2020 avança e já é marcado por um novo ano de recordes

Thiago Bernardino de Carvalho
Pesquisador de pecuária do Cepea, da ESALQ/USP

Alessandra da Paz
Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea, da ESALQ/USP

O ano de 2020 avança e já vem sendo marcado por um novo período de recordes. As intensas exportações brasileiras de carne atreladas à oferta restrita de boi gordo no pasto, evidenciada por dados oficiais indicando menor número de animais abatidos, mantêm os preços da arroba em alta no mercado nacional.

Essa valorização da arroba, contudo, não indica que o pecuarista está com margens maiores. Isso porque os animais de reposição (bezerro e boi magro) estão sendo negociados igualmente em patamares recordes reais das respectivas séries do Cepea. Além da reposição – que representa mais da metade dos custos de produção de pecuaristas recriadores –, a forte valorização do dólar neste ano elevou os preços de importantes insumos pecuários que são importados. É necessário lembrar, ainda, que insumos de alimentação, como milho e farelo de soja, estão bastante  valorizados.

No caso da indústria, enquanto as exportações aquecidas e o dólar elevado ajudam na receita, os frigoríficos que trabalham apenas no mercado doméstico se deparam com matéria-prima em patamar recorde e demanda por carne bovina um pouco enfraquecida. Isso porque a carcaça casada do boi é negociada a patamares superiores aos verificados em anos recentes, ao passo que a população começa a perder o poder de compra, diante da crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19. Com isso, muitos consumidores têm migrado para proteínas mais baratas, como suínos, frango e ovos.

Em um contexto mais macro, as exportações aquecidas têm movimentado a indústria nacional e ajudado o desempenho de todo o ramo pecuário do Brasil. Cálculos do Cepea, realizados em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), mostram que, de janeiro a maio de 2020, o PIB do ramo pecuário cresceu expressivos 9%, ao passo que o agrícola avançou 2,51%. Diante disso, o PIB do agronegócio nacional aumentou 4,62% nos cinco primeiros meses deste ano.

BOI 
Em agosto, o Indicador do boi gordo CEPEA/B3 registrou média mensal de R$ 228,48, recorde real da série histórica mensal do Cepea, iniciada em 1994 (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI de julho/20). Agora, quando considerada a série diária, o maior preço real foi verificado em 29 de novembro de 2019, de R$ 251,52 (valor corrigido).

BEZERRO
Como resultado do aumento do abate de fêmeas nos últimos dois anos e do crescimento no abate de novilhas, os preços médios mensais do bezerro vêm renovando os recordes reais desde março deste ano. Esse cenário sustentou a rentabilidade do criador, que também se deparou com preços de insumos importados e da alimentação elevados. Em agosto, o preço médio do bezerro nelore (de 8 a 12 meses) comercializado no estado de São Paulo foi de R$ 2.134,88, recorde real da série deste produto, iniciada em 1994.

BOI MAGRO
Os valores do boi magro têm atingido sucessivos recordes reais desde maio deste ano. Em agosto, o valor médio deste animal negociado no estado de São Paulo foi de R$ 3.125,15, conforme levantamento do Cepea.

EXPORTAÇÕES
Em agosto, as exportações brasileiras de carne bovina in natura atingiram 163,22 mil toneladas, queda de 3,56% frente ao mês anterior, mas 29,02% acima do volume de agosto de 2019, segundo dados da Secex. Trata-se, também, de quantidade recorde para um mês de agosto. De janeiro a agosto, os embarques da proteína somam 1,109 milhão de toneladas, 18,8% superiores aos dos oito primeiros meses de 2019 e um recorde para o período. A receita em moeda nacional soma R$ 24,4 bilhões neste ano, 74,94% a mais que a obtida de janeiro a agosto de 2019, ainda de acordo com
a Secex, e também um recorde.

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