo em março estava próxima de R$ 4.600,00/cabeça, alta de 5% frente ao mês anterior e quase 21% acima da registrada em março do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI).

Quanto ao milho, importante insumo utilizado na alimentação animal, atingiu, em março, novo recorde diário real da série histórica do Cepea – o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (representado pela região de Campinas/SP) fechou a R$ 93,44/saca de 60 kg no dia 17. Até meados de março, o preço médio do milho estava em torno de R$ 90/saca, com avanços de 7% frente ao de  fevereiro/21 e de significativos 23,7% em relação a março do ano passado, também em termos reais.

Segundo a Equipe de Grãos do Cepea, enquanto produtores de milho seguem com as atenções voltadas ao campo, compradores mostram dificuldades em recompor estoques. Vale lembrar que os preços internos do milho estão recordes mesmo com estimativas oficiais indicando possível produção também recorde na safra 2020/21.

SAZONALIDADE – Um fator que deve ser visto com bastante atenção pelos pecuaristas confinadores é a sazonalidade dos preços do boi magro e do milho. Análises dos dados coletados pelo Cepea mostram que, tradicionalmente, os valores do boi magro se enfraquecem de setembro a fevereiro de cada ano, período em que os animais já foram confinados ou, como no caso de início de ano, ainda não foi tomada a decisão de se confinar.

Tradicionalmente, as cotações do boi magro começam a subir já em março, ganhando força em abril e maio. Entretanto, os elevados valores dos insumos para alimentação neste ano podem limitar a compra de boi magro em algumas regiões e, consequentemente, enfraquecer esse possível novo movimento de alta da reposição. O que pode trazer uma motivação extra para terminadores são os preços futuros do boi gordo na B3, que operavam, em meados de março, de R$ 307 a mais de R$ 320.

No caso do milho, os valores na B3 apontam para os próximos meses saca acima de R$ 80 e perto de R$ 90. Estimativas preliminares da Conab, divulgadas em março, indicam que a segunda safra de milho neste ano pode somar 82,8 milhões de toneladas, 10,3% a mais que em 2019/20. Pesquisadores da Equipe de Grãos do Cepea ressaltam que o dólar elevado deve manter atrativas as exportações brasileiras do cereal, contexto que pode seguir limitando a oferta do milho no mercado spot doméstico.

Simulações realizadas pelo Cepea, levando-se em conta os atuais preços do boi magro, uma diária alimentar equivalente a 16,31 reais/animal e boi gordo futuro em outubro (a R$ 322,55/@), mostram que a rentabilidade de pecuaristas pode ser de 11,79% no período de 90 dias.

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