Jhonata Fernandes
Consultor Técnico Comercial dsm-firmenich – MT
O final das chuvas e o início da estiagem são períodos de transição entre águas e secas. Nessa fase, é possível observar o declínio dos nutrientes e uma mudança visual nas pastagens, que passam de um verde vigoroso para uma tonalidade amarelada, e, em algumas situações, ocorre o pendoamento das plantas. Os produtores precisam estar atentos a essas mudanças, especialmente considerando as flutuações econômicas e ambientais, como os fenômenos El Niño e La Niña. Além disso, é durante esse intervalo que se inicia o preparo para a época mais crítica do ano: a seca. Por isso, é essencial se organizar para essa fase até o início das novas chuvas.
Quando avaliamos o ambiente para os animais, principalmente os ruminantes, é importante observar a fazenda, os retiros e os pastos com mais atenção do que o normal. Esses fatores têm um papel significativo na dinâmica e no desempenho durante o período de transição, juntamente com a alteração na suplementação.
A ambiência animal se refere ao conjunto de condições externas que afetam diretamente e/ou indiretamente os animais, sendo muitas vezes mais influente do que os fatores genéticos.
ÁGUA
É uma fonte crucial para a produtividade, porém, muitas vezes, é negligenciada erroneamente. Com a redução das chuvas, as fontes naturais de água nos pastos tendem a perder qualidade, destacando ainda mais a importância dos bebedouros. É essencial considerar a localização adequada desses bebedouros dentro dos pastos para garantir que os animais possam acessá-los facilmente, o que promove uma ingestão regular de água, um padrão uniforme de pastejo e uma suplementação mineral adequada.
Um bovino pode consumir cerca de dez por cento de seu peso em água, ou aproximadamente quatro litros para cada quilo de matéria seca ingerida. Por exemplo, um animal de quatrocentos e cinquenta quilos necessitaria de aproximadamente quarenta e cinco litros de água. No entanto, vários fatores, como temperatura, umidade e tipo de dieta, podem influenciar essa necessidade hídrica.
A localização estratégica dos bebedouros é fundamental. Os bovinos geralmente pastam dentro de uma faixa de duzentos metros até seiscentos metros do bebedouro. Em pastagens longas, é comum observar super pastejo próximo aos bebedouros e excesso de capim nas áreas mais distantes. É importante considerar que os animais percorrerão uma distância significativa na ida e na volta para o bebedouro, totalizando um grande trajeto diariamente. Por esta razão, recomenda-se que os bebedouros estejam a até quarenta metros dos saleiros, para facilitar o acesso dos animais à água e ao sal.
CAPIM
O desempenho dos animais está diretamente relacionado à disponibilidade e qualidade da forragem. Durante o período de transição, é comum uma queda na sua qualidade, por isso é crucial priorizar a oferta de alimento de acordo com a capacidade de suporte dos pastos. Uma estratégia frequentemente utilizada é a vedação de pastos, reservando se uma área com forragem de melhor qualidade. No entanto, é importante observar que, embora a forragem possa estar em um ponto mais elevado, seu valor nutritivo tende a diminuir. Isso foi destacado por Andrade (2003), ao comparar diferentes alturas de manejo, e por Paulino et al. (2002).
O valor nutritivo do capim pode ser avaliado pelo escore de fezes, uma ferramenta eficaz que, quando utilizada corretamente, é capaz de trazer excelentes resultados. Essa técnica funciona como um termômetro para indicar mudanças na qualidade da alimentação dos animais. Monitorar o escore de fezes é importante tanto para a gestão da fazenda quanto para a equipe de campo, que lida diariamente com os animais. Essa prática permite antecipar ou ajustar a suplementação, evitando perdas de desempenho ou correções tardias.
Com a queda principalmente nos níveis de proteína bruta e o aumento da lignificação do capim, torna se importante incluir fontes de proteína, como ureia ou proteína verdadeira, para melhorar a degradação ruminal da forragem.
Acima, temos uma sequência de imagens com notas que a equipe de campo pode adotar e acompanhar para avaliar o escore de fezes dos animais.
Ao analisar a tabela de escore de fezes, que varia de 1 a 5, o escore 5, caracterizado por fezes rígidas, fibrosas e secas, é típico do período seco. Se não for corrigido, pode levar a uma diminuição no consumo de alimentos pelos animais. No escore 4, já começam a ser evidenciados sinais desse período, com uma redução no consumo animal. Este é o momento ideal para ajustar a suplementação, a fim de normalizar a degradação ruminal.
O escore de fezes 3 indica um ponto ideal, mostrando uma boa digestibilidade do capim. Escores de fezes tipo 2 e 1 não são comuns durante o pastejo; se estiverem presentes, é provável que o animal esteja com algum distúrbio e necessite de tratamento adequado.
COCHO
Outro erro comum ou ponto de atenção é o manejo do cocho, local onde os bovinos se alimentam. Muitas vezes, observa-se que a suplementação é alterada sem considerar a estrutura do cocho. Ao trocar qualquer tipo de suplemento, é importante monitorar o consumo estabelecido. Quanto maior o consumo recomendado, maior deve ser o espaçamento entre os animais.
Em condições ideais, levando-se em conta o tamanho do lote, as categorias de animais e o tamanho do pasto, é importante seguir um padrão de espaçamento de acordo com a suplementação estabelecida. Por exemplo, para o suplemento durante o período de transição entre águas e secas, o cocho pode ser acessado pelos dois lados, mas deve haver espaço suficiente para evitar confrontos frente a frente, com uma largura mínima de 40cm.
NUTRIÇÃO
O ajuste da suplementação durante a transição entre o período chuvoso e a seca é de extrema importância. Embora o valor nutritivo do capim seja menor durante a estação seca, pequenos ajustes na nutrição, ou mesmo iniciando-a antes da seca, podem resultar em ganhos significativos. Infelizmente, muitos produtores só realizam essa troca quando a seca já está estabelecida e o capim está em pior qualidade, perdendo, assim, a oportunidade de obter ganhos mesmo quando o capim ainda está verde.
A transição entre águas e secas é um momento crucial para avaliar o estado corporal dos animais e identificar os desafios que serão enfrentados durante a seca. Em geral, animais de cria em bom estado corpóreo podem manter seu peso com uma suplementação mineral com ureia, como o Fosbovi Seca e/ou Nutrigold 20. Aliados aos bons manejos citados, esses produtos promovem uma melhora na digestibilidade do capim, o que é estrategicamente e financeiramente vantajoso, potencializando o ganho nesse período. No entanto, para animais em fase de recria, em que o desafio é maior em termos de ganho de peso, são necessárias estratégias mais avançadas. Isso pode incluir suplementos como o Foscromo Seca, proteinados de baixo consumo, a exemplo do Proteico 35 com Monensina, ou até mesmo desafios maiores, como o uso do Proteico Energético 25M para novilhas que estão se preparando para a próxima estação de monta. É importante contar com a orientação da equipe de consultores disponíveis da dsm-firmenich para escolher as melhores estratégias.
Em resumo, a transição entre águas e secas é um desafio frequentemente subestimado, mas é um período crucial que pode ser potencializado com manejo e suplementação adequados.